segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Pérolas da Netflix - Maudie: Sua Vida e Sua Arte (Maudie)

De: Aisling Walsh. Com Sally Hawkins, Ethan Hawke, Gabrielle Rose e Kari Matchett. Drama, Canadá / Reino Unido, 2016, 115 minutos.

Enquanto assistia a Maudie: Sua Vida e Sua Arte (Maudie), me perguntava o por quê de um filme tão bonito e tão bem feito ter passado completamente batido nos cinemas. Bom, antes tarde do que mais tarde a Netflix adquiriu o título para o seu catálogo e, justiça seja feita, trata-se de uma obra com praticamente zero defeitos. A trama conta a história da artista plástica Maud Lewis (Sally Hawkins, em mais uma grande interpretação) que, desde a juventude, conviveu com um severo problema de artrite reumatoide, que lhe causava desconforto e deformações nas articulações do corpo. Tida como inapta - especialmente pela dificuldade de locomoção - conviveu com o abandono da família, sendo acolhida meio aos trancos e barrancos por uma tia. A oportunidade de sair de casa surge quando um pescador brutamontes de nome Everett (Ethan Hawke) lhe contrata para auxiliar nos afazeres domésticos de sua pequena casa, que fica nas redondezas.

"Auxiliar nos afazeres domésticos" é uma forma quase amável demais para indicar aquilo que o sujeito fazia. Sem nenhum pudor Everett humilhava Maud, lhe agredia (inclusive fisicamente), além de fazer diversas exigências relativas ao cumprimento de suas tarefas. Era uma relação truncada, com ambos vivendo as turras. Entre idas e vindas, Maud acaba indo morar no seu local de trabalho. Uma casa suja, bagunçada, acinzentada e sem vida que, aos poucos, passará a receber alguma cor por causa do talento de Maud para a pintura. Um talento escondido, louco para vir à tona. No começo, de forma deliciosamente desafiadora, pinta as paredes da própria casa de Everett. O marrom das madeiras velhas passa a receber o verde, o azul e o amarelo das cores vivas saídas dos pincéis de Maud. Figuras bucólicas, prosaicas - animais, a natureza, objetos diversos. Everett fica ranzinza inicialmente. Reclama, estipula limites. Mas vai sendo dobrado pelo talento da sua "empregada". Pela sensibilidade artística. A mesma sensibilidade que nos transforma, que gera empatia, nos encanta.


Nos comentários sobre o filme vi muita gente reclamando de ser uma obra parada, sem uma grande história ou reviravoltas marcantes. Mas esse não é o caso aqui, já que esse é um filme plasticamente bonito, que utiliza a parte técnica a seu favor - do uso das cores na sua fotografia, passando pela trilha sonora de notas evocativas, até chegar a escolha das tomadas, que se apropriam de suas lindas paisagens para "transformá-las" em verdadeiras obras de arte. Repare como, por exemplo, muitos dos ângulos escolhidos, bem como os objetos cênicos são parecidos com quadros. Há um diálogo permanente com esse valor tão caro - o da arte - que se sobressai em cada fragmento da película. Maudie aparece muitos minutos pintando. E, de presente, ganhamos da diretora Aisling Walsh (de O Inferno de São Judas), uma coleção de imagens que representam aquele estado de espírito permanente - seja no bucolismo, na introspecção ou na placidez transmitida pelos gestos econômicos de sua protagonista.

Há também o componente "romântico" da narrativa. Conforme vai sendo impactado pelas obras - e pelo universo como um todo de Maudie -, Everett vai se afeiçoando a ela. Aliás, a seu modo se apaixona por ela, que se torna sua esposa. Mais tarde brigará pela sua arte a seu lado, ainda que, aqui e ali, os pequenos conflitos confiram alguma cor (com o perdão do trocadilho) a narrativa. É um filme de sensibilidade palpável, que salta do frio para o calor para nos aquecer juntos, enquanto assistimos aos pequenos e coloridos cartões da artista ganharem vida. Há uma ou outra surpresa de impacto na reta final - que nos farão refletir sobre o tratamento dado as pessoas com deficiência -, mas o que fica mesmo é o reconhecimento tardio da pintora, que quase ao final da vida chamou a atenção da mídia e até do presidente norte americano Richard Nixon. Poético, delicado, contemplativo, Maudie: Sua Vida e Sua Arte é daquelas obras que merecem ser descobertas.

12 comentários:

  1. Achei o filme delicado, quase uma poesia. Fiquei apaixonada pela sensibilidade e doçura da Maudie.

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    1. Obrigado pelo comentário, Denise! O filme realmente é dotado de grande sensibilidade!

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    2. Esse filme é uma pintura indescritível.

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  2. Que descrição perfeita..Eu simplesmente me encantei com o filme do início ao fim..De fato uma obra de arte.

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  3. Linda a sua leitura do filme, Tiago! O filme, que já havia me encantado, ganhou ainda mais graça após seu parecer!

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    1. Obrigado pelo comentário, Loreci! É um filme realmente encantador! Abração.

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    2. Eu queria uma série!! Muito lindo! Que mulher maravilhosa! Doce e intekigente.Sensível e conquistadora! Um filme que me pegou de surpresa! Não espera assistir a algo tão tocante! Me prendeu do início ao fim..Pena ...teve fim! Postei em meu insta ...mandei pelo WhatsApp..não se pode perder ! Privilégio assistir! Atriz e ator muito realistas! Sem saber como expressa...sem palavras...um fos melhores que assisti nessa pandemia! Nota 1000000000

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  4. Concordo contigo, o filme é maravilhoso!
    -Perfeito!
    Para mim, ele já está entre os melhores .

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  5. Maudie é um filme lindo... A história de Maudie reflete o que muitas mulheres portadora de Artrite reumatoide vivência, ela nos ensina co.o lidar com as limitações sem desistir da vida. Pra mim Maudie foi uma lição de vida.

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