Em entrevista para a imprensa especializada no começo do mês de setembro, Vernon comentou que se sentia andando "em círculos" e que fazer um novo álbum no estilo dos anteriores poderia ser algo chato. "Sim, estar triste pode ser algo bom e eu estava utilizando aquele material para me curar", revelou. "E mesmo que este novo trabalho tenha elementos obscuros eu me sinto muito mais 'gritando 'do que 'sussurrando'", analisou. Na mesma entrevista, o artista disse que fez uma curiosa viagem para as ilhas gregas fora da temporada, o que lhe deixou muito mal. "Estava tentando me encontrar, mas me senti esquisito, pobre. E ainda havia uma voz na minha cabeça, que dizia 'this feeling might be over soon (esse sentimento logo vai passar)'" que, não por acaso, se tornou a frase inaugural do registro, presente na canção 22 (OVER S∞∞N).
Este sentimento particular de busca, somado ainda ao contato com artistas como Francis and the Lights, James Blake, Volcano Choir e Kanye West, fosse para parcerias ou colaborações, representou um claro enriquecimento no repertório de Vernon que, longe de parecer estagnado ou acomodado em um mesmo ambiente musical, se mostrou um artista em constante movimento. Não é por acaso que canções 10 d E A T h b R E a s T ⊠ ⊠ e 715 - CRΣΣKS com seu clima perturbador e vocais cheios de efeito, mais parecem fruto de um curioso encontro entre o Bon Iver com o Radiohead fase Kid A - e não poderia haver melhor elogio para definir o novo trabalho de Vernon, em que há uma clara ruptura da lógica, uma quebra incômoda na musicalidade, do que compará-lo com o fundamental disco de Thom Yorke e companhia, lançado há exatos 16 anos, em outubro de 2000.
Nesse sentido, talvez não seja tão fácil encontrar beleza, ao menos de saída, no novo registro, que certamente exigirá do ouvinte muito mais do que meia dúzia de audições. (a boa notícia é que são apenas 10 músicas e pouco mais de 35 minutos) E se 33 “GOD” mais parece Bon Iver das antigas, sendo possível (quase) encontrar uma musicalidade a moda de Holocene ou Perth, em que até ocorre um flerte com o refrão, não são necessárias nem mais duas músicas para que retornemos as orquestrações minimalistas, as curvas altamente enigmáticas e ao conjunto propositalmente "bagunçado" que pontua todo o trabalho. E se você está achando estranho o nome das canções - 666 ʇ, 21 M♢♢N WATER - é preciso que se diga que, assim como no caso da capa, de grande riqueza gráfica, a adoção desses elementos também integra o conceito do disco.
Para quem nunca escutou Bon Iver, o contato direto com 22, A Million pode representar um certo "choque", ainda que não haja uma completa fuga das emanações etéreas tão tradicionais nos registros anteriores - e que aqui aparecem transformadas em um instrumental muito mais eletrônico do que folk. (ainda que, por exemplo, músicas como 00000 Million talvez não fizessem feio em um álbum um pouco menos previsível de um Fleet Foxes ou mesmo de um Mumford and Sons). Agora, se você está habituado aos sons desafiadores, não se importa com a quebra de paradigma no que diz respeito a dupla estrofe/refrão e procura artistas que gostam de se reinventar, que possam oxigenar as suas audições e que tenham em certa complexidade de execução a sua força criativa, bom, bem-vindo a um dos melhores discos do ano.
Nota: 8,8
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