segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Pitaquinho Musical - Luiza Brina (Prece)

A oração menos no sentido estrito da religião e mais como uma súplica ligada à música, às artes e suas conexões. O que envolve também a sua capacidade de cura. Assim pode ser resumido, em alguma medida, o conceito por trás do do sofisticado, grandioso e poético Prece, quarto trabalho de estúdio da mineira Luiza Brina. Numa entrevista ao podcast Vamos Falar Sobre Música, a artista explicou que começou a escrever as suas orações - parte delas norteia o disco -, após uma severa crise de pânico ainda em 2010. Repleto de participações especiais - se Silvana Estrada a Iara Rennó passando por instrumentistas reconhecidos da região, como o percussionista Maurício Tizumba -, o projeto parece reforçar ainda a importância da coletividade no processo de construção das manifestações culturais - o que se observa não apenas na profusão de vozes , mas na riqueza das orquestrações, que tornam a experiência riquíssima para o ouvinte.

 

 

Ainda assim, por mais amplo e cheio de curvas surpreendentes que seja o registro, de forma alguma isso significa excesso de hermetismo. Com uma leveza quase onírica, a cantora converte cada canção em um fragmento de tapeçaria fina, capaz de se conectar com temas diversos ligados à MPB de fora do eixo - e que unem o o folclore, o encontro com a natureza e o aceno às religiões de matriz africana. Evidentemente os temas mais "mundanos" mão ficam de fora, como no caso da maravilhosa Oração 18, que talvez conte com os versos mais bonitos da temporada (Pra viver junto é preciso poder viver só / Pra gente se encontrar / Pra andar junto é preciso poder andar só / Pra gente caminhar). Brina já havia brilhado no cósmico Tão Tá (2017) e no romântico Tenho Saudade Mas Já Passou (2019). Mas com Prece ela alcança não apenas a maturidade, mas também a excelência de sua arte - rara, meticulosa e extremamente requintada. Uma joia.

Nota: 9,0


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