sábado, 18 de junho de 2016

Disco da Semana - Tegan and Sara (Love You to Death)

Parece não ter fim o "nicho de mercado musical" que se apropria dos elementos utilizados pelas bandas dos anos 80, transformando-os em novos, acessíveis e, por que não criativos produtos para consumo imediato. Se grupos como Chvrches, M83, Purity Ring e Passion Pit perfumam cada curva de seus discos e músicas com sintetizadores, teclados e outros fragmentos que nos remetem diretamente para aquela década, reinventando-os no instante seguinte com doses melódicas que atualizam o modelo para os nossos tempos - seja por meio da inclusão de outros instrumentos e efeitos ou mesmo por estilos vocais inovadores - outros coletivos preferem quase apostar naquilo que poderia ser chamado de "anos 80 de raiz", caso existisse essa denominação. É exatamente este o caso da dupla Tegan and Sara, que, com Love You to Death, chega ao seu oitavo registro.

Apostando no pop direto e acessível, a dupla canadense entrega o melhor da música comercial do período sem pensar em muitas invencionices. e afastando-se cada vez mais do modelo empregado no início de suas carreiras. Se em discos como So Jealous (2004), The Con (2007) e Sainthood (2009) ambas pareciam flertar tanto com a música romântica noventista - acrescendo até mesmo uma pitada de country music - como com o rock um pouco mais "agressivo" (mas sem perder, ao menos no caso delas, a ternura) das rrrriot girls, com o mais recente lançamento o que vale mesmo é se atirar na pista, como se não houvesse amanhã, cantando e dançando toda a sorte de canções comerciais, recheadas de refrões assobiáveis e de outros elementos que não fariam feio em algum disco do Roxette em início de carreira ou do Human League, na época do Dare!



A propósito do "ponto de ruptura" do estilo musical das meninas, é preciso que se diga que ele ocorreu justamente no trabalho anterior, intitulado Heartthrob (2013). Se por um lado as mudanças na musicalidade foram gritantes, pode-se dizer que as temáticas adotadas nas canções - muitas delas versando sobre relacionamentos amorosos (e suas desilusões), ou mesmo o cotidiano a dois - pouco mudaram. De quebra, versos como This love it may fall the faint of heart / When there's love, it's tough, no refrão da pegajosa Faint Of Heart ou mesmo You treat me like your boyfriend / And trust me like a, like a very best friend no single Boyfriend são capazes de ser tão íntimos dos ouvintes, que, invariavelmente, possibilitam uma identificação imediata, tornando a experiência de escutar o duo ainda mais satisfatória.

Se "na natureza nada se cria, tudo se transforma", já diria Lavoisier há mais de 200 anos, pode-se dizer que essa premissa vale também para o mundo da música. Assim como, nos dias atuais, é possível dizer que são centenas de bandas mundo afora buscando o título de "representante oficial de uma geração", pode-se dizer que existem outras tantas fazendo pop, rock, música eletrônica e R&B descompromissado, divertido, jovial, sem amarras. E é exatamente este o caso das meninas Tegan and Sara. Se ouvir o disco Love You to Death é ser jogado lá para o meio dos anos 80 num piscar de olhos, pode-se dizer que apreciá-lo, de alguma forma também é olhar para o futuro, aceitando a ideia de que existe muita música bacana na atualidade, voltada ao consumo imediato, sem que para isso precise haver algum rótulo sobre ela. Experimente escutar as ótimas Stop Desire, Dying to Know e 100x (baladinha das melhores, que ninguém é de ferro!) e tentar ficar imune a este "movimento". Garanto que será difícil.

Nota: 8,0



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