Lembro com carinho quando, em meados dos anos 90, ficávamos vidrados assistindo à MTV esperando o clipe de nossas bandas favoritas - isso muito antes de o Youtube existir. Como não lembrar do reverendo Fábio Massari e seu programa Lado B, que viria a me apresentar muitas bandas que ainda hoje me inspiram a consumir e fazer música? Como esquecer da primeira vez que vi o clipe de Taillights Fade, do Buffalo Tom, com toda a sua energia e emoção? E da experiência que o trio de Boston me proporcionou com a beleza da balada Wiser? Que dificuldade que era para obter os discos sem ter que recorrer aos altos valores de importação ou achar o mesmo em uma cesta esquecida e ignorada por muitos - um tesouro ali escondido.
All Be Gone inicia o álbum com um rock direto e empolgante, uma estrutura familiar aos fãs da banda, com o vocal de Janovitz emulando (embora de forma não intencional, creio eu) um Bob Mould (ex Husker Dü) em sua carreira solo e uma letra agridoce que valoriza a vida ao pensar na morte - um tema comum à obra e a todos aqueles que já viveram por um bom tempo nesse planeta. Overtime é daquelas canções atemporais e lindas que parecem passar tão rápido que nos fazem querer não sair mais de lá. Roman Cars traz o baixista Chris Colbourn nos vocais, sempre mais doces, o que torna possível a comparação com Teenage Fanclub. CatVMouse e a balada See High the Hemlock Grows também trazem os vocais do baixista com a habitual delicadeza - principalmente nesta última. Freckles é Buffalo Tom na sua melhor forma, canção que vai crescendo até seu clímax bastante intenso, lembrando clássicos do grupo como Mineral e Larry. Janovitz mostra não ter perdido a energia com Lonely Fast and Deep, um rockão direto e acelerado, e inclusive naquelas com andamento mais lento, caso das belas In the Ice e Least That We Can Do. Para fechar temos a melancólica Slow Down, com sua letra edificante, e a cover Only Living Boy in New York (de Simon & Garfunkel) que mantém a pegada acústica da original.
Um presente para os nostálgicos, um acalanto para as novas gerações que vem testemunhando uma crescente de ódio e intolerância, Quiet and Peace é uma obra que nos entrega um lugar familiar ao qual sempre poderemos retornar - empolgante e reconfortante na medida certa, agridoce como só o passar do tempo e a experiência é capaz de nos tornar. Amadurecer sem perder a ternura jamais, em uma caminhada onde não estamos sós, é o que torna a arte e obras como essa tão essenciais.
Nota: 8,5
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