Os fãs dos Arctic certamente se acostumaram com aquela urgência de pista eletrônica empoeirada/retrô/urbana/inferninho que trouxe ao mundo uma infinidade de hits prontos para o consumo imediato como I Bet You Look Good On The Dancefloor, Dancing Shoes, Fluorescent Adolescent e 505. O negócio definitivamente era se divertir - especialmente em 2006/2007 quando o vocalista Alex Turner era um piazote de 20 ou 21 anos. Só que quando o tempo passa, a gente muda. Evolui. Amadurece. Muda as nossas percepções sobre o mundo, sobre a vida, sobre tudo. Amplia a nossa bagagem intelectual e, consequentemente, nossos conhecimentos. Se há dez anos atrás um disco "conceitual" poderia ser tratado como uma ideia absurda não apenas para banda, mas também para os fãs, agora, já caminhando para os 15 anos de carreira, talvez os ingleses se sintam mais seguros em formatar esse tipo de proposta. Ainda mais depois do sucesso estrondoso de crítica e de público que foi o trabalho anterior, AM (2013).
Esse papo todo me fez lembrar outras bandas que, lá pelas tantas, abandonaram as propostas mais juvenis para investir em uma levada mais adulta, não apenas no que diz respeito aos arranjos (as vezes menos elétricos e mais eletrônicos), mas também as letras (e, de sopetão, consigo citar duas: Supergrass e Green Day). Sim, amigos, o que talvez seja um esboço de Kid A de Turner e companhia, nada mais é do que fruto do amadurecimento. Que bom, que bom que somos assim e não ficamos presos no mesmo lugar, fazendo sempre as mesmas coisas, apenas para agradar alguém. Em entrevista a rádio BBC de Londres, Turner afirmou ter vergonha de algumas letras antigas do grupo. Talvez não seja para tanto, mas não podemos negar que uma letra espetacular como a da inaugural Star Treatment, que brinca com as decepções resultantes da fama e do desconforto provocado pelo culto a mídia, é não menos do que sensacional - Todo mundo está em um barco flutuando abaixo do fluxo interminável da grande TV, sussurra Turner.
Assim como na primeira canção, há espalhado por todo o disco, e em seu rico catálogo de letárgicas variações rítmicas, um clima meio futurista, de ficção científica classuda e meio oitentista, guiada por canções que funcionam como divagações verborrágicas e atormentadas na mesma medida. Não, não é um trabalho fácil e quem se arriscar a escutar o disco com as letras a tiracolo encontrará, aqui e ali, uma espécie de crítica generalizada a uma espécie de mal estar da modernidade, com seus excessos consumistas, diferenças sociais, burocracia nas grandes corporações e romances falidos. O tipo de experiência artística que se estende, inclusive, para a capa do disco, uma emulação de um hotel que talvez, de fato, pudesse existir no Mar da Tranquilidade, no lado escuro da lua. Excêntrico, eventualmente indecifrável, frequentemente debochado, mas invariavelmente saboroso. Um disco que cresce a cada audição e que eleva a já conhecida qualidade do quarteto para um outro patamar.
Nota: 8,3
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