De: Sara Dosa. Com Katia Krafft, Maurice Krafft e Miranda July. Documentário, Canada / EUA, 2022, 93 minutos.
"Prefiro uma vida curta e intensa a uma longa e monótona". (Maurice Krafft)
O caráter praticamente indomável e imprevisível dos vulcões não significará jamais um limite para a dupla. Que se aproximará bastante desses "organismos" em busca de fragmentos de rochas, restos de cinzas, gases e de outros materiais para estudo. Como foram pioneiros na captura de imagens de vulcões em erupção, o resultado é uma verdadeira coleção de rios de lava, explosões pirotécnicas, crateras gigantescas e nuvens voluptuosas de fumaça que formam uma espécie de balé tão onírico quanto inesperado. Diante de um cenário em que a maioria das pessoas tentaria se afastar, eles se aproximam, com seus equipamentos, barracas e outros. O que os converteria em figuras bastante populares entre os anos 60 e 80, com diversas aparições em programas de TV, documentários produzidos e outros registros produzidos. Aliás, fundamental nos tempos atuais, o trabalho dos Krafft serviu para chamar a atenção dos riscos que envolvem as comunidades existentes em regiões com vulcões ativos.
Um bom exemplo disso envolve a conhecida Tragédia de Armero, na região de Tolima, na Colômbia, no ano de 1985. Na ocasião o vulcão Nevado del Ruiz entrou em erupção após quase 70 anos de dormência e, ainda que as autoridades locais tenham sido alertadas para os riscos, os fluxos piroclásticos resultariam na morte de mais de 23 mil pessoas, com os deslizamentos de lava, terra e outros detritos alcançando cerca de 50 quilômetros por hora. O segundo desastre vulcânico mais mortal da história, diga-se. E por mais traumático e dolorido que o episódio tenha sido, ele serviu para chamar a atenção do mundo para a importância do trabalho dos vulcanólogos, de geólogos e de químicos. O que ampliaria o investimento em sistemas de alerta e eventuais planos de evacuação, quando necessários. Com esse "dedinho" de ciência também tendo a participação do casal, com sua infinita coleção de registros.
Apostando em uma espécie de alegoria entre o calor o amor, entre o ardor e a paixão, o filme registra Katia e Maurice como espíritos independentes que, ainda que cheios de diferenças, se uniriam em volta de estudos de estruturas geológicas imponentes, como os vulcões Mauna Loa, Stromboli, Santa Helena e mesmo o Unzen, no Japão, que lhes tiraria a vida em 1991, após serem surpreendidos por uma inesperada mudança na direção do vento e do clima no dia de sua erupção. Com trilha sonora de Nicolas Godin (da dupla francesa Air) e narração da multiartista Miranda July, a obra foca no legado dos Krafft, de forma bem humorada e até tensa - como no instante em que Maurice resolve navegar sobre uma lagoa de ácido sulfúrico a bordo de um bote. Curioso, experimental e eventualmente filosófico o filme surpreende também por nunca soar enfadonho, excessivamente didático ou cansativo. Vae conferir.
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