quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Lado B Classe A - Taylor Swift (1989)

Talvez seja um dos maiores clichês da crítica especializada musical - nós não nos incluímos nela, só pra constar -, falar em maturidade do artista, conforme seus discos vão sendo lançados. Sim, é uma coisa meio óbvia pensar que éramos uma pessoa aos 20 anos e que, muito provavelmente seremos outra aos 30. E mais ainda outra aos 40. O tempo passará e com ele virão as experiências que nos formarão. Que servirão de aprendizado. E que darão sentido à nossa existência. Se para nós, reles mortais, esse lugar-comum é algo um tanto inevitável, é possível afirmar que para cantores/compositores isso também seja uma possibilidade. E, no caso da norte-americana Taylor Swift, uma análise de sua discografia - ela acaba de lançar seu sétimo álbum de estúdio, chamado Lover - também nos permitirá essa conclusão. Há 13 anos, quando lançou seu primeiro disco - na ocasião uma jovenzinha de 17 anos -, Taylor era uma. Agora, perto dos 30, certamente é outra.

Bom, nós não queremos com esse post falar de Lover - você lerá resenhas bem escritas nos mais variados sites de cultura e entretenimento (a gente indica o baita texto do nosso CHAPA CEL, do Célula Pop) - e, sim, do ponto de ruptura para Taylor, o que ocorre com o álbum 1989 de 2014. Daquele momento em que ela deixa de ser a menininha sofrenilda que pega seu violão na mão para compor um amontoado de músicas sobre como a vida lhe é dura, sobre como é difícil ser rejeitada, ser esquisita. Ser traída. Do homônimo álbum de 2006 até o bom Red (2012), a cantora transformava o seu trabalho em uma forma de exorcizar os dramas dos relacionamentos juvenis fracassados - o que, de forma simbólica, também aparecia em uma certa insipidez da melodia, quase sempre era um country/folk doloroso, de refrão autoindulgente onde a paisagem sonora que mais se destacava era a de um violão definitivamente bem tocado, mas eventualmente pálido. O sofrimento pálido da garota branquela de classe média também pálida.


Bom, sobre a chegada de 1989, é a própria Taylor quem admite, na época em que o álbum foi lançado, esse novo deslocamento de sua sonoridade - "esse é meu primeiro álbum oficialmente pop", publicou no material de divulgação, à época. E você, atento leitor do Picanha, poderá eventualmente perguntar o que há de maduro em, finalmente, ser pop? Se pensarmos do ponto de vista de gênero musical, talvez pudéssemos dizer, com alguma sinceridade, que NADA. Mas nesse caso, a mudança representava uma quebra de paradigma que viria a ser implementada por um coletivo de produtores como Shelback e Ryan Tedder. E foram justamente eles que viriam a incorporar ao cancioneiro de Taylor os sintetizadores mais efervescentes, os acordes de baixo palpitante, os vocais de apoio bem pontuados, uma percussão menos óbvia. Saía assim de cena o violãozinho insípido da garotinha tímida, para surgir em cena uma nova figura agora transformada, arejada e disposta a, de forma orgânica, produzir um "novo" tipo de som. Mais forte. Menos minimalista.

Mas o processo de "ruptura" talvez não seria totalmente possível se as letras, sempre sobre relacionamentos, também não passassem por uma repaginada. Se em canções como o single You Belong With Me, presente no disco Fearless, ela era a garota simples de coração bom, que usava tênis e camiseta, mas que estava sempre atrás da "líder de torcida", em Blank Space, single presente em 1989, ela toma as rédeas de quem está pronta pra mostrar "coisas incríveis ao seu parceiro", talvez sendo ela a figura paranoica que lhe faria uma espécie de contraponto anos atrás (o que também é atestado pelo ótimo videoclipe da música). Essa Taylor forte, que passou por vários relacionamentos fracassados, que cresceu, que amadureceu, reaparece em outros momentos do álbum, seja na noventista/festiva Welcome To New York (Todo mundo aqui era outra pessoa antes / E você pode querer quem você quiser) e All You Had To Was Stay (Pessoas como você sempre querem de volta / O amor que jogaram fora), que mais parece uma música do M83, fase Hurry Up We're Dreaming (2011).



Divertido, festivo, heterogêneo, o álbum nunca deixa a peteca cair. Ao não fazer mais o mesmo disco de sempre, Taylor não abandona completamente suas origens - é possível perceber elementos de sua discografia anterior aqui e ali, seja num refrão grudento, seja num comentário debochado sobre o absurdo dos relacionamentos amorosos juvenis e suas nuances. Mas, determinadamente, ela evolui, incorpora outros elementos, acrescenta camadas e, assim, uma maior densidade. Músicas como Out Of The Woods e Wildest Dreams, por exemplo, aproximam a artista muito mais de contemporâneas como Jessie Ware, do que necessariamente de Katy Perry. É música pop, mas nunca óbvia - e que pavimentaria o caminho para seus dois trabalhos seguintes, Reputation e o já citado Lover. Bem recebido pela crítica, o registro tem média geral de 76 no Metacritic - que compila notas da crítica especializada, com nota máxima de 100. O que também justifica a sua audição.

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