quarta-feira, 7 de julho de 2021

Foi Um Disco Que Passou em Minha Vida - The Strokes (Is This It)

Vou abrir esse texto com uma confissão: por mais que a gente saiba que o tempo passa rápido - e ele tem passado voando, mesmo em meio à pandemia - me parece meio difícil aceitar que já faz 20 anos que a banda The Strokes lançou o, agora icônico, Is This It. Vinte anos! Vinte anos que as Torres Gêmeas seriam derrubadas. Vinte anos que a doença da Vaca Louca surgia como um excêntrico boato que comprometeria as importações de carne brasileira. Duas décadas de uma embrionária internet bastante lenta, ainda discada - utilizada com mais intensidade após à meia-noite. Vinte anos da morte de Jorge Amado e da primeira edição da Casa dos Artistas. É incrível pensar que, naqueles anos, nos preparávamos para o momento em que Lula seria alçado à presidente, ao mesmo tempo em que o Brasil venceria a sua última Copa do Mundo. E, nós, éramos um grupo de pós-adolescentes que iam para a finada Lupus Land ao som de Last Nite, The Modern Age, Someday e outras. Sim, o álbum chegaria ao mundo no dia 27 de agosto de 2001. Meu pai, o seu Ènio, tinha 40 anos. Hoje sou eu que tenho essa idade.

Os tempos eram tão outros que quem me mostrou o disco de Julian Casablancas e companhia pela primeira vez foi o Rodrigão - aliás, o amigo Rodrigo Macedo da Silveira me honra com a sua amizade até hoje. Sabe-se lá porque, naqueles anos, ele era uma espécie de referência quando o assunto eram as novidades culturais. Bem mais velho do que a gurizada que iniciava a faculdade de Jornalismo na Univates - e, consequentemente com mais acesso, com mais recursos financeiros -, era ele quem nos falava dos filmes, dos discos, dos shows previstos e do que mais estivesse rolando no período. Hoje, com a situação completamente invertida pelas vicissitudes da vida, essa condição é motivo de chacota e a piada costuma ser justamente essa: a de que a última vez em que o Rodrigão nos apresentou algo realmente novo, que representaria um legítimo ponto de ruptura, foi com o Is This It. As caixas de som do Santanão nunca mais seriam as mesmas. Nem os ouvidos da vizinhança enquanto nos esgoelávamos entoando Last Nite num inglês meio macarrônico, que replicaríamos mais tarde no show no Pepsi On Stage.

Sim, eu peço desculpas a vocês pelas eventuais licenças poéticas, mas os textos desse quadro costumam ter essa verve bastante particular, sendo inevitavelmente recheados por subjetividades. Falar, afinal de contas, sobre como os Strokes equilibrariam a urgência do rock'n roll tocado sem firulas, que emulava aquilo que os Rolling Stones e o Velvet Underground já faziam há bastante tempo, talvez seja chover no molhado. Exagero na paixão desenfreada? Talvez. Lembro de ter passado por algum tipo de arrebatamento musical poucas vezes na vida. Talvez quando escutei o Nevermind, do Nirvana, ainda na minha infância. Mais tarde com o OK Computer, do Radiohead. Vá lá. Outros discos me emocionaram - casos do Modern Vampires of the City do Vampire Weekend, do Boxer do The National e do Deserter's Song do Mercury Rev. Juro, não foi o caso aqui. Mas ouvir um rock com menos invencionice, menos programação eletrônica, com aquele clima garageiro, enquanto My Sacrifice do Creed tocava nas rádios, com aquela pompa de quem fazia algo grande (mesmo sem fazer), era quase um alívio. 

E talvez não tenha sido por acaso que tantas bandas tenham aproveitado o hype para dar uma oxigenada nesse padrão como um todo. De Franz Ferdinand, passando pelo The White Stripes até chegar ao Arctic Monkeys, a "moda" do coletivo de terninho descolado comprado no brechó e do cabelo cuidadosamente desgrenhado, por alguns anos, faria a alegria das festas dos cursos de Comunicação Social mundo afora. Para o desespero dos puristas que, naqueles dias, ainda acreditavam  no rock "de verdade" como uma criação do Led Zeppelin ou do The Doors. Cantar, afinal, sobre frustrações amorosas e dores cotidianas ao som de baixo, guitarra e bateria com um vocalzinho enfumaçado, meio "bêbado", convenhamos, parecia não ser nada de mais. Mas era uma forma, vá lá, de resgate, de algo que parecia ter se perdido no decorrer dos anos 90. Algum tipo de nostalgia pulsante que, paradoxalmente, nos conectava ao mundo tecnológico, computadorizado e apressado que viria dali pra frente. A gente teima muitas vezes em voltar para o passado - muitas vezes fazendo isso de forma errada. "De muitos modos eles sentirão falta dos bons e velhos tempos / Algum dia, algum dia" entoaria Casablancas em tom quase premonitório no começo de Someday, até hoje uma das favoritas. Ele estava certo?

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