quarta-feira, 24 de abril de 2019

Pérolas da Netflix - Durante a Tormenta (Durante La Tormenta)

De: Oriol Paulo. Com Adriana Ugarte, Chino Darín, Javier Gutierrez, Álvaro Morte e Nora Navas. Drama / Suspense, Espanha, 2019, 128 minutos.

Já se vão quase 35 anos desde aquela vez em que Marty McFly voltou ao passado a bordo de um DeLorean para alterar a linha do tempo e quase comprometer a sua própria existência. Quem assistiu a De Volta Para o Futuro - alguém não assistiu? - tem até hoje a imagem do personagem vivido por Michael J. Fox literalmente desaparecendo, enquanto sua futura mãe tem uma série de desencontros com aquele que viria a ser o seu pai. E se ele não nascesse? Era uma comédia, divertida, leve, inesquecível. E que, agora, nostalgicamente, reaparece assim que começamos a assistir ao ótimo espanhol Durante a Tormenta (Durante La Tormenta), que bebe da fonte da película de Robert Zemeckis, mistura elementos de outros filmes de ficção científica - como Efeito Borboleta e Interestellar -, e nos entrega como resultado um suspense cheio de personalidade, vigoroso e que nos prende do começo ao fim.

Na trama também haverá uma alteração da lógica temporal, motivada por um episódio que ocorre no futuro, mas que afeta o passado. O filme começa em 1989. Em cena vemos o jovem Nico, que executa uma versão de Time After Time da Cindy Lauper, ao mesmo tempo em que faz uma gravação caseira de si próprio tocando guitarra. Após a mãe do rapaz sair para trabalhar, Nico presencia, a partir de sua janela, uma discussão entre vizinhos que resulta em uma morte. Ao sair correndo de casa para buscar ajuda, Nico é atropelado e morre. A obra salta para 2019, onde Vera (Adriana Ugarte) e David (Álvaro Morte) estão comprando a casa que foi de Nico e de sua mãe 30 anos atrás - o que percebemos quando o casal descobre, em um cômodo, a TV, a câmera de vídeo e o videocassete antigos. Será ao ligar o aparelho em uma noite mal dormida de tempestade, que Vera conseguirá "conversar" com Nico, em 1989, impedindo a tragédia que lhe seria o seu destino. A TV, catalisada pelos raios e trovões, funcionará como um portal, que modifica o passado. E também o presente/futuro.


Tudo muda na vida de Vera. De enfermeira ela passa a médica, David não é mais o seu marido e o pior drama para ela: a sua filha pequena não existe mais. O crime do passado aconteceu, mas Nico está vivo e seu paradeiro é um mistério. Só que tudo isso contribuiu para que tudo se alterasse no futuro. Assim, Vera luta para provar que não possui problemas psicológicos, se empenha em desvendar os mistérios do assassinato ocorrido no passado e tenta, de todas as formas, alterar novamente a lógica de espaço/tempo, para que a sua filha reapareça no mundo (ela sumiu, assim como McFly quase desaparece na De Volta Para o Futuro, citado ali no começo). Sim, parece meio complexo e talvez inicialmente até seja: mas a obra do diretor Oriol Paulo (do curioso Um Contratempo) é muito bem montada e a cada ida e vinda no tempo as peças do quebra-cabeças vão sendo fechadas. Não sem algumas reviravoltas - algumas previsíveis, outras nem tanto, claro.

Em geral trata-se de um filme leve de assistir, com um bom suspense, daqueles que não cansam jamais. Vale a pena fica atento a detalhes, como uma simples caixa de fósforos, que podem representar alguma mudança de perspectiva no desenrolar da trama. O mesmo vale para personagens chave, como uma outra vizinha, Clara (Nora Navas), que é mãe de um dos melhores amigos de Vera, Aitor (Miquel Fernández) e que, no mundo modificado, possui grande proximidade do assassino visto no começo do filme. Se há um pecado no filme é o fato de tudo ser redondinho demais, já que a gente sempre espera que em filmes de ficção científica a distopia cruel supere a "realidade", mesmo quando as coisas comecem a afunilar. Mas não é nada que comprometa.


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