terça-feira, 6 de julho de 2021

Cinemúsica - Clube dos Cinco (The Breakfast Club)

De: John Hughes. Com Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Molly Ringwald, Judd Nelson e Ally Sheedy. Comédia dramática, EUA, 1985, 97 minutos.

Acho que poucas vezes na história do cinema, um filme ficou tão "amarrado" à sua trilha sonora, como no caso de Clube dos Cinco (The Breakfast Club) - o libelo adolescente dirigido por John Hughes (Curtindo a Vida Adoidado) e que era figurinha fácil na Sessão da Tarde três décadas atrás. Sim, basta que ouçamos os primeiros acordes do clássico Don't You (Forget About Me) do Simple Minds - que até hoje toca com assiduidade nas rádios com programação light -, para que nos recordemos dessa pequena joia sobre cinco adolescentes que, de castigo em um sábado qualquer, precisam escrever juntos uma redação de mil palavras que lhes alivie da punição. Completamente diferentes entre si, os cinco quase não sobrevivem à prova da quebra de estereótipos tão comuns em filmes do gênero, sendo representados pelos arquétipos do atleta (Emilio Estevez), do bad boy (Judd Nelson), da patricinha (Molly Ringwald), do nerd (Anthony Michael Hall) e da esquisitona (Ally Sheedy).

Os problemas de cada um variam das dificuldades de relacionamento com os pais, passando pelas inseguranças típicas da juventude (a longa discussão sobre virgindade dá um indicativo a respeito da supervalorização do tema), até chegar naquele anseio de mudar esse mundo careta, conservador e anacrônico no qual eles estão inseridos (em que adultos com roupas como as do Barry Manilow decidem como eles devem agir). Iconoclasta em muitas etapas - ainda que, atualmente, alguns instantes possam soar meio datados -, o filme já abre com uma inesquecível sequência em que cada um dos cinco jovens chega à contragosto na escola, enquanto a canção que norteia a película vai ocupando nossos ouvidos. Em cada corte da montagem inicial, um pequeno fragmento que dá conta do tipo de vandalismo que o educandário precisa lidar (lixeiras viradas, pichações aleatórias, prédios depredados). E um diretor linha dura (Paul Gleason), que trata de enquadrá-los.

Analistas como a crítica da Revista Empire Joanna Berry destacam que um dos grandes méritos do filme, é o de "finalmente mostrar adolescentes como realmente falam e pensam". Nesse sentido, não há muito espaço para concessões. Para começar o linguajar chega a ser perversamente chulo, com direito a sugestões que aludem a agressões sexuais, que rapidamente derivam para a verbalização generalizada de ressentimentos. Especialmente no início a relação é truncada. E, assim será por um bom tempo, já que cada um deles têm motivo para estar de cara com a situação. Será lá pelo meio do filme, em meio a uma tentativa frustrada de fuga, que culminará em uma sessão coletiva de maconha (o volume de fumaça gerada é típica dos filmes de humor que brincam com a situação), que os ânimos começarão a ser apaziguados. Com cada um ouvindo mais do que falando, compreendendo um ao outro, e percebendo que podem ser muito mais parecidos do que suas vestimentas ou preferências musicais fazem parecer crer.

É uma mensagem simples de aceitação do diferente, que parece ser ecoada pelo lirismo perfeito da música do Simple Minds, com sua costura ambiguamente radiofônica e classuda, que é complementada pela letra etilicamente romântica - Eu estarei dançando sozinho, você sabe, baby / Me conte seus problemas e dúvidas. No livro Música Pop no Cinema, o jornalista precocemente falecido de covid-19 Rodrigo Rodrigues lembra que a canção foi escrita exclusivamente para a obra, após outros artistas como Pretenders, Billy Idol e Brian Ferry declinarem do convite. O resultado? O coletivo inglês que circulava discretamente pelos inferninhos, sem fazer muito barulho, foi catapultado para o estrelato graças ao sucesso comercial da música (tocada à exaustão naqueles efervescentes anos 80). Já, para o público, permanece até hoje na "retina" a imagem esmaecida de Judd Nelson na conclusão da obra, com o braço erguido e óculos escuros - um adolescente vitorioso, que parece ter conseguido levantar a cabeça para encarar o mundo de frente. Inesquecível.

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