Quem acompanha o nosso site sabe do meu apreço por stand up comedy, o que considero uma das artes mais difíceis de se realizar: o artista e um microfone frente a uma plateia enorme com o imenso desafio de fazê-la rir com o seu monólogo milimetricamente roteirizado - mesmo que isso não seja evidente para o espectador. Mas aqui a questão é um tanto diferente: após um prólogo um tanto melancólico, somos levados ao palco onde acompanharemos Burnham, que irá utilizar dos mais variados subterfúgios para prender a atenção de seu público, seja no uso constante da música, recursos interpretativos que apelam para o humor físico, efeitos de luz e - o mais importante - seu dom como intérprete e compositor musical. Seja emulando um Eminem cantando hip hop, ou até um Elton John nas sensacionais performances ao piano, o humorista dá um verdadeiro show de versatilidade e inteligência que surpreende devido a pouca idade de seu criador.
Trazendo um tipo de humor que não lembro de ter visto até então, podemos considerar Bo Burnham como uma das maiores promessas do humor contemporâneo, trazendo frescor e originalidade a um tipo de performance até então carente de ineditismo. Não bastasse, o clímax final a lá Kanye West, onde vai até as últimas consequências sobre os problemas que a lata de batata Pringles representa para o consumidor (que não percebe os problemas do mundo a seu redor), bem como o estresse gerado por um burrito mal preparado em um restaurante de fast food mexicano, é absolutamente hilário e tragicômico. Refletindo no palco a necessidade inerente de cada ser humano em querer ser aceito e admirado, Burnham leva o seu humor aparentemente vazio a um patamar ainda mais elevado - revelando uma maturidade e visão de mundo extremamente consciente e crítica de seu autor. Mais uma grande sacada da Netflix, e uma pérola que recomendamos sem hesitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário