quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

25 Melhores Discos Internacionais de 2017 (+ 15 Menções Honrosas)

Não fosse a música e talvez fosse mais difícil para todos nós encarar, a cada nova manhã, esse mundo tão intolerante, individualista e cheio de ódio. Não fossem esses tantos artistas legais lançando dúzias e mais dúzias de trabalhos para nos fazer sorrir, pensar e, por quê não, refletir, talvez este fosse um mundo muito mais sem graça. Sem cor, sem vida, sem barulho. Quem gosta de música sabe que até a hora de lavar a louça merece a companhia daquele disquinho recém chegado que, na semana seguinte, será o novo queridinho da crítica e do público. E como houve álbuns legais nesse ano! E, para nós do Picanha, é preciso que se diga, NUNCA é tarefa fácil selecionar apenas 25 - com mais 15 menções honrosas - para integrarem a nossa lista. Mas a gente se esforça pra trazer um panorama do que de melhor apareceu no ano, respeitando todos os estilos, vertentes, cores e sabores.. enfim, vamos ao que interessa! Segue a nossa relação com os 25 Melhores Discos Internacionais de 2017 (+ 15 Menções Honrosas). Boa leitura!

Menções honrosas:

40) Tori Amos (Native Invader)
39) Jens Lekman (Life Will See You)
38) Vince Staples (Big Fish Theory)
37) Ariel Pink (Dedicated to Bobby Jameson)
36) Tennis (Yours Conditionally)
35) Japanese Breakfast (Soft Sounds From Another Planet)
34) Sam Smith (The Thrill Of It All)
33) Weezer (Pacific Daydream)
32) Julien Baker (Turn Out The Lights)
31) Big Thief (Capacity)
30) Baths (Romaplasm)
29) Haim (Something To Tell You)
28) LCD Soundsystem (American Dream)
27) Taylor Swift (Reputation)
26) Paramore (After Laughter)

25) Miguel (War & Leisure): ainda que não possua toda a provocante sensualidade de seu registro anterior - o irretocável Wildheart (2015) - o mais recente disco do americano chega bem perto do clima de R&B psicodélico e de deleite sexual daquele álbum. Como se fosse uma espécie de Lenny Kravitz do mundo alternativo, Miguel utiliza seu vocal eventualmente sussurrado e em falsete para reverberar a importância da libertação do corpo como ente político - discurso que vem em boa hora, especialmente em uma América (no caso a de Trump) que se mostra inacreditavelmente conservadora. É um álbum que mergulha fundo na iconoclastia, mas que utiliza camadas sonoras celestiais para reforçar a importância do erotismo e do prazer como metáforas para a liberdade.

24) Real Estate (In Mind): poucas bandas alternativas da atualidade conseguem ter uma personalidade (ou uma identidade) tão própria quanto o Real Estate. No caso deste registro bastam os acordes iniciais da graciosa e litorânea Darling - canção que abre o disco - para reconhecermos o estilo agradável da banda. Os (metidos a) exigentes poderão dizer que, por isso, o quinteto possa soar eventualmente insosso, inócuo ou formulaico. Mas é justamente na economia, nas arestas bem aparadas, na ausência de excessos, que parece estar o segredo por trás da sonoridade acolhedora dos americanos. Escutar as suas melodias litorâneas, primaveris, assoviáveis ou mesmo adocicadas é mergulhar em um cenário colorido de final de tarde, em meio a natureza, ao lado das pessoas que gostamos. Faça o teste com Darling ou White Light. E prepare-se para sorrir.


