O cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn vem se firmando como um diretor de estilo bastante peculiar desde seu sucesso internacional com o já clássico Drive, de 2011. Câmera lenta, fotografia belíssima, trilha sintetizada, atuações etéreas, violência onipresente, clima sufocante - tudo faz parte do cardápio fornecido pelo realizador que vem sendo cultuado por uns, odiado por outros. E a julgar pelo seu filme anterior, Só Deus Perdoa, de 2013, Refn não quer aproveitar a fama recente para facilitar a vida do espectador em suas obras, o que talvez explique as sucessivas vaias no Festival de Cannes (onde o mesmo ganhou o prêmio de melhor diretor por Drive) para seus dois últimos filmes, incluindo esta sua mais recente obra, Demônio de Neon (The Neon Demon). Se antes o diretor dinamarquês havia se aventurado pelo submundo das lutas e drogas tailandês, aqui é o mundo da moda norte-americano que é retratado - o que, diga-se de passagem, casa muito bem com a frieza e estilização com que o diretor adora temperar suas obras.
Jesse (Faning) é uma jovem aspirante a modelo que chega a Los Angeles para tentar a sorte na nova profissão, sendo invejada pela sua beleza, juventude e vitalidade por outras "colegas" de profissão. Se num primeiro momento vemos a personagem principal como um poço de inocência, logo podemos imaginar que sua vida a partir daí não será nada fácil, ao ser forçada a conviver em um ambiente onde a competitividade e a inveja podem alcançar níveis inimagináveis, sentimentos estes retratados metaforicamente de forma bastante contundente e cruel. Além disso, Jesse passa seus dias em um quarto de hotel decadente gerenciado pelo mau caráter Hank (interpretado por Keanu Reeves, que parece se divertir bastante com o papel), intensificando ainda mais o clima de horror que passará a fazer parte de seu cotidiano.
Exercício estilístico, filme de gênero, homenagem aos cineastas favoritos de seu diretor (há um quê de Kubrick e David Lynch aqui), tudo isso pode ser relacionado a Demônio Neon, e o mesmo sai-se bem nestes quesitos. Se falta profundidade no enredo, sobram imagens marcantes e cenas perturbadoras. Uma, em especial, não lembro de ter visto antes na telona, e certamente vai marcar a vida de cinéfilo de quem assistir. Para quem é fã do cinema de Refn, certamente será uma boa pedida - muito embora seu cinema autoral já comece a demonstrar algum sinal de cansaço, sem o mesmo arrebatamento das obras anteriores. Não é a toa que grande parte da crítica mundial tem tratado de execrar o criador, alegando uma certa auto-indulgência pós vitória em Cannes. Particularmente, não achamos que é para tanto. Embora longe de ser uma obra-prima, Demônio Neon é uma experiência interessante de ser apreciada por quem simplesmente curte cinema.
Nota: 7,2.
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