terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Novidades em DVD/Now - Quem Você Pensa Que Sou (Celle Que Vous Croyez)

De: Safy Nebbou. Com Juliete Binoche, Nicole Garcia, François Civil e Guillaume Gouix. Drama, França, 2019, 101 minutos.

Em tempos tão tecnológicos como os nossos, é muito provável que não haja pessoa nesse mundo que não tenha experimentado a delícia de ficar horas conversando com alguém - ainda mais se esse alguém for especial - pelas redes sociais. A escolha das frases bem pensadas antes de enviar, o uso de emojis, as palavras ditas (e até as não ditas) e a observação atenta da tela enquanto o "digitando" persiste em aparecer. É algo que todo mundo faz. Ou já fez. E que a protagonista do filme Quem Você Pensa Que Sou (Celle Que Vouz Croyez) também faz. Mas com uma "pequena" diferença. Claire (Juliete Binoche) é uma mulher de 55 anos que, após o divórcio, é aparentemente acostumada a se relacionar com homens mais novos. Homens mais novos que, em muitos casos, não querem muito compromisso - como é o caso de Ludo (Guillaume Gouix), que termina o caso com Claire de forma bastante abrupta (e até grosseira).

Pra tentar se reaproximar do rapaz, Claire cria um perfil falso no Facebook. Por meio dele, adiciona o fotógrafo Alex (François Civil) que, num primeiro momento, deveria ser apenas o caminho para que a protagonista pudesse contatar Ludo. No perfil de Claire, um outro nome: Clara. E fotos e informações misteriosas de uma garota uns 30 anos mais jovem completam o combo. Por ser professora universitária das áreas de literatura e letras, Claire tem um ótimo, inteligente e envolvente papo. E não demora para que Alex fique verdadeiramente interessado na pessoa com quem divide noites e mais noites de conversas divertidas, amenas, safadas. Só que, lógico, Claire não conseguirá manter essa mentira por muito tempo: as pessoas precisam viver no mundo real e o maior desejo de Alex será conhecer a "jovem". E, para nós, que acompanhamos essa jornada, estará estabelecido um ótimo suspense, que bebe na fonte de séries como Black Mirror e de filmes como Ela (2013).


Estruturalmente, o filme é narrado como se fosse uma grande sessão de terapia. Será para a doutora Catherine (a sempre ótima Nicole Garcia), que Claire falará de suas angústias. E de quais estratagemas utilizou para tentar "driblar" o seu novo amigo que, conforme os dias passavam, tinha mais e mais desejos de proximidade. E, pior ainda: sobre como essas estratégias (quase) resultaram em tragédias que poderiam ter modificado a vida de todos os envolvidos na história, para sempre. E, por mais que encaremos Claire como a suposta figura "vilanesca" da história, por ter mentido tão descaradamente, é simplesmente impossível não deixar de compreender a dor de uma mulher que, agora na meia idade, foi abandonada pelo marido, ao passo que a juventude (e o consequente despertar do desejo das demais pessoas), foi ficando para trás. Nesse sentido, a obra do diretor Safy Nebbou é hábil ao conferir complexidade às suas personagens - e a gente fica o tempo todo desejando com todas as forças que o final possa ser o mais feliz possível (especialmente para o "casal" central).

Equilibrando momentos singelos - como aquele em que Claire fala da sensação de alegria de ver a luz verde (que identifica uma pessoa online) acesa -, com outros mais divertidos, como naquele instante em que a protagonista admite desconhecer o Instagram, o filme tem a sua força mesmo nos momentos mais dramáticos (e são tantas as reviravoltas, que a gente acaba surpreendido o tempo todo). Discutindo uso de redes sociais, a solidão na terceira idade, a carência afetiva que muitas vezes nos invade e a idealização do amor, o filme nos apresenta a uma Juliete Binoche mais uma vez arrebatadora. Despida de qualquer vaidade, aparece muitas vezes como uma mulher devastada para, minutos depois, surgir rejuvenescida pelas oportunidades trazidas pela vida e pelas redes sociais (e sempre com a câmera grudada em seu rosto). E o trabalho que ela executa a partir de simples expressões faciais a partir daquilo que ela está lendo na tela (como todos nós fazemos, por sinal), é não menos do que verossímil. É um filme que pode até soar meio exagerado em alguns momentos mas que, minimamente, nos faz refletir. E que ainda nos deixa com a pulga atrás da orelha ao final da última cena.

Nota: 8,5



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