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terça-feira, 23 de maio de 2023

Na Espera - Killers of the Flower Moon (Filme)

Vamos combinar que quando o assunto são os filmes estreando em festivais, nós, os meros mortais, precisamos dar uma segurada na ansiedade. Mais ainda quando estamos falando do novo de Martin Scorsese. Sim, Killers of the Flower Moon mal recebeu o seu primeiro trailer oficial - a obra estreia no Brasil em 20 de outubro, se não houver atraso, devendo ser disponibilizada posteriormente na plataforma da Apple TV. Mas a exibição no Festival de Cannes arrancou elogios fervorosos, além de demorados aplausos - o que fez com que a expectativa fosse arremessada lá para o alto! E o que dizer das notas em condensadores como o Metacritic? Atualmente com 91 pontos somados, a impressão que temos é a de estar diante de uma unanimidade: será que, aos 80 anos, o diretor de tantos clássicos terá atingido um de seus auges criativos?

Bom, ainda é cedo pra saber, mas o que já dá pra cravar sem erro é que a obra larga na frente quando o assunto é o Oscar 2024, dada como praticamente certa em categorias como Ator (Leonardo DiCaprio), Ator Coadjuvante (Jesse Plemons), Roteiro Adaptado (do livro de David Grann), além de Edição, Fotografia e, claro, Filme. A trama, é bom lembrar, retorna pra virada do Século 20, em um período em que o petróleo é descoberto em uma região de Oklahoma, o que tornará os membros da tribo indígena Osage os mais ricos do mundo (praticamente da noite pro dia). Só que toda essa riqueza atrairá intrusos brancos que irão manipular, extorquir, roubar e matar os nativos, com os assassinatos em série sendo investigados pelo recém-criado FBI.Um faroeste de 206 minutos dirigido por Scorsese e estrelado por DiCaprio e Robert De Niro, com todo o peso político, social, histórico e cultural que parece emanar desse épico. Definitivamente não tem como dar errado.


terça-feira, 11 de agosto de 2020

Cine Baú - Os Bons Companheiros (Goodfellas)

De: Martin Scorsese. Com Ray Liotta, Robert De Niro, Joe Pesci, Lorraine Bracco e Paul Sorvino. Drama / Policial, EUA, 1990, 146 minutos.

Numa análise rasa algumas pessoas costumam afirmar que Martin Scorsese glorifica a máfia em seus filmes. Mas, quem faz isso, certamente não assistiu a estas obras com a devida atenção, como comprova a história de ascensão e queda vista em Os Bons Companheiros (Goodfellas) - e que é a evidência cinematográfica de que, no final das contas, o crime não compensa. Na trama acompanhamos a história do jovem Henry Hill (Ray Liotta) que, desde menino, sonha em ser gângster. Pela janela da casa em que mora com os pais e o irmão, no Brooklyn, em Nova York, acompanha a movimentação dos mafiosos em uma pizzaria do bairro, local em que começará a trabalhar, se tornando mais tarde protegido de Jimmy Conway (Robert De Niro), quando passará a atuar na receptação e na venda de cargas roubadas. Não demora para que os golpes se tornem cada vez maiores e mais ambiciosos, com o rapaz sendo tratado como um filho pelo chefão local - um certo Paulie (Paul Sorvino).

Trafegando entre os dois estará o instável Tommy DeVito (Joe Pesci, que faturou o Oscar pelo papel), um sociopata praticamente sem limites, daqueles que atira primeiro para perguntar depois. Será esse grupo de pessoas que assistiremos durante duas horas e meia, período em que acompanhamos três décadas de gangsterismo que evolui para o glamour das roupas chiques, dos restaurantes caros e do dinheiro jorrando fácil, até a decadência que reduz e aniquila o grupo (as mortes em série após um grande roubo de uma carga de drogas, faz com que todos desconfiem de todos). E esse acaba sendo o erro de Henry: incapaz de estabelecer limites para a ambição, se envolve em esquemas nebulosos, regados a cocaína, que não demorarão muito para chamar a atenção do FBI. Aliás, em partes, é possível afirmar que, após uma série de equívocos, Henry só encontrará a salvação ao se tornar informante da polícia federal, onde vira um Zé Ninguém auxiliado pelo serviço e proteção as testemunhas.


E por mais que seja uma obra brutal, cheia de mortes grosseiras (e até estúpidas), a película mantem um senso de humor meio torto, daqueles em que a gente ri muito mais do absurdo sem sentido daquilo que acompanhamos, do que por alguma piada mais pontual. E, em muitos casos, é um riso de nervoso mesmo, como no caso de praticamente todas as cenas protagonizadas por Pesci. Com seu estilo furioso, a sua figura intempestiva é capaz de causar conflito instantâneo. É um convite para que as coisas saiam do controle, como comprova a inexplicável sequência em que ele assassina a sangue frio um jovem garçom que é incapaz de lhe servir a bebida corretamente. Aliás, são essas atitudes de mafioso de segunda linha, baixas, toscas, de quem não respeita hierarquia alguma, que terminarão por acarretar a morte de um certo Billy Batts (Frank Vincent), um chefão da máfia rival. De certa forma, isto também contribui para o contexto de instabilidade, de insegurança, que resultará no esfacelamento de um coletivo que entra em paranoia - algo exemplificado pela sensação de estar sendo o tempo todo perseguido, com que Henry convive no terço final.

