quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Especiais Oscar: 10 Grandes Injustiças na Escolha do Melhor Filme

Existe uma verdadeira ideia fixa, quase uma obsessão, que tem rondado a mente dos cinéfilos de plantão, nesses dias que antecedem a escolha dos grandes vencedores da principal premiação do cinema - o Oscar é no dia 28 de fevereiro: será que dessa vez o Leonardo DiCaprio ganha? Quem já viu o filme O Regresso (The Revenant) - nós do Picanha ainda não assistimos e a estreia é amanhã (04/02) - garante que a sua entrega ao papel é arrebatadora e, consequentemente, merecedora da distinção. Mas vem cá, o nosso querido Leo não deveria já ter ganho o Oscar? Seus papeis em Django Livre (2012) e O Lobo de Wall Street (2013), não seriam dignos da premiação? Houve injustiça? Bom, esse debate certamente rende horas de conversa.

Inspirado por este fato, resolvemos ir atrás de outras "injustiças" da premiação, nos indagando sobre quais teriam sido as maiores equívocos - na falta de outra palavra - na hora de escolher os vencedores da categoria principal. O resultado você confere abaixo, no nosso segundo post dos Especiais Oscar, com 10 Grandes Injustiças na Escolha do Melhor Filme.


#1 Cidadão Kane perde para Como Era Verde o Meu Vale


 Não é que o filme de John Ford seja ruim. Muito pelo contrário, é um simpático drama em tom de fábula melancólica sobre a vida de um grupo de mineradores em uma cidadezinha do interior do País de Gales. Mas o caso é que Cidadão Kane, de Orson Welles, com sua história potente sobre o magnata das telecomunicações Charles Foster Kane, aliada as suas inovações técnicas, complexidade narrativa, flashbacks e diferentes perspectivas, é simplesmente o melhor filme de todos os tempos - sendo bicampeão nas listas especiais do American Film Institute (AFI). Só a Academia não percebeu o potencial da película - que é exibida até em hoje em cursos de Cinema - concedendo a ela apenas um prêmio: o de Melhor Roteiro no Oscar de 1942.


#2 Apocalypse Now é preterido por Kramer Vs. Kramer


Hoje se sabe que as filmagens desse clássico sobre os horrores - especialmente os psicológicos - da Guerra do Vietnã foram cheias de problemas, com Marlon Brando aparecendo 40 quilos mais gordo do que o previsto para a produção e Martin Sheen (que vive o capitão Willard) quase morrendo de infarto logo no começo das gravações. Fora o tempo para conclusão da obra, de quase dois anos - o que acabou contribuindo para que se formasse um curioso paradoxo entre arte e realidade, na abordagem da loucura de um conflito. É claro que isso não seria suficiente para uma conquista do Oscar, mas é que a película é um filmaço cheio de frases e sequências clássicas! O Oscar de Melhor Filme em 1980? Ficou para Kramer Vs. Kramer, que, hoje em dia, pouca gente lembra da existência.


#3 Rocky: Um Lutador supera Taxi Driver


Olhando para trás, hoje em dia, até parece uma piada de mau gosto da Academia a premiação para o filme protagonizado por Sylvester Stallone em detrimento a uma obra tão marcante como foi Taxi Driver. Não é só pela famosa e icônica frase "are you talking to me?" até hoje imitada e parodiada mundo afora. Robert De Niro literalmente leva esse filmaço de Martin Scorsese nas costas, interpretando o motorista de táxi do título, veterano da Guerra do Vietnã, que fica de saco cheio em relação ao mundo de miséria, violência e prostituição que o rodeia, nas madrugadas de trabalho. Sobre a obra vencedora? Para os votantes de 1977 pareciam mais impactantes as sequências de luta em um daqueles filmes edificantes da Sessão da Tarde.


#4 E os maiores clássicos de Hitchcock, onde estão?