23) Jessie Ware (Glasshouse): impressionante a capacidade dessa inglesa em trafegar por tantos estilos diferentes e tantas vertentes nostálgicas, mas sem nunca perder o frescor ou a personalidade própria no diálogo com pop, o R&B, o soul e música eletrônica. Se o álbum Tough Love (2014) já era uma verdadeira obra-prima sonora, com Glasshouse a impressão que se tem é a de que, com seus versos íntimos e lirismo evocativo, a artista parece querer se aproximar ainda mais da subjetividade do ouvinte. Se a batida de Midnight nos faz lembrar Elton John, Your Domino parece ter saído de algum recente registro da Grimes. E o que dizer de Selfish Love, que bebe na fonte da Sade? É uma mistura que teria tudo pra ser confusa, mas forma um registro homogêneo em que as músicas tão distintas parecem sempre conecadas. Melhor para quem se arrisca por cada curva desse lindo trabalho.


22) Spoon (Hot Thoughts): incapazes de errar, os americanos do Spoon não vacilaram em seu nono álbum - que vem logo após They Want My Soul (2014), seu melhor registro. A banda, querida da crítica mundial, desta vez aparece com uma abordagem mais dançante, funkeada, repleta de sintetizadores, porém sem perder a capacidade de surpreender com seus arranjos pouco óbvios, sempre embalados por certa psicodelia melancólica, amparada pelo vocal característico de Britt Daniel. When the moon is rising and looking on me / When the night comes knocking, knocking on me canta Dulling em I Ain't The One, como se estivesse convidando o ouvinte para curtir. Ouça ainda a faixa-título, Can I Sit Next to You e Do I Have To Talk You Into It e tente não se contagiar.


21) Phoenix (Ti Amo): o Phoenix é aquela banda que você amou em 2009 por causa do hit Lizstomania, que tocou a exaustão nas rádios mais descoladas do planeta. Com mais um disco lançado depois - o regular Bankrupt! (2013) - os franceses resolveram inovar e lançaram um dos álbuns mais divertidos desse ano, ao misturar um retrô sofisticado, com pop oitentista e kitsch italiano. Talvez como um contraponto da guinada da extrema-direita na França ou como uma reação a onda de ataques terroristas ocorridos no País, o caso é que o grupo parece querer encontrar risada em meio ao drama e requenta uma série de referências do passado em um registro nostálgico, gracioso e cheio de charme. Impossível não ser arrebatado por músicas grudentas como Tuttifrutti, Flor Di Late e a faixa título.


20) The New Pornographers (Witheout Conditions): o The New Pornographers é a melhor banda de power pop surgida nos últimos anos e, vamos combinar, é impressionante a capacidade desses canadenses de se manterem regulares (e relevantes) durante tantos anos. É o caso em que os fãs sempre aguardam ansiosos por uma nova coleção de canções grudentas, com aqueles vocais adocicados que se colidem, os refrões assoviáveis e o instrumental - sempre pontuado por um sintetizador nostálgico e divertido - pontuando tudo na medida certa. Se o novo registro não chega a ser um Twin Cinema (2005) - até hoje o trabalho mais querido pelo público - o carisma do septeto não deixa a peteca cair. Arraste o sofá um pouquinho para o lado, dê o play e escolha This Is The World Of The Theater ou High Ticket Attractions para tocar. Ninguém ficará parado.


19) Sampha (Process): existem artistas que se tornam tão famosos pelas colaborações com outros, que quando resolvem lançar o seu primeiro registro, mais parecem veteranos do mundo da música. Com dois EPs bem recebidos no currículo - Sundanza (2010) e Dual (2013) - Sampha já esteve em estúdio para produzir nomes como Kanye West, Drake e Solange. Mas, como numa espécie de contraponto, a "inspiração" para a realização de um trabalho mais pessoal partiu de uma triste notícia: a morte de sua mãe vítima de câncer. Ainda que, aqui e ali, as notas possam parecer mais entristecidas, em linhas gerais o R&B sofisticado do britânico parece trafegar sempre no limite da esperança por dias melhores. Não por acaso canções como Blood On Me e (No One Knows Me) Like The Piano formam o contraponto perfeito entre energia pop e melancolia intimista.


