sexta-feira, 9 de março de 2018

Disco da Semana - Rubel (Casas)

Em sua curta carreira o cantor Rubel já possui pelo menos um clássico moderno. A música Quando Bate Aquela Saudade é daquelas que será lembrada daqui a quarenta anos, nas rodas de discussões culturais nostálgicas. "Aquele guri fez uma canção linda e romântica em 2015", dirá um. "Era uma mistura de 'quero ser Leste Europeu com MPB alternativa'" dirá outro. E assim todos voltarão para suas casas onde plataformas holográficas mostrarão o artista de "carne e osso" cantando aqueles versos que tanto emocionaram, especialmente em uma época de transformações como a que vivemos. Ainda não sabemos que rumo que tomará a vida do carioca, mas o que sabemos é que  o seu novo disco, Casas, chega para, novamente, aconchegar o ouvinte em seu universo delicado e de grande sensibilidade, como se fosse permitido a MPB (e as suas variações) ser uma música permanentemente leve, suave, discreta.

Não há em Casas uma canção que se sobressaia como no caso da já citada Quando Bate Aquela Saudade - que integrava Pearl, o seu disco de estreia. Mas há grandes canções, com letras mais robustas e melodias ricas (e experimentais), que formam um conjunto tão homogêneo que às vezes nem percebemos onde está a separação que leva de uma para outra música. O carioca parece estar mais maduro na forma de compor, ainda que o texto de apresentação em sua página do Facebook ainda mantenha aquele clima juvenil, como se o artista fosse um adolescente ávido por mostrar aquilo que fez com tanta dedicação, para o maior número de pessoas - quero retribuir o amor e o carinho que tenho recebido com mais música [...] me reunir com amigos do peito e fazer a mágica acontecer, ressalta, reforçando a intenção de continuar contanto histórias, impulsionando amores, entregas, bads e amizades.



Por mais maduro leia-se também mais abstrato. Enquanto Pearl parecia ir mais direto ao ponto em seus versos e naquilo que queria expressar - Rubel morava nos Estados Unidos quando o compôs -, o novo registro deixa para o ouvinte as interpretações, que podem ser múltiplas. Por exemplo, a abertura com Colégio - após uma pequena introdução - é nostálgica no que diz respeito ao período escolar, as dúvidas, os anseios, as incertezas. Um dia vocês me agradecem / Com os dois pés juntos / A gente prepara pro mundo / E o mundo não vai te poupar narra o eu lírico sobre uma batida eletrônica e econômica (que cresce no final). São momentos de beleza que se repetem logo em seguida, na graciosa Cachorro - que também aposta em versos sobre memórias e desejos - e na bela Pinguim, que tem letra verborrágica recheada de referências culturais (jedis, Jorge Ben, Snoop Dog) e um instrumental que lembra os momentos mais grandiosos dos Los Hermanos.

Aliás, por mais que flerte, aqui e ali, com o folk que marcou o primeiro registro, fica clara a intenção do artista em apostar também em outras vertentes musicais, não sendo difícil perceber o diálogo com estilos como samba (Casquinha), salsa (Sapato) e hip hop (Chiste) - esta última, gravada em parceria com o rapper Rincón Sapiência, um dos primeiros singles e um dos grandes momentos do trabalho. Já Partilhar, disparada a melhor do trabalho, é daquelas que gruda de tal maneira na memória que, já na primeira audição, ficamos cantarolando em loop o sinuoso refrão - Eu quero partilhar, eu quero partilhar / A vida boa com você. É apostando nesse tipo de verso de grande potencial sentimental (ainda que espalhado de forma comedida, lenta) e nas melodias coesas (tecidas por imponentes orquestrações), que Rubel parece pronto pra alcançar um público ainda maior. Aquele mesmo público que já busca no universo bastante particular do artista um diálogo com a sua própria história.

Nota: 8,8


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