sexta-feira, 19 de julho de 2019

Artigo - Uma Inexplicável Febre Chamada Remake

Ontem, enquanto viajava estava zapeando pelo rádio quando fui parar em uma emissora da capital, que discutia ardorosamente sobre o remake de O Rei Leão - que estreou na última quinta-feira. Lá pelas tantas, um dos participantes resumiu a experiência que ele havia tido à meia-noite do dia anterior: "quem gosta d'O Rei Leão original certamente vai gostar desse". Cara. CARA! Quem gosta d'O Rei Leão, de toda a mística por trás dos personagens, seus momentos épicos, as canções inesquecíveis, a história redentora, não poderia simplesmente continuar com o original? Era MESMO necessário investir uma fortuna em recursos apenas para recontar a MESMA HISTÓRIA, mas agora com mais recursos tecnológicos? Sério, eu tenho até dificuldade em compreender esse tipo de mobilização, que faz com que as pessoas ocupem seu tempo para assistir um filme IGUAL ao que já foi feito.

Bom que fique claro que não temos problemas com adaptações de livros e quadrinhos para o universo cinematográfico, mas é necessário repetir TANTAS VEZES as mesmas ideias? Alguém sabe, por exemplo, qual a utilidade de tantos filmes sobre o Homem Aranha? Obras que pretendem "reiniciar" a saga, reimaginá-la, recontá-la, mas que no fim das contas sempre será o filme do mesmo herói de sempre, com seus demônios e que deve enfrentar um vilão no final. Pra quê? E esse é um mal que não assola apenas o universo nerd/geek já que, só pra tomar como exemplo, o filme Nasce Uma Estrela, no ano passado, passou pela sua quarta versão para o cinema. QUARTA! Enquanto isso filmes criativos e originais vão passando batidos pelas salas do País, que abarrotam os seus cinemas com blockbusters em praticamente a sua totalidade.



E para mim essa é a consequência mais drástica desse modus operandi do mercado: basta uma olhada no quadro abaixo, que representa a programação de uma grande rede em um shopping da capital, para que percebamos o quão escassas são as alternativas que não sejam os reboots, remakes, continuações, spin offs e outros que, inclusive, poluem as salas visualmente. Talvez o mais clássico, e que antecipou essa febre da modernidade, tenha partido do diretor Gus Van Sant, ainda em 1998, quando resolveu refilmar o clássico Psicose, do Hitchcock. E o pior: quadro a quadro, para que os jovens dos anos 90, acostumados a doses cavalares de Friends, pogobol e Backstreet Boys pudessem absorver a obra sem ter de encarar o "martírio" do preto e branco. Num comparativo, é como se algum livro clássico, digamos um O Som e a Fúria, de Faulkner, fosse reescrito para a modernidade, com um linguajar mais simples, sem fluxo de consciência, com tudo ordenadinho. As mesmas ideias. Nunca o mesmo livro.

Sim, já podem começar a me chamar de chato, mas eu definitivamente não me empolgo com o mais recente filme do Universo Marvel - aliás, quem acompanha o Picanha sabe que dificilmente falamos de algum blockbuster. E temos a consciência de que a nossa "gordurinha a mais" é falar do Green Book, do A Forma da Água e do Spotlight ou mesmo daquele filme islandês da Netflix que é muito original, mas que pouca gente anda assistindo. Sim, sabemos que, por conta disso, não ultrapassaremos muito mais do que a média de 70 a 80 visitantes por dia. Mas, assim o nosso espacinho aqui fica sendo mais ou menos como um local de resistência à repetição, a mesmice, a redundância. Por fim, a gente sabe que esse é um caminho sem volta e, certamente se não houvesse bilheteria, se não houvesse gente excitadíssima pra ver o Simba parecendo um LEÃO EMPALHADO talvez o mercado não fosse assim. Enquanto isso não muda, sigo aguardando a estreia de Rocketman aqui no cinema local. Mas deitado, porque sentado certamente eu vou cansar.


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