De: Craig Mazin e Neil Druckmann. Com Bella Ramsey, Pedro Pascal, Gabriel Luna, Murray Batlett e Nick Offerman. Drama / Ficção científica, EUA, 2022, 522 minutos.
A história diz que nem Pedro Pascal nem Bella Ramsey, os astros que protagonizam The Last of Us, jogaram o jogo em que a série da HBO Max - que teve seu último episódio divulgado no mais recente domingo - é baseada. Então nesse caso, eu não tenho receio de afirmar que também não joguei o game, assistindo apenas alguns fragmentos de gameplayers meio espalhados (algo que também não tenho muita paciência). Nesse sentido estou apto a analisar o programa? Olha, se levar em conta que a maioria dos livros e quadrinhos em que os filmes são baseados eu não li, acho que sem problemas. Por que aqui eu não estou pra comparar um com o outro - e talvez isso até elimine algum tipo de vício inevitável de quem conferiu os dois. E, bom, desde a primeira dezena de temporadas de The Walking Dead que eu não acompanhava um drama pós-apocalíptico - que, aqui, envolve uma severa infecção fúngica que converte os seus hospedeiros em zumbis, resultando (surpresa!) no colapso da sociedade.
Ok, não há exatamente nada de novo nisso - e o próprio jogo de videogame já é um sucesso de dez anos de existência. Mas admito que em um cenário de humanidade ainda recolhendo os cacos de uma dolorosa pandemia, não deixa de ser interessante (re)elaborar as ideias em torno dessa temática. Como seria, afinal? A trama já abre de uma forma muito impactante com dois cientistas alertando, décadas atrás, sobre a possibilidade de bizarras mutações fúngicas que só seriam possíveis em um cenário de aquecimento global (e olha o aceno para a nossa atualidade aí). Corta para 2003 e o bicho já tá começa literalmente a pegar, com o surgimento das primeiros casos de Cordyceps e o caos tomando conta de uma cidadezinha do Texas (onde mais?). Em meio ao tumulto Joel (Pascal) terá de enfrentar a dor de ver o assassinato da própria filha Sarah (Nico Parker) em circunstâncias bastante traumáticas. Pesado é pouco. E tá só começando.
Corta para 2023 e Joel está em uma zona de quarentena em Boston, onde integra uma espécie de órgão de Governo (a Fedra). Após seu irmão Tommy (Gabriel Luna) tentar entrar em contato, o protagonista é enganado pelos Fireflies (Vagalumes), que se opõem ao Governo, numa negociação envolvendo uma bateria. A solução para que ele possa ter acesso a um caminhão que o leve até seu irmão? Conduzir a jovem Ellie (Ramsey), até um outro ponto do País na intenção de, quem sabe, produzir uma cura, já que a jovem parece ser imune a doença. É nesse ponto que a aventura da série em si começa. Com bem menos zumbis por metro quadrado do que em The Walking Dead e um foco muito maior nas relações e nas conexões humanas. Basta pensar, por exemplo, no "polêmico" (e comovente) terceiro episódio, onde um flashback exibirá a tocante relação entre Bill (Nick Offerman) e Frank (Murray Bartlett) e sua tentativa desesperada de sobrevivência - e mesmo de tentar levar uma vida normal - em meio ao caos. Emocionante, o episódio nos faz lembrar da importância da amizade, do amor, do afeto, de compartilhar momentos.
Claro que todos esses componentes não funcionariam tão bem se não fosse todo o aparato técnico que contribui para o clima de tensão proposto - com destaque para o desenho de produção que, a meu ver, é um dos pontos altos (e os cenários apocalípticos são tão bem elaborados, que a série me fez ter vontade de jogar o jogo, sendo que a última vez que peguei em um controle foi para zerar Resident Evil 4 do Play 2 - Candy Crush não conta). A fotografia que se alterna entre o escurecido - nas cenas noturnas -, e o levemente onírico, nos instantes de placidez (como no citado episódio 3) ou diurnos, também mexem com os sentimentos, o mesmo valendo para a trilha sonora. Mas, ao cabo, sobreviver aqui, é quase como uma alegoria bastante humana, afinal, quem não tem suas dores, traumas, arrependimentos? Coisas que poderia ter feito diferente e talvez não fez? Em um mundo devastado parece haver um maior espaço para esse tipo de reminiscência. Dessa necessidade de um certo senso comunitário. De se juntar por um bem maior - e o fortalecimento da amizade de Joel e Ellie estará no centro da narrativa como uma espécie de símbolo de tudo isso. Os próximos passos? A segunda temporada, já renovada, talvez ajude a determinar. Estamos no aguardo.
Nota: 8,5
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