18) Cigarettes After Sex (Cigarettes After Sex): esse disco não vai aparecer em nenhuma lista de melhores. Não adianta procurar. E talvez seja um dos que mais facilmente cairá nas graças do público, se analisarmos essa lista toda. Com um soft pop moderno e letras cheias de comentários espertos sobre relacionamentos que se firmaram ou esmoeceram Greg Gonzales, nos apresenta ainda uma musicalidade capaz de misturar guitarras a moda de um Interpol, efeitos no estilo The xx e um vocal meio Simply Red. Os refrões são grudentos e nos fazem pensar em uma noite de vinho, a meia luz, com aquela pessoa que mais curtimos. Come out and haunt me / I know you want me sussurra o vocalista na espetacular Apocalypse - candidata séria e melhor música do ano. Se você ainda não conhece, corre lá.


17) Fever Ray (Plunge): a cantora Karin Dreijer - que responde por esse projeto - já tem pelo menos uma música nesse ótimo disco para ser chamada de clássico: This Country. Além de fazer, na mesma canção, uma crítica as vidas padronizadas, ao sexo frio da era virtual e a criminalização do aborto, ela ainda encerra a música repetindo exaustivamente os versos This country makes it hard to fuck. Karin é sueca e fica difícil definir sobre qual País ela está falando exatamente, mas o caso é que até pra foder parece estar faltando ânimo - especialmente num planeta que parece voltar para a Idade Média no que diz respeito as discussões sobre gênero. Não bastasse a potência das letras, a banda ainda possui uma eletrônica toda torta, abstracionista, meio difusa, como se uma alienígena baixasse na terra pra cantar no Siouxie On The Banshees ao som de Kraftwerk.

16) The Afghan Whigs (In Spades): desde o retorno magistral com Do to the Beast (2014), os tiozões do grupo de Cincinnati fizeram a alegria dos fãs que, desde a década de 90, aguardavam um novo petardo do grupo principal de Greg Dulli. Se em seus projetos paralelos - Twilight Singers, The Gutter Twins - Dulli já aperfeiçoava seu modus operandi, ao retomar seu grupo original houve uma aumentada na voltagem sônica de sua mistura de rock e R&B, fazendo bom uso da sofisticação que só uma produção caprichada é capaz de fazer. Arabian Heights é Whigs em sua forma máxima, enquanto Copernicus e Demon in Profile hão de deixar qualquer fã de boa música com um sorriso no rosto, além de muito mais, em seus enxutos 30 minutos.


15) Perfume Genius (No Shape): a impressão que se tem ao ouvir o novo registro de Mike Hadreas - o nome por trás do projeto - é que ele parece finalmente ter encontrado a calmaria em seu coração. Se discos como Put Your Back N2 It (2012) e Too Bright (2014) eram potentes no discurso sobre alienação e vícios modernos - além do fato de Hadreas ser gay assumido - por outro lado eram absolutamente minimalistas em suas paredes sonoras. O caso é que este é um registro muito mais sorridente. Se a abertura com Otherside surge cm um piano discreto, logo adiante ela explode como se ali houvessem milhares de fagulhas multicoloridas, transcendentes e idílicas - quase como um passeio hippie no litoral. Essa sensação segue com as oitentistas Slip Away e Just Like Love que nos mostram o fato de ainda ser possível emular uma década inteira sem nunca soar repetitivo ou pouco original. Um discaço!


14) The War On Drugs (A Deeper Understanding): após a consagração de crítica e público do álbum Lost in the Dream (2014), o próximo rebento de Adam Granduciel e companhia vinha cercado de grandes expectativas. Como superar ou pelo menos manter a qualidade imensurável de sua obra-prima? Se este A Deeper Understanding não supera o supracitado deleite sonoro, pelo menos mantém o selo de qualidade The War On Drugs. Produção impecável, canções longas e melodiosas - mas sem nunca soar como algo progressivamente entediante -, vocais dylanescos, toques eletrônicos aqui e acolá criando os climas de uma viagem atemporal e emocionante. Faixas como Pain, Holding On e Strangest Thing não nos deixam mentir.


