Não é fácil fazer um Grandes Cenas do Cinema com o clássico Intriga Internacional (North By Northwest), afinal de contas a obra-prima de Alfred Hitchcock possui uma verdadeira coleção de sequências memoráveis. Aliás, o filme todo parece uma "grande sequência memorável" - com um roteiro excentricamente divertido (e rocambolesco), atores abusando de uma canastrice irresistível e um romance capaz de combinar ingenuidade e malícia em igual medida. No filme em si acompanhamos o publicitário Roger Tornhill (Cary Grant) praticamente em fuga durante mais de duas horas. Ele é confundido com um agente secreto e acaba envolvido em uma trama de espionagem, com tudo piorando quando ele é injustamente acusado de assassinato, tendo de fugir não apenas da polícia, mas também dos capangas que planejam assassiná-lo.
Até chegar a derradeira cena em que Roger e Eve (Eva Marie Saint) empreendem uma espetacular escapada pelo Monte Rushmore, a obra nos diverte e nos deixa tensos com outros tantos momentos inesquecíveis e cheios de ação. Em uma das tantas fugas de Roger, ele é perseguido por um avião que despeja agrotóxicos (sim, acredite, em 1959 isso já existia), em meio a um milharal no meio do nada. Em outra, ele avacalha um leilão, com o objetivo de despistar os criminosos, saindo gloriosamente nos braços da polícia. Há ainda a sequência em que Eve "esconde" Roger no compartimento de bagagens de um trem ("eu quero azeite de oliva se for para me comportar como uma sardinha") e outra em que a dupla forja um assassinato em meio a um restaurante lotado. Sim, vale qualquer estratagema para tentar sair ileso - e fazer com que esse romance meio torto entre a dupla de protagonistas funcione.
Mas a película é uma graça só e a meu ver só funciona porque é muito mais divertida do que tensa! Os personagens são ambíguos, as tiradas do protagonista são impagáveis, a mãe de Roger é uma figura que desconfia das ações do próprio filho (e é curioso como lá pelas tantas ela simplesmente SOME) e Hitchcock ainda utiliza a metáfora de um trem entrando em um túnel, para fazer o espectador entender que, bem, as pessoas foram fazer sexo. Mas é provável que nada se compare a inesquecível sequência no Monte Rushmore, com direito a Eve fugindo de salto alto (que quebra, no meio do caminho) e um Roger desesperado em meio a rostos, narizes e bocas, suas curvas e pedras duras, tentando evitar uma tragédia que se aproxima. Quando ambos estão próximos da queda, o protagonista ainda tem a presença de espírito de fazer uma espécie de "proposta de casamento" em forma de mensagem cifrada, para Eve.
Sim, o filme tem esse charme meio cínico, com Roger estando entre a vida e a morte, mas sempre disposto a tecer algum comentário inesperadamente divertido, capaz de modificar a lógica daquilo que assistimos (como no caso da cena em que ele agradece a polícia por ter vindo lhe prender). Talvez Intriga Internacional não seja o melhor filme do Mestre - foi produzido entre Um Corpo Que Cai (1958) e Psicose (1960) -, mas, por conta de suas tantas sequências inesquecíveis e seu elenco recheado de estrelas - com nomes como Martin Landau e James Mason -, é geralmente lembrado com carinho pelos fãs. Até os créditos iniciais de Saul Bass e a trilha concebida por Bernard Hermann contribuem para que este seja o combo perfeito. A obra-prima é a 40ª melhor da história de acordo com o American Film Institute (AFI). Não é por acaso.
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