Não há premissa mais básica para que uma comédia romântica funcione do que a existência de uma boa química entre o casal protagonista. É preciso que torçamos por eles, que desejemos efetivamente que eles superem as adversidades e consigam ficar juntos. Mas infelizmente não é o que acontece no irregular Casal Improvável (Long Shot), a mais nova bobajada estrelada por Seth Rogen. Quem acompanha a carreira do ator sabe que, em seus filmes, ele quase sempre faz o mesmo papel: o do adulto nerd infantilizado que, perto dos 40 anos, continua sendo... o mesmo adulto nerd infantilizado. Aqui, ele é o jornalista Fred Flarsky, sujeito que trabalha em um site de ideais progressistas, que é comprado por um conglomerado de mídia comandado pelo conservador Parker Wembley (Andy Serkis em ótimo papel).
Insatisfeito com os rumos tomados pela empresa em que trabalha, Fred pede demissão e, numa noitada para "celebrar" essa nova fase - ele vai a uma festa com seu amigo Lance (O'Shea Jackson Junior) - ele acaba reencontrando a sua babá da adolescência. Detalhe: a babá em questão é a atual Secretária de Estado norte-americana Charlote Field (Charlize Theron), que deverá concorrer à presidência nas próximas eleições. Um encontro desajeitado entre ambos na festa, motiva Charlote a contratar Fred para a sua equipe de comunicação. Com a qualidade apresentada por seus trabalhos na imprensa, ele é incumbido de escrever os discursos da líder, que faz campanha por todo o mundo, com a intenção de colocar em prática uma agenda ambientalista. Não demora para que ambos engatem um romance - mesmo não tendo absolutamente NADA a ver.
Pra mim o absurdo de um casal formado por Seth Rogen e Charlize Theron nem está tanto na discrepância entre a beleza de ambos. O caso é que Fred é uma figura totalmente sem graça. Simplória. Sem profundidade. O seu comportamento de jornalista ligado aos temas sociais soa forçado - e mesmo em uma sequência efetivamente engraçada, como a dos neonazistas, ele parece apenas um estagiário boboca, atrás de uma boa matéria. A gente não acredita nele. Não acredita no que ELE supostamente acredita. Assim como é bobo ele não possuir uma roupa que preste, não sabendo o que usar em um evento mais formal. E o que Charlote enxerga nele não fica exatamente claro. Algum tipo de nostalgia juvenil que remete aos primeiros relacionamentos? Uma saudade do que não se teve? Ela é uma poderosa mulher, que tem lá suas ambições: por que ficaria com um sujeito que anda de boné e jaqueta surrada pra lá e pra cá, cujo assunto principal é Game Of Thrones? E que é totalmente brega na abordagem? Autenticidade? Huum, não me convence. É possível quebrar o status quo de outras formas.
Do ponto de vista do debate político, o filme até se esforça: há boas piadas e comentários sociais sobre feminismo e igualdade de gênero e sobre o absurdo da misoginia em um ambiente povoado por homens brancos e héteros. Há também algumas boas alfinetadas no Governo Trump - a cena em que Lance revela à Fred ser um republicano é disparada uma das melhores. E, não por acaso, o personagem de Bob Odenkirk (que vive o atual presidente), parece uma pessoa desprezível, interessada apenas em aparecer na TV e satisfazer seu ego. Aliás, uma outra boa sequência é quando o sujeito esbraveja por algum motivo no Salão Oval apenas para revelar, segundos depois, que se preparava para um teste para um papel. Mas mesmo esses momentos razoáveis não salvam a película daquilo que ela prometia. O discurso no fim das contas soa oco, quando a gente assiste as mesmas piadas escatológicas de sempre, sobre diarreias e masturbação e que Rogen e sua trupe parecem sempre achar engraçado. Mesmo não sendo. Bom, eu também sou filho de Deus e, de vez em quando, só quero uma comédia romântica pra desopilar: infelizmente essa não me fez rir. E o casal ainda era nada a ver.
Nota: 4,0
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