13) The National (Sleep Well Beast): é preciso que se diga que, dados os eventos políticos mais recentes na terra do Tio Sam - mais especificamente o primeiro ano de Donald Trump como presidente -, a expectativa por um novo álbum dos americanos, após um pequeno hiato de quatro anos, era ainda maior. Especialmente pelo fato de, com a sua palpável melancolia - percebida nos vocais entristecidos e nos acordes repletos de uma certa esquizofrenia minimalista - a banda parecer ser plenamente capaz de traduzir o desencanto do homem moderno. Sim, o Sleep Well Beast pode até não ser o Boxer (2007) ou o High Violet (2010) - os grandes registros de Matt Berninger e companhia. Mas canções como The System Only Dreams In Total Darkness, Day I Die e I'll Still Destroy You traduzem bem o espírito destes tempos sombrios que estamos vivendo. Mas sem perder o instrumental arrebatador. E o refrão.


12) Moses Sumney (Aromanticism): my wings are made of plastic / my wings are made of plastic lamenta Sumney na espetacular Plastic, com sua voz num falsete capaz de ser ao mesmo tempo sutil e cortante, sussurrado e hipnótico, como se invadisse o peito de cada ouvinte para arrancar seu coração, vísceras e tudo o mais. E tudo embalado por uma base sonora de uma eletrônica econômica que lembra uma curiosa mistura de Bon Iver e Bossa Nova. Tendo a sua voz como força motriz, o americano derrama em cada canto desse grande disco de estreia todas as inquietações, inseguranças e medos que permeiam os relacionamentos. O que faz com que o ouvinte tenha identificação imediata. Plastic pode ser a peça central do registro. Mas outros momentos de perfeito equilíbrio entre soul, jazz e R&B - casos de Quarrel (essa não faria feio num disco do Radiohead) e Doomed - fazem valer cada audição.


11) Harry Styles (Harry Styles): talvez tenha sigo o grande ano da carreira do inglês. Além de ter feito sua estreia no cinema - no mediano Dunkirk, mais recente obra do diretor Christopher Nolan - ainda conseguiu, com o lançamento desse primeiro registro solo, ter a sua imagem descolada daquela que possuía anteriormente, como integrante da boyband One Direction. Em seu trabalho de estreia, não se pode negar que Styles atira para o todo o lado, entregando um trabalho altamente heterogêneo - e pop na medida certa para ser tocado em tudo quanto é rádio. Mas ele acerta (quase) sempre, mostrando que amadureceu. Se Sign Of The Times não faria feio em um disco do Manic Street Preachers dos anos 90, o recente (e saboroso) single Two Ghosts é uma balada folk rock moderna sobre um amor fadado ao fracasso. Mas o fato é que é tudo muito bom de ouvir. É só deixar o preconceito de lado.

10) Kelela (Take Me Apart): se existe uma palavra que combina com a audição desse disco é "aconchego". Sim, é uma definição curiosa, mas chega a impressionar a sensação de acolhimento provocada no ouvinte, a cada curva sinuosa desse álbum de estreia carregado em um R&B moderno, que dialoga com o passado de uma forma muito natural. Com uma sonoridade absolutamente envolvente - que traz ainda ecos de jazz, de soul e de pop acessível -, a americana de origem etíope amplia o caráter evocativo de seu cancioneiro - o que já podia ser percebido no ótimo EP Hallucinogen (2013). Gosto de citar a FKA Twigs como uma referência para aquele estilo denso, que vai no limite entre o experimental e o comercial. Não vou dizer que Kelela bebe dessa fonte, porque é bem capaz de ela ter sido a inspiração. Ouça gemas como Frontline, LMK e a faixa-título e tenha a certeza de estar diante de uma das grandes estreias do ano.


