quinta-feira, 15 de julho de 2021

Grandes Cenas do Cinema - Thelma & Louise (Thelma & Louise)

De: Ridley Scott. Com Geena Davis, Susan Sarandon, Harvey Keitel, Brad Pitt e Michael Madsen. Drama / Aventura / Ação, EUA, 1991, 130 minutos.

[ATENÇÃO: ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS]

Impressa para sempre no coração de qualquer cinéfilo, a cena final de Thelma & Louise (Thelma & Louise) é um marco não apenas visual, mas também simbólico. Estafadas, violentadas, perseguidas - pela polícia, por namorados/maridos escrotos, pelo contexto social patriarcal que junta ocupações patéticas e rotinas simplórias -, as protagonistas vividas de forma inesquecível por Geena Davis e Susan Sarandon se jogam de carro, em um desfiladeiro no Grand Canyon. Como uma espécie de medida extrema que visava a interromper o ciclo de violências a que estavam submetidas, a morte parece ser a única (e dolorosa) solução. Forte, impactante e surpreendente, o filme dirigido por Ridley Scott apresentou para uma geração ainda desacostumada com a pauta feminista, uma obra que tinha como fio condutor a luta pelo respeito a igualdade entre os gêneros. Nas aparências, um road movie aventuresco. Nas suas entranhas uma experiência potente, que desafiava as convenções.

E, de alguma forma, confesso que rever esse clássico noventista, que mal completou 30 anos de seu lançamento, me arrancou um sorriso. Sim, há uma melancolia generalizada que permeia toda a narrativa - e o o escaldante e arenoso Sul dos Estados Unidos parece contribuir de forma decisiva para essa sensação. Mas assistir Sarandon e Davis derrubando um por um os seus obstáculos - subvertendo a lógica e assumindo o protagonismo em sua literalidade (de arma na mão, sem medo de explodir miolos de sujeitos toscos, machistas, misóginos e de estupradores em potencial) - torna a experiência curiosamente atual. Em um momento político, cultural e social em que a masculinidade frágil é simbolizada por líderes inseguros e que não escondem a sua aversão às mulheres, o salto de carro para o abismo adquire um caráter quase messiânico. Diante de situações extremas, atitudes extremas. Que certamente levaram plateias embasbacadas para fora do cinema, enquanto os créditos subiam.

Mas Thelma & Louise, a despeito do "panfleto político" também segue inesquecível como narrativa de ação e aventura. O filme começa com as duas amigas - Thelma, uma dona de casa de vidinha ordinária (Davis) e Louise, uma garçonete sem muitas perspectivas (Sarandon) - com a intenção de fazer uma viagem de final de semana (ocasião em que terão uma espécie de folga do MUNDO em meio a pescarias, risadas e cumplicidade). Só que a coisa começa a sair do controle quando elas param em um bar típico daqueles do Sul dos Estados Unidos (no Estado do Arkansas), cheio de rednecks imbecilizados, que misturam religião, armas, motos e comportamento provinciano em igual medida. Depois de dançar e flertar com um desses sujeitos - um certo Harlan (Timothy Carhart) -, a ingênua Thelma vê a coisa sair do controle. Pior, só é salva de um estupro depois que Louise mata o homem que violentaria a sua amiga. Tudo no estacionamento do local.

E essa é a deixa para que as duas "batam em retirada". Em meio a planícies do Texas, do Novo México e do Arizona, a intenção será a de fugir para o México. Tentando passar despercebidas pela maioria das pessoas (e pela polícia). Na jornada conhecerão outras figuras que parecem impregnadas àquele contexto - um jovem cauboi (Brad Pitt em começo de carreira), um caminhoneiro babaca, com uma inexplicável autoestima hétero, um policial que parece figurante dos Simpsons. Além dos namorados/maridos, empenhados em "resgata-las" daquele idílio. E há a polícia, claro. Que tem apenas a informação de que um assassinato aconteceu. Mesmo que este tenha sido em legítima defesa. Ao cabo, trata-se de uma obra também sobre amizade - e sobre quais os limites destas -, que nos prende, em meio a cenários tão opulentos quanto desoladores. Não por acaso, o filme receberia seis indicações ao Oscar - com Callie Khouri tendo faturado a estatueta pelo seu bem amarrado roteiro. Simplesmente inesquecível.

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