O problema com Alfred Hitchcock não foi nem o fato de ter perdido a estatueta na grande noite do cinema, com inesquecíveis obras-primas, como Um Corpo Que Cai (1958) ou Janela Indiscreta (1954). Foi, em muitos casos, a circunstância de sequer ter sido nominado. Peguemos como exemplo o clássico Psicose, tido pelo AFI como o 14º Melhor Filme da História em sua conhecida lista de 10º aniversário, lançada em 2007. O vencedor no Oscar de 1961? O inegavelmente saboroso Se Meu Apartamento Falasse, de Billy Wilder. Mas bem que o clássico do Mestre do Suspense poderia ter pego alguma das outras vagas, ocupadas por filmes hoje pouco lembrados como Peregrinos da Esperança e Entre Deus e O Pecado. Não pegou, em uma das maiores pisadas de bola da história.


#5 Operação França leva a melhor sobre Laranja Mecânica


O caso com o clássico de Stanley Kubrick é ainda mais dramático do que o de outros que figuram nessa lista. Além de perder a principal estatueta da noite para Operação França, de William Friedkin, ainda saiu da premiação de mãos abanando, sendo derrotado também em outras categorias, como Diretor, Roteiro Adaptado e Edição. Operação França até não é um mau filme - é correto, bem feito e trem a famosíssima cena da perseguição sob a ponte. Mas, ainda assim, não tem nem a metade da potência e da riqueza de significados da história narrada por Kubrick, sobre um grupo de sociopatas que incluem em suas práticas as agressões físicas, o estupro e a ultraviolência, em uma obra acachapante sobre a alienação humana.


#6 2001 - Uma Odisseia no Espaço é ignorado pelos acadêmicos


Assim como Hitchcock, Stanley Kubrick parecia enfrentar sérios problemas com a Academia - como comprova a esnobada fenomenal ao inesquecível 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968), que no Oscar de 1969 sequer figurou entre os finalistas. E isso tudo em um ano que, vamos combinar, foi pra lá de fraco - o vencedor foi Oliver! de Carol Reed, seguido de perto pelos insignificantes O Leão do Inverno e Rachel, Rachel. Hoje, a pretensiosa e enigmática aventura sobre a relação homem-máquina, com enredo complexo e hermético encontrou sua redenção, em listas como as do AFI - é o 15º Melhor Filme da História e em livros como 1001 Filme Para Ver Antes de Morrer - publicação que, Oliver!, ironicamente, sequer aparece.


#7 E O Luzes da Cidade? 


O título de gênio que Charlie Chaplin carrega hoje em dia parecia não fazer parte da lógica dos integrantes da Academia. Luzes da Cidade (1931) talvez seja o mais singelo, delicado e saboroso filme sobre desventuras amorosas que se tem notícia - e segue sendo assim até hoje, podem confiar. Mas no Oscar de 1932, nada do vagabundo mais conhecido do mundo entre os nominados. O vencedor foi o clássico Grande Hotel, de Edmund Goulding. Entre os SETE - acredite - demais indicados, nada do ótimo Luzes da Cidade. O filme, assim como outros de Carlitos, era mudo - que, em uma época de inovações tecnológicas era considerado certo anacronismo (com o som em vigor desde 1927). O que explica a esnobada do clássico, que é o 11º na lista da AFI.


#8 Touro Indomável perde para Gente Como a Gente: 


Vou confessar a vocês o fato de nunca ter assistido Gente Como a Gente - e não quero cometer nenhuma injustiça nessa lista, vamos combinar. Mas penso ser praticamente impossível crer que o filme de Robert Redford - sua estreia em direções, por sinal - seja melhor do que esse clássico de Scorsese, baseado em fatos reais, que mostra a ascensão e queda do boxeador Jake LaMotta (Robert De Niro, em um de seus grandes papeis), que com seu temperamento violento, possessivo e autodestrutivo, vê sua vida pessoal e carreira se esfacelarem. Um filmaço, que hoje ocupa o quarto lugar na lista do AFI - e se eu cometi injustiça com o Gente Como a Gente, me digam, por favor! Como curiosidade extra: O Iluminado, de Kubrick, não apenas não foi indicado a Melhor Filme, em 1981, como ainda foi nominado, pasme, para o Framboesa de Ouro.