9) SZA (Ctrl): existe um que meio de "R&B classudo dos anos 90" nessa estreia promissora da americana Solána Imani Rowe. Mas o fato de este ser o seu disco de estreia, não quer dizer que ela seja uma completa novata. Após duas mixtapes e um EP lançados desde 2012, a artista, talvez por um certo perfeccionismo, vinha protelando o lançamento deste saborosíssimo e mais do que bem-vindo registro - ainda mais diante das atuais discussões sobre a importância do respeito a igualdade entre gêneros. No álbum, 14 canções que versam sobre inseguranças, fantasias, desgostos e uma permanente sensação de perda de controle no que diz respeito ao amor. Seu vocal ao mesmo tempo doce e sussurrado faz o contraponto perfeito para as batidas eletrônicas levemente econômicas, mas cheias de groove. Sem medo de se mostrar eventualmente vulnerável, SZA nos acerta em cheio o coração.


8) Father John Misty (Pure Comedy): The comedy of man starts like this / Our brains are way too big for our mothers' hips (A comédia do homem começa assim / Nossos cérebros são muito grande para os quadris de nossas mães). É com essa frase que se inicia o registro mais recente do americano, um dos mais irônicos e sarcásticos "comentaristas" da atualidade. Absolutamente NADA parece escapar de seu escárnio e, ainda que a parte instrumental seja conduzida de forma quase monocórdica em alguns momentos, vale a pena ouvir esse longo disco com as letras (de preferência já traduzidas), a tiracolo. A diversão é garantida com uma verborragia quase sem fim e que não poupa nenhuma instituição. Mídia, religiões, governo.. ou mesmo a nossa infinita capacidade de reinventar ídolos. Tá tudo lá, nesse álbum imperdível.


7) Beck (Colors): a crítica em geral torceu o nariz pro novo disco do Beck - décimo terceiro da (longa) carreira. Mas como nós não somos a "crítica em geral", só o que podemos dizer é que AMAMOS. Deixando de lado o lo-fi, as eletronices e o country de outrora, o americano resolveu abraçar de vez o pop ensolarado, agridoce, leve, direto. Quem não conhece a discografia dele - aliás, ela é extremamente valiosa, especialmente o álbum Odelay (1996) - ficará absolutamente encantado com a energia jovial transmitida pelo registro. A moda de um fanfarrão que se diverte no estúdio - ele se aliou nesse disco ao produtor Greg Kurstin, que já trabalhou com Adele e Sia - Beck nos entrega uma verdadeira coleção de gemas que nos remetem aos momentos mais coloridos dos anos 80 (e 90 também) - tudo amparado por um instrumental desavergonhadamente kitsch. Experimente ouvir Seventh Heaven, Dreams e faixa título sem sorrir. Duvido!


6) Kendrick Lamar (DAMN): existe uma certa magia no cancioneiro de Lamar, que é capaz de colocá-lo no mesmo "saco" das grandes estrelas do rádio - seja pela sonoridade de fácil consumo, pelos efeitos eletrônicos convidativos ou mesmo pelos refrões grudentos - e dos maiores pensadores da música na atualidade. Mas o artista não está ali apenas para criticar ou para jogar na cara dos outros os problemas do mundo - sim, isso ele também faz com inteligência, referências, grandes rimas e maestria. Mas ele sabe TAMBÈM olhar pra si próprio como sujeito que está longe de ser perfeito e que é parte desse mecanismo. I got power, poison, pain and joy inside my DNA, canta o artista em DNA, um dos tantos grandes momentos desse visceral registro. É o tipo de disco capaz de transformar as pessoas que o escutam.


05) St. Vincent (Masseduction): poucas bandas são capazes de fazer uma crítica tão mordaz sobre a nossa relação com as novas tecnologias e sobre como podemos ser individualistas, hedonistas e niilistas na modernidade, como o St. Vincent. Se no autointitulado disco anterior Annie Clark já tratava do tema com propriedade - como esquecer os versos da imprescindível Digital Witness (Digital witnesses, what's the point of even sleeping? / If I can't show it, if you can't see me) - agora o assunto volta a baila com temas como amor líquido (Los Ageless), vício em medicamentos (Pills), alienação (Masseduction)e outros surgindo com igual intensidade - mas sem nunca soar hipócrita ou excessivamente conservadora. Não bastassem as letras potentes, a artista ainda equilibra tudo no limite entre o eletropop, o soft rock e o jazz, formando um conjunto melodioso de canções, totalmente alinhado a realidade em que vivemos. O que se pode perceber, diga-se, já pela capa.


