De: Damien Chazelle. Com Margot Robbie, Brad Pitt, Diego Calva, Jean Smart e Flea. Comédia / Drama, EUA, 2022, 188 minutos.
Caótico. Mágico. Intenso. Apaixonante. Bombástico. Poético. Dá pra usar uma série de adjetivos sem muito medo de errar quando o assunto é Babilônia (Babylon) - mais recente obra de Damien Chazelle (de La La Land: Cantando Estações, 2016). Levemente esnobado na cerimônia do Oscar desse ano, o filme oferece uma experiência hiperbólica, maximalista e metalinguística, tendo como pano de fundo a Hollywood dos anos 20 e o percurso feito por seus astros e estrelas em um cenário de transição do cinema mudo para o falado. E tudo em meio a eventos políticos diversos, como o entre guerras e a Quebra da Bolsa de Nova York em 1929 que, de alguma maneira, se refletiria nas preferências do público do período. Não é demais lembrar que o cinema mal engatinhava mas, numa espécie de alegoria de quem finalmente chega a "vida adulta", acompanharemos uma história de ascensão e de posterior queda, de alternância de poder, de preconceitos, de sonhos e de expectativas alcançadas (ou não).
No começo tudo parece ser diversão quando mergulhamos com todos os sentidos possíveis em uma festa luxuosa e luxuriosa em uma mansão de um grande executivo da indústria. É nesse local que seremos apresentados, na medida do possível, a três figuras que serão peça central na narrativa: Jack Conrad (Brad Pitt), talvez a maior estrela de Hollywood no auge do cinema mudo mas que, já com algum tempo de estrada, começará aos poucos a experimentar certo ostracismo, Nellie LaRoy (Margot Robbie), uma desinibida e confiante aspirante a atriz que deseja alcançar o estrelato e que entra de penetra no local e Manny Torres (Diego Calva), um garçom de celebridades que, no fundo, também almeja algum tipo de oportunidade na indústria. Entre idas e vindas e encontros e desencontros a obra evidenciará como sonhos podem se tornar realidade na mesma velocidade em que a máquina moedora que orbita o universo das celebridades sempre parecerá pronta para triturar a sua próxima "vítima".
Criticado por um certo excesso, o filme tem nesse aspecto, na realidade, um de seus grandes méritos. Por quê em matéria de bastidores, tudo parece ser abundante quando o assunto são as produções de cinema - seja no que diz respeito às vidas pomposas, passando por escândalos (ou mesmo apoio) da imprensa sensacionalista - aqui simbolizada pela jornalista de entretenimento Elionor St. John (Jean Smart) -, até chegar às festas regadas a muito álcool, sexo, drogas e outras loucuragens. Indo de lá para cá, de um cenário a outro, acompanharemos o trio central em suas jornadas pessoais, sendo sempre orbitados por outras figuras - diretores, executivos da indústria, produtores -, todos com seus interesses. Se cruzando aqui e ali, Joseph, Nellie e Manny funcionarão como fio condutor, tendo de lidar com carreiras pessoais que desmoronam, sentimento de fama passageira e, acima de tudo, histórias de vida extraordinárias que, de alguma maneira, também dependerão do aleatório, do inusitado, do estar no lugar certo, na hora certa, pra acontecer.
Repleto de citações a artistas da época - e mesmo o fictício trio central parece embasado em astros reais (a história mais conhecida seria a de Nellie, supostamente inspirada em Clara Bow) -, a obra ainda é um prodígio em seu equilíbrio entre diversão, drama e tensão. Se numa das primeiras sequências somos surpreendidos, por exemplo, com o instante em que um elefante evacua na cara de um motorista, mais adiante perceberemos como a infelicidade se apropriará da alma de Joseph, quando ele notar que, com o advento do cinema falado, seus dias de glória chegarão ao fim, na mesma velocidade com que o sol se põe (pra ficar numa metáfora que aparece no próprio filme). Tecnicamente soberba, a produção é um exagero comovente de cores, de música, de figurinos, de cenários grandiosos, que quase ultrapassam os limites entre ficção e realidade. Aqui, o que vale é o espetáculo, quase como uma rima perfeita do que é o cinema em si. É meio difícil resistir a tudo isso. Quase impossível não ficar hipnotizado durante as mais de três horas de duração do projeto. Ele pode até perder o foco aqui e ali, se desviar do caminho esperado em alguma medida. Soar meio longo espichado em um ou outro momento. Mas tudo faz parte desse cenário de enormidades. Talvez seja o grande injustiçado do Oscar. Ou vai ver fui eu que me envolvi demais.
Nota: 8,0
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