sexta-feira, 24 de maio de 2019

Novidades em DVD - Vidro (Glass)

De: M. Night Shyamalan. Com Bruce Willis, James McAvoy, Samuel L. Jackson e Sarah Paulson. Drama / Ficção Científica, EUA, 2019, 129 minutos.

Vamos combinar, né: não deu certo a tentativa de M. Night Shyamalan de ligar os universos de Corpo Fechado (2000) e Fragmentado (2016). E não é porque a trama não faça sentido - a narrativa é até bem organizada e reserva algumas razoáveis surpresas pra reta final. Mas o problema mesmo é que Vidro (Glass) é chato pra cacete! É um filme longo, arrastado, com diálogos que beiram o risível, um roteiro que apresenta poucas inovações e que transforma a ideia da eterna homenagem às HQs em algo pouco inspirado e bastante redundante. Sim, com Corpo Fechado Shyamalan já fez o filme que presta tributo aos quadrinhos. E o fez com criatividade, adicionando sinuosidade a trama que ainda reservava um elemento surpresa no final, que deixaria os cinéfilos rindo à toa. Mas ao ligar os personagens daquele filme ao daquele estrelado por James McAvoy, tudo que o diretor conseguiu foi arrancar bocejos.

Ok, a intenção talvez não tenha sido das piores. São universos possíveis de estarem interligados. Ao final de Corpo Fechado, David Dunn (Bruce Willis) descobriria que era uma espécie de super-herói e que Elijah Price (Samuel L. Jackson) seria o seu antagonista - sendo o responsável pelas milhares de mortes no acidente de trem que assistimos. Já em Fragmentado, o sequestrador Kevin (James McAvoy) era o personagem que sofria de Transtorno Dissociativo de Personalidade, distúrbio que fazia o raptor dar lugar a uma criança de nove anos, a um professor de história ou a uma simpática dona de casa em questão de segundos. É quando Dunn, atuando como um misterioso vigilante, descobre quatro adolescentes mantidas como reféns em uma fábrica abandonada, que os universos deste e de Kevin se encontrarão. E, após uma violenta briga entre ambos, eles serão mandados para um hospital psiquiátrico para iniciaram um tratamento daquilo que os médicos acreditam ser apenas um problema mental.


E confesso que essa ideia até achei boa. A da existência de pessoas que acreditam que sofrem de alguma Síndrome do Super-Heroi (ou algo do tipo), com os seus supostos superpoderes podendo ser perfeitamente explicados pela ciência. É como naqueles filmes sobre exorcismo, que poderiam dar conta da possessão demoníaca a partir de uma lógica racional. Assim, a Fera (uma das personalidades de Kevin) seria realmente forte e capaz de escalar paredes? Já David, seria realmente imortal? E qual seria o superpoder de Elijah? A sua mente brilhante? Todos esses aspectos são conduzidos de forma coerente, a partir do trabalho da doutora Ellie (Sarah Paulson), que acredita que tudo aquilo que relatam os seus pacientes, é mera ilusão. Nesse sentido o filme se torna muito menos uma disputa do bem contra o mal e de mocinhos e bandidos e muito mais sobre um grupo de pessoas doentes que lutam contra um sistema médico que os oprime.

Essa é a parte legal da coisa. Mas na tentativa de homenagear novamente e de todas as formas às HQs, Shyamalan exagera na construção da história que é toda explicadinha o tempo todo por Elijah (vem cá, o espectador é tão burro assim que não consegue entender o que está rolando?). Por exemplo, lá pelas tantas, o personagem de Samuel L. Jackson sugere que a "batalha final" entre os protagonistas deveria se dar no topo e um prédio que será inaugurado naquele dia. E ele bate nessa tecla mais de uma vez! Não dava pra gente supor e chegar a uma conclusão do tipo "claaaaro, nos gibis é sempre assim, com a luta final ocorrendo em algum espaço monumental". Nesse sentido, os excessos expositivos também transformam Vidro em uma caricatura em que diálogos como "você está lutando pelos desajustados, você encontrou seu propósito", são ditos sem nenhuma vergonha. Só que é vergonhoso.


E ainda que McAvoy se esforce na composição das múltiplas personalidades daquilo que é chamado de "horda", as demais figuras do elenco parecem operar desde o primeiro segundo no piloto automático (bom, Willis não muda a expressão em momento nenhum, sendo que a gente nunca sabe o que ele realmente está pensando pois ele está sempre com a mesma fisionomia). Jackson tem algumas nuances interessantes, mas o roteiro insuficiente lhe lega um papel apenas secundário no desenrolar da trama - e confesso que desejei muito que houvesse uma história realmente legal a ser contada, unindo esses dois universos. Só que não foi dessa vez, Shyamalan. É novamente um filme que fica no quase e que faz com que a gente tenha, inclusive, um sentimento de deja vu durante as mais de duas horas da película. Que, pra piorar, ainda passam vagarosamente.

Nota: 4,5

Um comentário:

  1. Bem chato mesmo. Confesso que tive bastante boa vontade. Mas, no final, perdi completamente o interesse. Pena pela grana gasta para ver...

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