04) Alvvays (Antisocialites): se de todas as bandas, artistas e discos que estão aqui nessa lista eu tivesse que indicar apenas uma para vocês, leitores do Picanha, essa seria esse simpaticíssimo quinteto canadense. Não bastassem os versos carregados de romantismo sobre os anseios e desilusões apaixonadas da juventude - que dão continuidade ao bem recebido primeiro e autointitulado registro de 2014 - esse trabalho ainda amplia as "tintas" comerciais, transformando cada fragmento melódico em uma singela homenagem aos anos 90, numa mistura que equilibra de maneira perfeita o lo-fi e o powerpop garageiro. Ainda que a vocalista Molly Rankin pareça estar sempre no "ponto do sofrimento", o fato é que a doçura nostálgica desse disco é totalmente irresistível.


03) Lana Del Rey (Lust For Life): todos os discos da Lana Del Rey são legais. Todos, sem exceção. Mas com Lust For Life, a artista parece ter atingido o auge do clima retrô/enfumaçado/weirdromance. A experiência que, inicialmente, parece exaustiva - o álbum possui 16 músicas e 1h12 (!) de duração - logo se torna um exercício de escuta musical dos mais prazerosos. Lana desfile toda a sorte de versos confessionais de imediata identificação por parte do ouvinte - You get ready, you get all dressed up / To go nowhere in particular (Você se arruma, se veste todo / Para is a nenhum lugar em especial), canta ela já na inaugural Love. Tudo embalado por aquele clima denso, levemente soturno e espacial. Frio e calor se misturando. Noite e dia. Amor e tesão. A americana parece saber das coisas. Se você ainda não se convenceu, escute Tomorrow Never Came. Depois a gente conversa.



02) The xx (I See You): num universo tomado por bandas que repetem fórmulas de maneira exaustiva e pouco criativa, a simples existência do The xx é um verdadeiro respiro. Dotado de uma personalidade própria que a distingue dos demais grupos, o trio aposta em uma eletrônica de acordes minimalistas e vocais sussurrados, capazes de prender o ouvinte já na primeira audição. E, após dois discos lançados - xx (2009) e Coexist (2012) - caso ainda houvesse quem torcesse o nariz para os britânicos, esse terceiro registro ainda apresenta uma "novidade": uma coleção de canções absurdamente radiofônicas, dotadas de uma certa pegada pop - mas sem esquecer aquele clima fim-de-noite-enfumaçado-na-grande-metrópole, que amamos. Experimente ficar alheio a verdadeiras gemas como On Hold, I Dare You e Replica. É simplesmente impossível.


01) Lorde (Melodrama): quem acompanha as notícias do mundo da música deve ter lido a matéria sobre a mulher que invadiu o Museu do Louvre para pendurar uma cópia do disco da neozelandesa em meio a outras obras de arte. Sim, pode parecer exagero, mas o novo registro da jovem artista que recém completou 21 anos é um verdadeiro combo de letras confessionais sobre a chegada da vida adulta (e seus prazeres, romances, rompantes), com tudo embalado por uma sonoridade ao mesmo tempo acessível e classuda, comercial e robusta. É aquele tipo de disco homogêneo - como se fosse uma espécie de ópera moderna cheia de nuances -, ainda que cada composição consiga "gritar" sozinha - indo da calmaria ao caos em segundos -, nos fazendo ter vontade de apertar o repeat infinitas vezes. Um verdadeiro clássico moderno. Digno do Louvre.

E então, pessoal, gostaram da lista? Ou faltou algum bom disco aí no meio? Comentem conosco!

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