sexta-feira, 23 de março de 2018

Tesouros Cinéfilos - Fargo: Uma Comédia de Erros (Fargo)

De: Joel Coen e Ethan Coen. Com Frances McDormand, William H. Macy, Steve Buscemi e Peter Stormare. Comédia dramática / Suspense, EUA, 1996, 98 minutos.

Uma das leis mais famosas do mundo, a de Murphy, já dizia que "se alguma coisa tem a remota chance de dar errado, certamente dará, no pior momento, e de forma que cause o maior dano possível". De alguma forma, pode-se dizer que a sentença resume de maneira exemplar os eventos que assistimos no inacreditável Fargo: Uma Comédia de Erros (Fargo), até hoje um dos filmes mais queridos dos Irmãos Coen. A trama se passa em 1987, na cidade de mesmo nome e nos apresenta a um sujeito endividado de nome Jerry Lundegaard (William H. Macy), um gerente de uma revendedora de automóveis que resolve contratar dois sujeitos (Peter Stormare e Steve Buscemi) para forjar o sequestro de sua esposa (Kristin Rudrud). A intenção é fazer com que o sogro ricaço pague o resgate - os US$ 80 mil que serão divididos em duas metades, uma para os meliantes outra para que Jerry possa pagar as suas contas.

Não é preciso ser nenhum adivinho para supor que as coisas sairão completamente do controle. Furiosos e estabanados na mesma medida, os sequestradores até obtêm sucesso após invadir a casa de Jerry para levar a esposa a tiracolo - numa das tantas sequências hilárias da película. Mas um encontro fortuito com um policial, no meio do caminho, resultará em três mortes. A stuação piorará após entrar em cena a policial grávida (!) Marge Gunderson (Frances McDormand, em papel que lhe deu o Oscar). Marge é a encarregada de investigar os eventos que ocorrem na pequena cidade do interior da Dakota do Sul, o que faz sem pressa, entre uma refeição e outra ao lado do marido. Ao mesmo tempo, Jerry se esforça para fazer com que o sogro atenda as exigências dos criminosos que só aceitam negociar diretamente com ele.



Em resumo é um filme em que nada sairá como o planejado. E, ainda que seja uma obra extremamente violenta e gelada - dado o cenário invernal em que a trama se passa -, os Irmãos Coen ocupam-se de "aquecer" o filme com um sem fim de cenas involuntariamente divertidas. Como não sorrir ao ver a dupla de sequestradores discutindo sobre se sairão para comer panquecas antes de cometer o crime? Ou mesmo ver Carl (Buscemi) argumentando com o empregado de um estacionamento sobre não precisar pagar a taxa de uso por ter entrado e já ter, imediatamente, saído do local? Ao introduzir esse tipo de humor prosaico, meio nonsense e absurdamente sarcástico, a dupla de realizadores sai do noir convencional (se é que assim ele pode ser chamado) e do filme de gângster sisudo para tornar esta uma peça inescrupulosamente excêntrica.

Com personagens secundários divertidos - o solteirão com problemas psiquiátricos que tenta chamar Marge para sair, as duas prostitutas com as quais os sequestradores se envolvem - o filme, cheio de trejeitos e sotaqus caipiras, ainda tem uma das sequências finais mais improváveis da história do cinema, [SPOILER ALERT] com Gaear (Stormare) tentando "sumir" com o corpo de Carl, pulverizando-o em uma máquina trituradora. Um final a altura para uma obra que faturou também o Oscar de roteiro original e que pavimentou o caminho para que a dupla de realizadores fizesse outras tantas obras-primas como O Grande Lebowski (1998), E aí Meu Irmão, Cadê Você? (2000) e Onde os Fracos Não Tem Vez (2007).

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