#9 Crash - No Limite é melhor do que O Segredo de Brokeback Mountain?  


A Academia, todos nós sabemos, é famosa pelo conservadorismo - os votantes são compostos, em sua maioria, por homens brancos, com idade média de 63 anos. Ainda assim, o circo estava armado para que, em 2006, houvesse uma salutar quebra de paradigma, com a provável vitória do filme de Ang Lee, que trata sobre uma dupla de caubois que inicia um relacionamento amoroso durante uma temporada de verão em que trabalham juntos pastoreando ovelhas. Mas na hora de anunciar o grande ganhador da noite, o prêmio foi parar nas mãos do ótimo Crash - No Limite, do diretor Paul Haggis, que pouco aparecia como provável vencedor nas bolsas de apostas pré-Oscar. Há quem diga que esta foi a última grande injustiça na categoria Melhor Filme.


#10 Uma inexplicável esnobada em Cantando na Chuva: 



Cantando na Chuva não é apenas o melhor musical já feito em Hollywood. É também uma das mais divertidas, carismáticas, inteligentes e inesquecíveis comédias já feitas para o cinema. Como então explicar o fato de que a Academia resolveu indicar o clássico de Stanley Donen em apenas duas categorias - Atriz Coadjuvante e Música? A ausência na principal categoria da noite - e isso numa época em que os musicais estavam em alta - representou caminho aberto para o megalomaníaco O Maior Espetáculo da Terra - de Cecil B. DeMille vencesse o Oscar de 1953 - a exceção de Matar ou Morrer, de Fred Zinemann os demais concorrentes são pouco lembrados. O reconhecimento a essa saborosa homenagem ao cinema mudo veio mais tarde - hoje, Cantando na Chuva é o quinto colocado na lista do AFI.

E vocês? Lembram de algum filme que merecia ter tido melhor sorte na corrida pelo Oscar? Escreva pra gente! =)

5 comentários:

  1. Para mim uma grande injustiça foi "O bebê de Rosemary", do Polanski, não ter sido indicado melhor filme, e Mia Farrow não ter sido indicada para melhor atriz. Merecia ter ganho pelo menos estes dois.

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    1. Tem razão, Bonine! O Bebê de Rosemary poderia SIM, ter sido lembrado. Ele passou pelo mesmo problema do 2001, no Oscar de 1969. Viu o inexpressivo Oliver! vencer, voltando pra casa sem ter sido sequer indicado. Abração!

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  2. Olhando esta lista é fácil perceber o ranço do politicamente correto. Os "perdedores" são filmes que criticam o sistema, que incomodam, com situações em que os protagonistas não podem ser "salvos" por um momento heroico. Mesmo o delicioso "Dançando na chuva" critica o modo como se constroem os mitos no cinema. Uma pena...Por outro lado, ninguém jamais os esqueceu.

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    1. Bom saber que esses filmes, mais adiante, encontram de outras formas a redenção, Rô. Mas que as injustiças - que demonstram o conservadorismo da Academia - ah, essas ficam.

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  3. Na minha opinião o livro de Jordan Belfort, foi a inspiração para a produção de O lobo de Wall Stree. Este filme é um dos meus favoritos porque a narrativa sempre te envia para a expectativa. DiCarpio y McConaughey são uma mistura perfeita. Esta historia é muito interessante, eu gosto muito deste tipo de roteiro, te mantém no suspense até o final. Seguramente o êxito de Matthew McConaughey filmes e programas de tv deve-se a auas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Este ator nos deixa outro projeto de qualidade, de todas as suas filmografias essa é a que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos. É uma produção espetacular, desfrutei muito. A historia está bem estruturada, o final é o melhor.

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