quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Novidades em DVD - Expresso do Amanhã

De: Joon-ho Bong. Com Chris Evans, Jamie Bell, Tilda Swinton, Ed Harris, John Hurt e Octavia Spencer. Drama / Ficção Científica. Coréia do Sul / França / EUA / República Tcheca, 2013, 126min.

Muito mais do que um grande filme do ponto de vista cinematográfico, o principal valor de Expresso do Amanhã (Snowpiercer) - recém chegado em DVD - está nas questões que ele discute. Temas como aquecimento global, desigualdades sociais, meritocracia, tecnicismo desenfreado, abuso de poder e preconceito racial, entre outros tantos assuntos relacionados, são debatidos nessa verdadeira pérola do diretor John-ho Bong - dos ótimos O Hospedeiro (2006)  e Mother - A Busca Pela Verdade (2009). Se não chega a ser absolutamente inovador do ponto de vista temático - ainda mais se levarmos em conta a existência de um certo padrão na discussão que envolve obras de ficção científica, eventualmente futuristas e metafóricas, o mesmo não se pode dizer da abordagem criativa e instigante proposta pelo autor.

Toda a claustrofóbica trama de Expresso do Amanhã se passa dentro de um trem. Na verdade, a última composição a vagar pela terra, em um circuito fechado, após uma catástrofe ambiental congelar o planeta, tornando-o inabitável. O responsável pelo desenvolvimento do trem, que funciona em um sistema autossustentável, sem contato com o exterior, é um certo Wilford (Harris), que é tratado pelos ricos que habitam o local como uma espécie de Deus. Sim, dentro do trem, como numa espécie de microcosmo de qualquer megalópole, há os ricos e os pobres. Os ricos vivem bem, tem acesso a comida e água de qualidade, e passam seus dias entre belos jardins, escolas de qualidade, piscinas e festas regadas a muito álcool, drogas e música. Bom, os pobres, vocês já podem imaginar, vivem em condições precárias, sem banho, sem água e se alimentando de uma intragável barra proteica.



Evidentemente que, após mais de 15 anos vivendo nessa situação, os miseráveis tentarão avançar para a frente do trem - eles moram no fundão - buscando alterar a sua condição de vida. Ou ao menos descobrindo o que se passa na parte da frente, procurando entender os motivos da cruel separação entre ricos e pobres. Em sua jornada surgirá uma espécie de ministra, de nome Mason (Swinton, mais repugnante e nojenta do que nunca), que tentará demover o grupo de sua ideia. Com frases abomináveis como: cada um deve ocupar a posição a que está predestinado na vida ou ainda aqui há a primeira classe, a segunda classe e parasitas como vocês ou mesmo a horripilante fiquem no seu lugar, saibam o seu lugar, Mason destilará diversas formas de preconceito, que apenas servirão para acirrar os nervos os humildes.

Em sua jornada rumo a tomada do trem, o grupo encontrará vagões e todos os tipos, com estufas, câmaras frias, aquários, escolas, todos coloridos, alegres, cheios de vida, ao passo que os vagões de trás são metálicos, acinzentados, escuros, numa proposta fotográfica que valoriza e torna ainda mais gritante as diferenças entre ricos e pobres. Com um elenco recheado de estrelas - Chris Evans e Jamie Bell como os mocinhos que coordenam os esfarrapados, Octavia Spencer como uma mãe de família desesperada - e em alguns momentos caricata - atrás do filho desaparecido, e Ed Harris como um vilão debochado, o filme peca apenas pelos efeitos especiais que mais parecem feitos pelo estagiário do setor de comunicação da faculdade. Ainda assim, com tantas mensagens impactantes a respeito da luta de classes - e um final reflexivo e contemplativo - a obra de Bong merece ser apreciada.

Nota: 8,0

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