quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Grandes Cenas do Cinema - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall)

Filme: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
Cena: Sujeito pedante encontra o escritor Marshall McLuhan

Quando lançou Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall), em 1977, Woody Allen ainda representava uma refrescante novidade do cinema alternativo americano. Com apenas meia dúzia de filmes produzidos até aquele momento, o nova-iorquino, que vinha da escola das comédias de palco ao estilo stand up (hoje tão saturadas) adotava um estilo de humor muito mais escrachado e visual e que bebia da fonte de outros contemporâneos, caso do grupo britânico Monty Python. Não à toa, um olhar atento a obras como a deliciosa comédia A Última Noite de Boris Grushenko (1975) permitirá encontrar semelhanças na graça feita a moda das esquetes extravagantes que, de tão bobas, se tornam hilárias.



Foi com Noivo Neurótico... que o padrão mudou. Entrou em cena o protagonista excêntrico e neurótico (com o perdão da redundância), muitas vezes interpretado pelo próprio diretor. Um sujeito preocupado com temas como o medo da morte, preconceito judaico, conservadorismo exacerbado e inseguranças no que diz respeito a relacionamentos amorosos - e sobre sexo, claro. E, ainda, cheios de divagações sobre a condição humana, bem como os anseios, medos e angústias de um mundo em constante mudança. Sim, Allen viria a encarnar dezenas de vezes esse homem moderno, eventualmente cosmopolita e invariavelmente culto, que aproveitaria cada obra para despejar não apenas as suas frustrações e constrangimentos, mas também uma boa dose de cultura pop, subversão da linguagem cinematográfica (com as famosas quebras da chamada quarta parede) e roteiros absolutamente engenhosos, com diálogos idem.

A obra, que trata das idas e vinda do protagonista, um cínico comediante de nome Alvy Singer (Allen), com a cantora de casas noturnas Annie Hall (Diane Keaton) é um divertido e melancólico estudo sobre o fracasso nos relacionamentos, com ênfase nas inseguranças de um casal que podem fazer com que a tão sonhada vida a dois naufrague. São muitas as sequências hilárias - como esquecer o momento em que a dupla tenta cozinhar lagostas (vivas!) em uma casa de praia, sem muito sucesso? Mas certamente nenhuma cena é tão impagável como aquela em que o filósofo e teórico da comunicação Marshall McLuhan em pessoa aparece. Em uma fila de cinema, Singer se irrita com um sujeito presunçoso que dá uma aulinha particular (e rasa) sobre aquilo que entendeu dos ensinamentos de McLuhann criticando fortemente o seu trabalho. Para resolver a "questão" Woody promove um inesperado encontro entre ambos numa das melhores sequências da história em filmes do diretor. Quem não viu o filme pode conferir o vídeo pois ele não tem nenhum spoiler. E ainda dá conta do estilo absolutamente corrosivo de Allen, ainda em início de carreira!

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