quinta-feira, 30 de março de 2023

Tesouros Cinéfilos - O Grande Lebowski (The Big Lebowski)

De: Ethan e Joel Coen. Com Jeff Bridges, John Goodman, Steve Buscemi, Philip Seymour Hoffmann e Juliane Moore. Comédia, EUA / Reino Unido, 1998, 117 minutos.

Uma das minhas cenas favoritas de O Grande Lebowski (The Big Lebowski) acontece ainda no comecinho do filme, quando os capangas do homônimo do nosso querido "Dude" (Jeff Bridges) invadem sua casa querendo saber informações sobre a sua mulher e sobre as dívidas que ela teria contraído com gente grande, importante e perigosa. "E eu lá tenho cara de ser casado? Vocês não encontraram a tampa do vaso levantada quando chegaram aqui?" Sim, esse tipo de humor meio antiquado, eventualmente sexista, pode soar ultrapassado hoje em dia. Mas para o protagonista cai como uma luva. Espécie de hippie pacifista sem grandes pretensões, Dude só quer ficar de boas fumando um, bebendo e jogando boliche com seus parceiros Walter (John Goodman) e Theodore (Steve Buscemi). Só que agora ele está metido nesse rolo, meio sem entender direito o que tá acontecendo. E o pior: ainda sai com o seu tapete todo mijado pelos invasores.

Sim, parece meio estranho mas é justamente esse "ataque" ao tapete - parte de uma decoração tão bizarra quanto melancólica de sua casa -, que motiva Dude a ir atrás de Jeffrey Lebowski (David Huddleston) para cobrar dele alguma providência. Recebido com toda a pompa em sua mansão pelo empregado Brandt (Philip Seymour Hoffmann), o sujeito leva uma carraspana do milionário. E pra não ficar por baixo, leva um outro tapete pra casa, numa negociação sem nenhuma lógica. Só que a coisa não para por aí, já que a esposa de Jeffrey, a bela Bunny (Tara Reid), é sequestrada, com o ricaço vendo em Dude a oportunidade de resgatar sua amada. Dude é um vagabundo sem muitas perspectivas que aceita US$ 20 mil pela tarefa de entregar uma mala cheia de dinheiro aos criminosos. E, bom, esse é um filme dos Irmãos Coen, que recém saíam de sua bem sucedida empreitada com Fargo: Uma Comédia de Erros (1996). Então, é só aguardar (e se divertir) com as coisas saindo totalmente de controle.

Aliás, vamos combinar que essa fase anos 90 da dupla de realizadores é aquela que imprimiria seu DNA - com os filmes indo no limite entre o humor delirante (e cínico) e o suspense caótico, um tipo de combinação que seria uma das marcas registradas dos Coen. Apostando no contraste entre a existência simplória de Dude e de seus comparsas e a vida movimentada e violenta de seus algozes, a obra vai de lá para cá entre partidas de boliche ridículas e perseguições movimentadas. O que faz com que a comédia brote justamente do inusitado. Um bom exemplo desse expediente pode ser observado, por exemplo, no comportamento do trio de capangas alemães que aparecem na casa de Dude para interrogá-lo. Após dizerem não "acreditar em nada", o protagonista afirma se tratarem de niilistas, o que acrescenta um componente sofisticado e filosófico onde talvez pudesse haver apenas a mais pura bobajada.

E o que dizer de John Turturro como o temido e provocativo Jesus Quintana, que, com seu temperamento agressivo, promete ser o horror dos jogadores de boliche no campeonato local que está por vir? Por sinal, a cena em que ele aparece é tão inesperadamente engraçada, coreografada de uma forma tão inusitada, que quase funcionaria como uma esquete isolada. A propósito, a coleção de personagens distintos também seria uma das marcas da obra, merecendo destaque a filha de Lebowski, Maude (Juliane Moore), espécie de artista experimental/feminista, que entra na história para tornar tudo ainda mais complicado do que já estava. Não tendo sido tão bem recebido assim na época de seu lançamento, O Grande Lebowski possui, atualmente, status de cult, com os figurinos do protagonista e mesmo seu comportamento idiossincrático sendo replicados mundo afora (inclusive em encontros temáticos e anuais, que ocorrem nos Estados Unidos). Para uma obra de baixíssimo orçamento, não deixa de ser um feito e tanto.


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