terça-feira, 13 de agosto de 2024

Pitaquinho Musical - Edgar (Universidade Favela)

Um disco muito mais pessoal e sobre si - e talvez mais distensionado na abordagem política ou de problemas sociais. Assim pode ser encarada a experiência com Universidade Favela, o quarto registro de estúdio do rapper Edgar. Porque o fato é que, por mais ativista que a pessoa seja, em muitos casos ela também quer relaxar, viver a vida, curtir, transar - especialmente após o Brasil se livrar de uma pandemia brutal e de uma extrema direita que parecia só se fortalecer. Nesse sentido, talvez não seja por acaso a abertura do álbum já ser com a movimentada Descansa Militante, em que os versos descontraídos e sensuais funcionam quase como uma carta de intenções a respeito do trabalho (Eita, caralho / Olha só, mas quem diria / Comecei na militância / E acabei na putaria). "É como se fosse uma sinopse, um indicativo da estrutura óssea do projeto", explicou o artista, nas entrevistas de divulgação.

 

 

O expediente se repete em outros momentos em que a urgência da vida periférica, com suas ameaças e caminhos incertos, se cruza com a diversão, a festa e os prazeres, como no caso da imprevisível Perigos Noturnos, em que uma madrugada vertiginosa é descrita como uma explosão de dança, sexo, dores e preconceitos. Misturando estilos distintos como trap, dancehall, grime, funk e reggaeton, Edgar consegue ser universal e particular em igual medida, ao retratar a quebrada como um espaço de profusão cultural, que encontra outras artes, línguas e experiências. Em Origami, por exemplo, ele mescla o berimbau e as religiões afro, com a cultura oriental - a partir da participação da japonesa Maia Barouh - sempre com rimas potentes, divertidas e cheias de comentários sociais bem resolvidos. Ao cabo, trata-se de uma experiência inventiva, fluída, sexy e mais explícita que ultrapassa os limites da América Latina. Pra deixar no repeat.

Nota: 9,0


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