sexta-feira, 9 de julho de 2021

Cine Baú - Conta Comigo (Stand By Me)

De: Rob Reiner. Com Jerry O'Connell, Will Weaton, Corey Feldman, River Phoenix, Kiefer Sutherland e Richard Dreyfuss. Comédia dramática / Aventura, EUA, 1986, 89 minutos.

"Nunca mais tive amigos com o aqueles que tive aos 12 anos. Mas, por Deus, quem tem?" Dita quase ao final do filme pelo sensível Gordie (na fase adulta, vivido por Richard Dreyfuss), a sentença acima serve quase como um resumo da ideia geral que norteia a narrativa do clássico infanto-juvenil Conta Comigo (Stand By Me), do diretor Rob Reiner. Amigos verdadeiros, leais, com todas as suas virtudes e defeitos, erros e acertos, Gordie teve no início da adolescência. Mais do que isso: foi com eles que viveu uma aventura que marcaria as suas vidas para sempre. Era o caudaloso verão de 1959, na cidadezinha de Castle Rock, povoado de pouco mais de 1,2 mil habitantes no Estado do Oregon. Em uma tarde de tédio em que jogos de cartas se misturam com tragadas aleatórias em cigarros evidentemente impróprios para crianças, um afobado Vern (Jerry O'Connell) chega à casa na árvore para contar a novidade: há um cadáver nos arredores e eles podem descobrir onde ele está. Antes das autoridades, da polícia, da imprensa e de outros interessados.

Bom, essa é a deixa para que Gordie e Vern partam ao lado do intempestivo Teddy (Corey Feldman) e do durão Chris (River Phoenix) para tentar localizar o corpo. Avançando junto a um trilho de trem, percorrerão alguns bons quilômetros em dois dias, superando uma série de desafios - entre eles o dono pouco amistoso de um ferro-velho, e um local pantanoso povoado por sanguessugas. Fora o próprio trem que, mais de uma vez, se apresentará como um risco, sendo marcante a sequência em que o quarteto resolve atravessar uma ponte sem nenhum guard rail disponível. Trata-se ao cabo de uma jornada meio incerta, que terá o amadurecimento como destino. Ao procurar um corpo desfalecido o grupo, como num paradoxo, encontrará a "vida". Sairá para o mundo, mais ou menos como fizeram os jovens fugitivos do clássico literário Todos os Belos Cavalos de Cormac McCarthy.

Com ótimas interpretações do elenco central, a obra também aproveita as paisagens tão bucólicas quanto hostis do Oregon, para transformá-las no cenário idealmente inóspito para a aventura que acompanhamos. Do rádio que insiste em tocar canções antigas enquanto um locutor faz uma agradável narrativa genérica sobre o cotidiano local, chegando aos garotos mais velhos (e bastante maldosos) que praticam bullying e também estão em busca do cadáver, tudo contribui para o sentimento de nostalgia que rege a trama. Não por acaso, é praticamente impossível não se identificar com os diálogos meio sem sentido, mas inacreditavelmente apropriados dos quatro - com destaque pra sequência em que, em volta da fogueira, eles tentam decidir o que exatamente é o Pateta (já que o Mickey é um rato, o Donald é um pato e o Pluto é um cachorro). O mesmo valendo para a sequência que envolve um concurso de "comer torta" (aquele momento metalinguístico que parece um tipo de Stephen King dentro de um Stephen King).

Com uma única indicação para o Oscar, na categoria Roteiro Adaptado - o filme, aliás, entra na leva das boas adaptações da obra de King (ao lado de Um Sonho de Liberdade e Louca Obsessão, por exemplo) -, a obra se tornaria cultuada pela geração que cresceu nos anos 80, e que se acostumou com produções em que jovens quebravam a rotina indolente para viver algum tipo de aventura. Expediente desse tipo se repetiria em outros filme da Sessão da Tarde, casos de Curtindo a Vida Adoidado (1986), Os Goonies (1985) e mesmo produções menores, como a inesquecível Os Herois Não Tem Idade (1984). Talvez o sabor de nostalgia também tenha a ver com isso. Com o fato de que as produções ficaram "grandes" demais para uma análise mais íntima, mais direta e mais conectada com os anseios, desejos, medos e sonhos do pré-adolescente comum.

Nenhum comentário:

Postar um comentário