quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Pitaquinho Musical - Declan McKenna (What Happened to the Beach?)

Às vezes experimental, noutras acessível - mas sempre com aquele ar descolado, descompromissado. Talvez seja a pandemia que passou. Ou mesmo a expectativa por um mundo melhor - especialmente para alguém que mal completou 25 anos (ainda que já tenha uma carreira de mais de uma década, iniciada em um daqueles programas de novos talentos, da TV britânica). Mas a impressão que temos com What Happened to the Beach?, é a de um Declan McKenna mais leve, mais caloroso. Especialmente se comparado ao taciturno trabalho anterior, Zeros (2020). Tomemos como base o single Sympathy, uma peça festiva com palminhas otimistas, efeitos primaveris e uma vibração açucarada que culmina no refrão grudento que mais parece com o Animal Collective em uma parceria com o Vampire Weekend. Aliás, o tipo de canção que flui com uma naturalidade desconcertante.


 

O senso de humor meio psicodélico surge em outros instantes, como no caso do folk à Sufjan Stevens Mulholland's Dinner and Wine, que tem batida econômica e uma letra divertida e estranha sobre uma dupla criminosa saída de um desenho animado. "Os versos vieram de observações enquanto dirigia pelas colinas de Los Angeles no caminho para festas estranhas e descoladas", comentaria o artista no material de divulgação. Para McKenna parece haver algo de libertador na música - algo evidenciado nas baterias meio irregulares, nos efeitinhos nem sempre óbvios ou nas melodias volumosas. Ainda assim, não quer dizer que o cantor não fale sério, como no caso da ótima Nothing Works. O clima apressadinho estilo Blur em Parklife pode enganar, já que a letra fala justamente sobre se sentir encurralado ou preso às expectativas (Pra que me esforçar? / Não é como se eu ainda fosse novidade). Mas o recado é claro: todos podem (e devem) ser livres.

Nota: 8,5


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