segunda-feira, 13 de maio de 2019

Pérolas da Netflix - Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls)

De: J.A. Bayona. Com Lewis MacDougall, Felicity Jones, Sigourney Weaver, Liam Neeson e Geraldine Chaplin. Drama / Fantasia, EUA / Espanha / Reino Unido, 2016, 108 minutos.

Que agradável surpresa esse Sete Minutos Depois da Meia-Noite (A Monster Calls). Aquele tipo de filme "pequeno", que a gente não dá muito, mas que se revela uma experiência cinematográfica revigorante que, de quebra, ainda conta com uma série de mensagens edificantes, apresentadas sem um pingo de pieguice. Na trama, o jovem Conor (Lewis MacDougall) precisa lidar com um terrível fato: a sua jovem mãe sofre de um câncer terminal. E como desgraça pouca é bobagem, ainda há um pai ausente, uma avó um tanto linha dura e os colegas de aula que lhe incomodam. Impactado por uma vida real que é um saco, Conor tem o mesmo sonho todas as noites. Nele, aparece uma árvore gigante disposta a lhe contar histórias se, em troca, o garoto lhe contar a sua história. Na curiosa interação poderá estar a chave para solucionar o recorrente pesadelo que o menino tem: o de ver a sua mãe morrendo, em meio a uma fantasiosa tempestade.

Bom, não será preciso ser nenhum gênio para compreender que os sonhos de Conor nada mais serão do que a manifestação do seu inconsciente em um processo de readaptação da vida real - o que inclui aí as histórias contadas pela árvore (que tem a voz do Liam Neeson). Em cada narrativa, uma reviravolta, uma surpresa. E a descoberta de que nem tudo é o que parece, o tempo todo. E que os sentimentos que temos por aqueles que amamos, podem se alterar de acordo com as variáveis. Ver um parente sofrendo por causa de uma grave enfermidade, se preparar para o inevitável processo de luto, superar a tristeza que parece ser o fundo do poço... em cada uma das histórias da árvore, com reis, rainhas, exércitos que derramam sangue, bispos e feiticeiros, as metáforas inadiáveis para tudo aquilo que Conor precisará passar. E que o fortalecerá, ao final.


E, nesse sentido, um filme que fala de morte, de dor e de luto de uma forma tão adulta e inteligente merece todos os elogios do mundo. Ainda que o protagonista seja um menino de 12 anos, não há nada de infantiloide na abordagem e mesmo os desenhos que representam os coloridos contos da árvore - completamente sinuosos, eventualmente surrealistas, com traços e cores fortes, amparados por uma trilha sonora evocativa - são trazidos de forma orgânica, guarnecidos pela voz de barítono de Neeson. É tudo muito bonito. Eventualmente lúdico. Mas cheio de significados, em meio a simplicidade e a completa ausência de maniqueísmo. O que faz com que a gente compreenda as motivações de praticamente todas as pessoas que vemos na tela - bem como seus anseios, angústias e tristezas.

Com um elenco que ainda conta com Sigourney Weaver, como a avó que mostra os lados megera e carinhosa em igual medida, e Felicity Jones, como a mãe, J. A. Bayona mantém a boa média - depois de bons filmes como O Orfanato (2007) e O Impossível (2012). Aliás, após um suspense e um filme-catástrofe, a aposta na fantasia é um verdadeiro atestado da versatilidade do espanhol, que não se furta em utilizar uma série de rimas visuais como forma de evidenciar os seus propósitos - como é o caso, por exemplo, da sequência em que Conor "destroi" parte da casa de sua avó (o que inclui um relógio), como a representação de um ponto de ruptura, de quebra, para a necessidade de se deixar algo para trás, aceitando o que está por vir. É cinema de "gente grande" travestido de obra que brilha na Sessão da Tarde. Os cinéfilos agradecem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário