quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Cinema - Demônio de Neon (The Neon Demon)

De: Nicolas Winding Refn. Com: Elle Faning, Christina Hendricks, Karl Glusman e Keanu Reeves. Terror, França/Dinamarca/Estados Unidos, 2016, 118 minutos.

O cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn vem se firmando como um diretor de estilo bastante peculiar desde seu sucesso internacional com o já clássico Drive, de 2011. Câmera lenta, fotografia belíssima, trilha sintetizada, atuações etéreas, violência onipresente, clima sufocante - tudo faz parte do cardápio fornecido pelo realizador que vem sendo cultuado por uns, odiado por outros. E a julgar pelo seu filme anterior, Só Deus Perdoa, de 2013, Refn não quer aproveitar a fama recente para facilitar a vida do espectador em suas obras, o que talvez explique as sucessivas vaias no Festival de Cannes (onde o mesmo ganhou o prêmio de melhor diretor por Drive) para seus dois últimos filmes, incluindo esta sua mais recente obra, Demônio de Neon (The Neon Demon). Se antes o diretor dinamarquês havia se aventurado pelo submundo das lutas e drogas tailandês, aqui é o mundo da moda norte-americano que é retratado - o que, diga-se de passagem, casa muito bem com a frieza e estilização com que o diretor adora temperar suas obras.

Jesse (Faning) é uma jovem aspirante a modelo que chega a Los Angeles para tentar a sorte na nova profissão, sendo invejada pela sua beleza, juventude e vitalidade por outras "colegas" de profissão. Se num primeiro momento vemos a personagem principal como um poço de inocência, logo podemos imaginar que sua vida a partir daí não será nada fácil, ao ser forçada a conviver em um ambiente onde a competitividade e a inveja podem alcançar níveis inimagináveis, sentimentos estes retratados metaforicamente de forma bastante contundente e cruel. Além disso, Jesse passa seus dias em um quarto de hotel decadente gerenciado pelo mau caráter Hank (interpretado por Keanu Reeves, que parece se divertir bastante com o papel), intensificando ainda mais o clima de horror que passará a fazer parte de seu cotidiano.


Até então nada de novo, tramas assim são bastante comuns no cinema. No entanto, a grande diferença de Demônio de Neon para os demais está no toque de seu realizador: se o elenco não entrega atuações marcantes (à exceção de Faning que, com sua beleza e inocência, serve perfeitamente para o papel) e o roteiro parece um tanto vazio, é justamente o clima de terror que perpassa a obra o seu ponto forte. Se a trilha sonora contribui para a criação da ambiência, a lindíssima fotografia serve para acentuar ainda mais os momentos mais chocantes, que lembram o gore em algums momentos. Tudo aqui é extremamente gélido, principalmente as relações interpessoais, algo muito representativo de um meio onde pessoas são avaliadas apenas por seus corpos, referenciados pelas faces sem expressão daquelas que, recheadas de botox, passam a invejar a "beleza natural" de Jesse. E é sintomático que no momento em que o jovem fotógrafo Dean (Glusman) busca se aproximar e demonstrar algum afeto pela personagem de Faning, este é logo afastado pela moça.

Exercício estilístico, filme de gênero, homenagem aos cineastas favoritos de seu diretor (há um quê de Kubrick e David Lynch aqui), tudo isso pode ser relacionado a Demônio Neon, e o mesmo sai-se bem nestes quesitos. Se falta profundidade no enredo, sobram imagens marcantes e cenas perturbadoras. Uma, em especial, não lembro de ter visto antes na telona, e certamente vai marcar a vida de cinéfilo de quem assistir. Para quem é fã do cinema de Refn, certamente será uma boa pedida - muito embora seu cinema autoral já comece a demonstrar algum sinal de cansaço, sem o mesmo arrebatamento das obras anteriores. Não é a toa que grande parte da crítica mundial tem tratado de execrar o criador, alegando uma certa auto-indulgência pós vitória em Cannes. Particularmente, não achamos que é para tanto. Embora longe de ser uma obra-prima, Demônio Neon é uma experiência interessante de ser apreciada por quem simplesmente curte cinema.

Nota: 7,2.


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