terça-feira, 21 de maio de 2019

Tesouros Cinéfilos - Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption)

De: Frank Darabont. Com Morgan Freeman, Tim Robbins, Bob Gunton e Clancy Brown. Drama, EUA, 1994, 142 minutos.

Talvez não seja exagero afirmar que Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption) se consiste em uma das maiores fábulas sobre o poder da amizade, no cinema moderno. E também sobre manter a esperança, mesmo diante de adversidades que parecem intransponíveis. E, vamos combinar, é incrível como essa obra - era a estreia de Frank Darabont adaptando Stephen King - envelhece bem. O roteiro sinuoso que faz com que vivenciemos a experiência de torcer por presos que, na verdade, são os mocinhos (especialmente em um sistema prisional abusivo), somado a interpretações grandiosas e repletas de sutilezas formam o combo para uma obra que faz a crítica à modelos opressores, mas sem por isso soar pesada, desgastante, aflitiva. Há uma mistura de gêneros que flui de forma natural, assim como é natural a inesquecível narração em off de Red (Morgan Freeman).

Red funciona como um guia para a história que inicia no ano de 1946. É ele que fala sobre a chegada de Andy Dufresne (Tim Robbins) à prisão de Shawshank, um jovem e bem sucedido banqueiro que tem a sua vida modificada quando é sentenciado à prisão perpétua por, supostamente, ter matado a sua esposa e o amante. O silêncio inicial de Andy revela um certo mistério à respeito de seus hábitos que, somente mais tarde, quando este se aproximar de Red, perceberemos que são bastante meticulosos. Tão meticulosos que Red gargalhará quando Andy pedir a ele - ele é o sujeito que consegue objetos no "mercado alternativo" da prisão - um pequeno martelinho de pouco mais do que 20 centímetros. E um cartaz em tamanho grande da Rita Hayworth. E pedras, para a produção de peças de xadrez - quase uma metáfora para o tipo de jogo que veremos ser jogado na tela.


A narrativa se desenvolverá sem pressa e quase não a veremos passar. Há uma alternância de pequenas e comoventes sequências - como aquela em que um grupo de detentos faz uma parada para tomar cerveja (pequeno prazer obtido a partir de uma troca de favores em meio à uma obra) -, com outras mais impactantes, como no momento em que um jovem preso é assassinado por policiais, como forma de apagar evidências que poderiam significar a inocência do protagonista. É uma película, afinal, sobre persistência e força de vontade, que coloca de um lado a perversidade dos oficiais do Estado e de outro um grupo de pessoas que está tentando se reenquadrar em uma sociedade que, dificilmente, lhes aceita. E talvez seja por isso que tenhamos tanta GANA dos guardas do sistema prisional, com sua óbvia mistura de bala e bíblia, o que contribui para que torçamos com todas as nossas forças para que os planos de Red e Andy deem certo.

No inesquecível terço final, Andy, com toda a paciência do mundo, já ganhou a confiança de seus algozes, sendo o responsável por organizar a documentação da prisão, aumentando o aporte de recursos a partir da lavagem de dinheiro e com a adoção de um sistema de subcotas em formato de suborno - ele era um banqueiro, afinal. E as tragédias vistas dentro do sistema falido da prisão serão o combustível para que Andy avance com seu plano, enquanto nos deleitamos com a narração dos acontecimentos, feita por Red. A respeito disso, é preciso que se diga: a obra possui uma vasta coleção de reflexões filosóficas, de grande valor humano e que funcionam, ainda que sejam ambíguas, do ponto de vista moral. "Esperança é uma coisa boa, talvez a melhor de todas e, nada do que é bom, deve morrer", divaga Andy a certa altura, como se resumisse o espírito dessa obra tão monumental, que ficou com a 72ª posição em lista do American Film Institute (AFI) com os 100 Melhores Filmes de Todos os Tempos. Inesquecível.

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