De: Scott Mann. Com Grace Caroline Currey, Virginia Gardner e Jeffrey Dean Morgan. Suspense, EUA / Reino Unido, 2022, 107 minutos.
Sim, enquanto eu mal e mal chego perto do parapeito do meu apartamento que fica no quarto andar, Becky (Grace Caroline Currey) e Hunter (Virginia Gardner) encarnam duas viciadas em adrenalina - aliás, o filme já abre com a dupla, acompanhada do namorado de Becky, Dan (Mason Gooding), dando aquela abusada da sorte ao escalar uma montanha altíssima e íngreme. Depois que um acidente estilo Risco Total (1993) - a imperdível aventura com Sylvester Stallone - acontece, Becky passa por um doloroso processo de luto, que dura quase um ano em meio ao alcoolismo e à letargia. Abandonando de vez o alpinismo ela tem dificuldade em se reerguer - condição que é reforçada pelo difícil relação que tem com o pai, James (Jeffrey Dean Morgan, o nosso "querido" e eterno Negan, de The Walking Dead). Isso até o momento em que Hunter reaparece com a desculpa perfeita: escalar a torre de TV vai ser uma forma de não apenas expiar a dor, mas também a oportunidade perfeita para largar as cinzas de Dan, lá das alturas.
Claro, a gente sabe que as coisas vão sair errado e filmes desse tipo funcionam mais ou menos como comédia românticas - o durante é importante e é ele que vai definir o quanto nos envolveremos com a narrativa. Óbvio também que filmes do gênero não costumam ter muita força nos diálogos, ou nas costuras que envolvem o roteiro - há, aqui e ali, as pontas soltas eventuais, tipo, Hunter não deixou nenhuma pista para absolutamente ninguém do que ela ia fazer? E, sendo alpinistas tão experientes, não valeria a pena dar uma verificada num nível mais profissional na estrutura que elas pretendiam escalar? Não são necessários nem meia dúzia de passos escada acima para que constatemos o quão enferrujada está a antena, com parafusos soltos, degraus que escapam e sensação total de abandono. É tipo as duas e o mundo - e Deus, e sabe-se lá mais o quê. Uma corda. Um drone. Algumas garrafas de água e o celular. Nem comida elas levam direito.
Maaas, dito tudo isso, o filme é tensão do início ao fim, especialmente pela composição de cenários e pelo aparato técnico, que confere um realismo excruciante à experiência. Não foram poucos os momentos em que virei a cara, enquanto alguma das duas estava pendurada apenas por uma corda, tentando de toda a forma retomar o rumo (e tudo piora quando a escada simplesmente desmancha sobre seus pés após elas chegarem ao topo). Ao cabo, trata-se de uma experiência sufocante, o que é ampliado pelo fato de Hunter ser uma espécie de Youtuber que, justamente, publica vídeos com desafios nas alturas, como forma de alimentar as redes (e entreter seus 60 mil seguidores). Com tomadas impressionantes, laterais, travellings giratórios, de cima para baixo, de lado, o filme também tem méritos pela excelente fotografia - que amplia a sensação de desalento - e até mesmo pela maquiagem (observe como a pele das meninas vai se "alterando" conforme os dias de contato intermitente com o sol ocorrem). Com direito a algumas improváveis surpresas a obra funciona como um espetáculo aterrorizante, que dá vida a um dos nossos maiores medos. Um dos meus pelo menos. Tá disponível na Amazon Prime e vale demais.
Nota: 8,0
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