E por mais que todos ali tentem viver uma espécie de idílio familiar, com jantares luxuosos, reuniões em mansões, com farta bebida e gastronomia voluptuosa - as reuniões são completadas por casamentos, filhos, amantes, mentiras, extorsões de todo o tipo, lesões e mortes numa mistura caótica -, a gente percebe que, por mais atrativa que seja a vida fácil, ela é acompanhada de um tipo de perigo que parece sempre pronto a bater a porta. Com um ritmo frenético que se alterna com algumas sequências mais contemplativas, o filme utiliza a sua fotografia granulada e a trilha sonora recheada de standards e de clássicos do rock para transformar o filme em um legítimo representante da cultura pop noventista. Com seis indicações ao Oscar e uma vitória no Festival de Veneza - o diretor recebeu o Leão de Ouro -, a película fortaleceria o nome Martin Scorsese como uma espécie de selo de qualidade cinematográfico. O tema da máfia retornaria com Cassino (1995) e, mais recentemente, com O Irlandês (2019). Todos apontando a vida de fora-da-lei como uma saída em que o sofrimento é praticamente inevitável.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Na Espera - O Irlandês (Filme)

É provável que não haja nenhum filme no MUNDO que seja mais aguardado do que O Irlandês (The Irishman) - produção da Netflix ainda sem data de lançamento, que será dirigida por ninguém menos do que Martin Scorsese. Bom, a comoção não é por acaso e começa já pelos nomes que compõem o elenco, estando entre eles Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci, Harvey Keitel e Bobby Canavale, entre outros. Depois, tem a trama sobre um veterano de guerra cheio de condecorações, que trabalha como assassino número um para a máfia, que é promovido a líder sindical e passa a ser investigado após um ex-presidente de uma associação desaparecer misteriosamente.


Sim, a gente já viu filmes sobre a máfia dirigidos por Martin Scorsese - Os Bons Companheiros (1990), Cassino (1995), Os Infiltrados (2006) - e era tudo filme FODA! Por isso o lançamento de um simples teaser em que não aparece absolutamente nada, no dia de ontem, mexeu com as redes sociais e com o coração dos cinéfilos. Há pouca informação. Não há quase imagens da obra e sequer se sabe a data de lançamento da película. Mas nada disso importa. É muito provável que daqui a um ano a gente esteja assistindo as premiações do Oscar, com muitos dos nomes envolvidos na produção nominados - e vou arriscar aqui um palpite de que o Joe Pesci estará entre eles (não sei por quê, mas algo me diz). No mais, é aguardar!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Na Espera - Silence (Filme)

Um novo filme do Martin Scorsese sempre será motivo de atenção para qualquer cinéfilo - e Silence, mais recente projeto do diretor e que acaba de receber um trailer, já começa a ser cotado para figurar na temporada de premiações. A obra, que estreia por aqui no dia 26 de janeiro de 2017, impressiona pelo tamanho: serão 195 minutos. Adaptação de um livro escrito por Shusaku Endo, a história é ambientada no Japão do século XVI e trata de missionários portugueses - que, pelo visto, dominavam o inglês - que viajam ao País oriental para confortar convertidos locais e impedir que senhores feudais torturem padres cristãos, que é a maneira local encontrada para tentar expulsar do Japão os catequistas europeus.


Quem conhece a biografia de Scorsese sabe que ele, por pouco, não virou padre. "Eu era muito envolvido com religião, eu fui criado em uma família extremamente católica, o que refletiu na minha personalidade", afirmou o diretor em entrevistas à imprensa para divulgação do trailer. O filme é protagonizado por Adam Driver e Andrew Garfield, mas parece ter em Liam Neeson a grande interpretação do elenco - não por acaso, já se inicia o burburinho para possível indicação ao Oscar na categoria Ator Coadjuvante. Filme de época, longo, com narrativa densa... mas é um Scorsese. O trailer que mistura momentos mais contemplativos, com outros de maior tensão, só serviu para aumentar ainda mais nossa expectativa. Por aqui, já estamos Na Espera!



segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Cine Baú - Taxi Driver (Taxi Driver)

De: Martin Scorsese. Com Robert De Niro, Jodie Foster, Cybil Shepherd e Harvey Keitel. Drama / Policial, EUA, 1976, 115 minutos.

