Não poderia haver ideia melhor para um filme do que aquela apresentada em Pequena Grande Vida (Downsizing). Pena que ela é tão mal aproveitada. Os recursos naturais estão ficando cada vez mais escassos, ao passo que o custo de vida se eleva e a população (e a poluição) só aumentam. Diante de um cenário que se desenha catastrófico, pesquisadores desenvolvem um novo "sistema", capaz de reduzir as pessoas para um tamanho de cerca de 13 centímetros, sem grandes efeitos colaterais e de maneira irreversível. O que significará menos consumo, menos produção de lixo e, consequentemente, dinheiro valendo muito mais. Após um período de testes a ideia é apresentada em um congresso de ciências, onde também é mostrada a primeira população que vive em uma comunidade em miniatura, no interior da Noruega - como se fossem hippies que se utilizaram das "pastilhas de nanicolina".
Sim, a ideia é muito original e, confesso, quando assistimos ao trailer ficamos genuinamente empolgados. Só que a película, ainda que protagonizada pelos simpáticos atores Matt Damon e Kristen Wiig, é dirigida por Alexander Payne. E isso não significa que eu não goste do diretor - ele tem filmes ótimos, como Sideways - Entre Umas e Outras (2004) e Nebraska (2013). Só que ao apostar em uma abordagem mais leve (e menos existencialista ou filosófica sobre o fato de diminuir de tamanho e as implicações que isso poderia gerar em nossa consciência), Payne acaba fazendo apenas uma comédia meia-boca em que o protagonista Paul (Damon) busca a felicidade em seu novo mundo, deixando para trás a esposa Audrey (Wiig) - que desiste de adotar o procedimento -, amigos, parentes e tudo o mais do mundo dos grandes. Aliás, mundo este que nunca mais aparecerá em sua vida - salvo a sequência divertidinha em que Paul assina um enorme papel de divórcio.
Fico imaginando a quantidade de implicações éticas que um diretor do porte de um Terrence Mallick (A Árvore da Vida, 2011) na melhor fase não traria para a obra. O sem fim de reflexões sobre ter diminuído de tamanho, com direito a arrependimentos, sentimentos de perda, impossibilidade de voltar atrás. Mas não. Após se "separar" (a impressão que dá é de que Wiig tinha contrato só pra aparecer em meia hora do filme, o que é uma pena), Paul conhece o seu excêntrico e barulhento vizinho de cima (Waltz, que em breve terá a sua foto ao lado de "excêntrico", no dicionário). Além dele entrará em cena a refugiada faxineira vietnamita Ngoc Lan Tran (Hong Chau), que representará uma outra etapa da existência de Paul em seu fantasioso novo universo - o de tentar achar uma nova parceria amorosa. Aliás, inexplicavelmente, a película (quase) vira um romance brega no terço final.
Pra não dizer que não há acertos, aqui e ali há uma ou outra boa piada (ou comentário) sobre a situação. A cena em que Wiig aparece com a cabeça e apenas uma sobrancelha raspada é ótima. Assim como os pré-requisitos para que a população possa ser encolhida. O mesmo vale para o mundo em miniatura (que, propositalmente, parece uma maquete de Feira de Ciências). Há participações especialíssimas, como as de Neil Patrick Harris e Laura Dern - e Jason Sudeikis faz um papel secundário interessante. Mas, infelizmente, não foi suficiente para segurar a obra que prometia e merecia bem mais. Antes de ser lançado, o filme chegou a ser cotado nas bolsas de apostas para figurar entre os indicados ao Oscar desse ano. Mas o problema é que as pessoas começaram a assisti-lo. E a perceber que, assim como seus protagonistas, a expectativa também diminui.
Nota: 4,5
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