Quase desnecessário dizer que o registro é repleto de momentos emocionantes e que dão conta da sinergia existente entre banda e público. Não à toa, a impressão que se tem é a de que a vocalista Uyara Torrente interpreta as canções amparada por centenas de pessoas nos backing vocals, que cantam cada uma das músicas a plenos pulmões, com vontade, de coração. A própria Uyara não é apenas uma moça cantando músicas para alguém ouvir. Na melhor tradição das intérpretes brasileiras do passado, a artista parece viver genuinamente cada uma das canções que executa, entregando uma performance capaz de passar da melancolia para a ferocidade, da introspecção para a energia, em segundos. Não se trata apenas de uma voz ao mesmo tempo doce e potente. É presença de palco. É vibração. Enfim, é amor por aquilo que se faz.
É claro que, muito provavelmente, isso não seria possível não fosse o nítido clima de camaradagem entre os integrantes. Tocar e cantar, para A Banda Mais Bonita da Cidade, parece mais ou menos como apreciar uma lauta refeição, no caso do glutão. Ou como um culto, para aquele fiel mais engajado. É um prazer. E se o tecladista Vinícius Nisi, o baixista Marano, o guitarrista Thiago Ramalho e o baterista (e brother) Luís Bourscheidt garantem a instrumentação e o clima necessário para o andamento perfeito do ponto de vista musical, convidados especiais como Bernardo Bravo, China, Leo Fressatto, Rodrigo Lemos e Troy Rossilho garantem o brilho em momentos íntimos e intensos. Nesse sentido, é praticamente impossível não se emocionar com participações como a de Léo Fressatto, em Canção Pra Não Voltar e Solitária - esta última, a do indefectível refrão Vou cometer harakiri / Mesmo sabendo que nesse momento você ri.
Do ponto de vista técnico, a cenografia (de Tainá Azeredo), a iluminação (de Victor Sabbag e Fábia Regina), a fotografia (de Rosano Mauro Jr.) e a direção de vídeo (de Arnaldo Belotto) também dão mostras de que a afinidade dos integrantes com aqueles que lhes acompanham vai para além do palco, chegando a uma equipe que facilmente ultrapassa as 40 pessoas, que, como uma família, estão empanhadas em levar o melhor a seu público. E, quando todos os integrantes e convidados sobem ao palco para o encerramento épico, com Oração, tem-se a certeza da plena cumplicidade, da parceria e da intimidade entre todos. Um símbolo que alcança os fãs, representados pela já inesquecível "cena dos balões brancos", ainda capaz de surpreender os integrantes d'A Banda, mesmo que estes já estejam familiarizados com tanto carinho.
Para quem ainda não conhece o trabalho dos curitibanos, talvez o lançamento deste DVD possa representar uma bela porta de entrada para quem ainda não está familiarizado com aquela que talvez seja uma das mais simpáticas bandas nacionais da atualidade. E que, inacreditavelmente, ainda não tocou aqui em Lajeado - mesmo sendo esta a cidade natal do baterista, amigo e parceiro aqui do Picanha Luís Bourscheidt (o nosso eterno Geleia), a quem a gente agradece por ter enviado o trabalho. (Alô, empresários da cidade!) Nessas manhãs de frio / Quando a geada pinta a grama / E o azul do céu é de uma beleza que caçoa / Quando o nada, nada te faria tirar o pijama / Não fosse o vento que vai lá fora / É a voz do teu amor que chama agora, canta A Banda, na magnífica Boa Pessoa. O inverno é frio aqui pros lado do Sul. Mas só até a música começar a tocar. Simplesmente imperdível.
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