Poucas vezes a transformação de um desajustado social em um sujeito reacionário, intolerante e fascista foi tão marcante - e, de alguma forma, sutil - como no caso de Taxi Driver, primeiro grande filme do diretor Martin Scorsese. O homem em questão é um veterano da Guerra do Vietnã, que responde pelo nome de Travis Bickle (Robert De Niro). Sofrendo de uma intermitente insônia, Travis, um sujeito solitário em meio a grande metrópole, consegue trabalho como taxista no turno da madrugada nova-iorquina - atividade que possibilitará um contato maior com prostitutas, drag queens, bichas, maconheiros, viciados, cafetões, sodomitas, insanos, corruptos e toda a sorte de sujeitos que vivem a margem da sociedade. E que compõem a fervilhante vida noturna da cidade - a qual ele considera, em suas palavras, a escória, ou mesmo o esgoto a céu aberto, que deveria ser limpo pelas "famílias de bem" ou mesmo pelos governantes.

Conforme os dias vão passando e o contato com todo o tipo de miséria humana, de vício e de violência vai aumentando, também o sentimento de revolta e de conflito interno se intensifica a cada nova curva moribunda ou claustrofóbica feita pelo taxista. Os encontros com os colegas de profissão em um restaurante 24 horas da periferia, ou mesmo os dias de solidão em que o sujeito rabisca as suas vivências em uma espécie de diário, jamais servem para que a ansiedade seja amenizada. Não à toa, em uma das mais famosas cenas dessa verdadeira obra-prima, Bickle pede um sal de frutas, para que as disfunções do sistema digestivo - tão diretamente ligadas a problemas emocionais - possam ser controladas. A tomada em close do copo, enquanto a pastilha borbulha pelo contato com a água, nada pode representar de diferente, do ponto de vista da metáfora, do que o sentimento do taxista diante daquilo que ele presencia em cada uma de suas imprevisíveis noites de trabalho.



A situação piora quando Travis conhece - e se apaixona - pela bela Betsy (Cybill Shepherd), que trabalha na campanha de um senador que pretende concorrer para o cargo de presidente. Um convite desastroso para uma sessão de cinema pornô logo no primeiro encontro é o gatilho para que venha à tona, também, toda a raiva, o ódio, a misoginia e o machismo do sujeito - incapaz de lidar com a negativa de uma mulher, por mais óbvia que esta fosse, diante de sua proposta um tanto quanto desqualificada. Sozinho, sem amigos de verdade, ou com uma namorada para chamar de sua, o homem, a beira do delírio e da esquizofrenia, resolve fazer o que qualquer pessoa (a)normal faria numa situação dessas: comprar quatro armas na América livre. Sim, Travis está de saco cheio do mundo - e com os sujeitos erráticos que nele vivem e o cercam - e resolve criar um "grupo de extermínio de um homem só", para tentar limpar a cidade.

Diga-se de passagem, a cena em que De Niro aparece transformado nesse "novo sujeito" - utilizando um cabelo moicano, aliado a roupa de militar (ao estilo "futuro adepto de Donald Trump") e ao comportamento obviamente tomado pela perturbação mental - está, desde sempre, entre as mais famosas do cinema. A propósito, a famosa sequência do you talking to me?, tão parodiada e imitada, foi totalmente improvisada pelo ator - em mais um dos pequenos momentos de grandeza em sua caracterização, capaz de equilibrar energia e insanidade, torpor e violência. Mesmo nas horas em que Travis resolve fazer "justiça com as próprias mãos", tentando resgatar uma jovem prostituta (Jodie Foster, aos 13 anos de idade) das mãos de um cafetão (Harvey Keitel), o ato de heroísmo (!) é feito de maneira torta, insensata e extremista - e que deixará um rastro de sangue por onde quer que passe o sujeito. (e não deixa de ser interessante o ponto de vista dado ao ato pela mídia, quase ao final do filme, o que dá uma dimensão de como pensam os veículos de comunicação que compactuam com a lógica do "bandido bom é bandido morto", tão presente até os dias de hoje)



Pra quem gosta de filmes que tenham um certo charme-retrô não deixa de ser fascinante assistir, ainda, as andanças de Travis pela madrugada, em que o seu silêncio (e seu rosto taciturno mostrado em close pelo espelho retrovisor) funciona como um contraponto ao barulho e a balbúrdia das movimentadas noites da cidade - com seus bares, cinemas, casas noturnas e livrarias. E a se a fotografia amarela e granulada contribui para esse sentimento, também a trilha sonora de Bernard Hermann - em seu último trabalho, antes de falecer em dezembro daquele ano - funciona, com suas notas onipresentes e abafadas, que conferem vida a cada instante da existência caótica de Travis. Scorsese, que mais tarde viria a filmar uma série de obras-primas - entre elas Touro Indovável (1980), Os Bons Companheiros (1990) e Cassino (1995) - faturaria com Taxi Driver - e seu estilo cru e cheio de personalidade - a Palma de Ouro na categoria Melhor Diretor, pavimentando o caminho para uma das mais sólidas e duradouras carreiras do universo cinematográfico. Já o filme, segue sendo um dos mais queridos não apenas pelo público, mas também pela crítica, com presença em listas diversas, como a da Sight and Sound Magazine ou mesmo entre os 100 Filmes Fundamentais do American Film Institute (AFI). Um verdadeiro Cine Baú!