quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Disco da Semana - Terno Rei (Violeta)

Não são todas as bandas que conseguem colocar as suas referências/influências no "liquidificador" para retirar de lá uma sonoridade nova, criativa, cheia de personalidade - e é preciso que se diga, o Terno Rei faz isso com FOLGA. Não por acaso, assim que tem início os primeiros acordes da adocicada Yoko - canção que abre Violeta, o terceiro registro do coletivo paulistano - já nos sentimos absolutamente familiarizados com aquilo que ouvimos. É como se o grupo nos afagasse com o perfume nostálgico das emanações oitentistas, capazes de equilibrar um instrumental eminentemente primaveril, com as letras sobre desilusões amorosas, relacionamentos tensionados ou mesmo saudade daquilo que não foi - enfim, os dilemas afetivos modernos traduzidos à perfeição.

Continuidade natural do material apresentado no igualmente belo Essa Noite Bateu Com Um Sonho (2016), o presente disco limpa um pouco mais arestas - parecendo ser melhor produzido e menos enfumaçado. Não que essa seja necessariamente uma qualidade, mas o caso é que Ale Sater (voz e baixo), Greg Vinha (guitarra), Bruno Paschoal (guitarra) e Luís Cardoso (bateria) parecem assim dialogar mais facilmente com o ouvinte, seja nas melodias harmoniosas prontinhas para tocar nas rádios mais descoladas, seja na naturalidade com que os versos românticos escoam pelo registro, de forma fluída, orgânica. Às vezes até parece que Sater está conversando com quem ouve. Uma conversa franca, nem sempre fácil, eventualmente pessimista (ainda que haja luz no fim do túnel).


"Cansamos bastante da estética dos últimos dois discos, então (mudar) foi uma vontade natural. Buscamos mais elementos e mais repertório", explicou Sater em entrevista à Rolling Stone Brasil. O abandono da estética mais lo-fi (ou shoegaze) também passa pela adição de sintetizadores e teclados que surgem de maneira luminar em canções como São Paulo e Roda Gigante. O abraço ao pop (algo que só foi possível agora, que a banda parece ter encontrado definitivamente o seu caminho, como eles mesmos admitiram em entrevistas), também passa pelas letras diretas e pelos refrões grudentos, como no caso da soturna 93 (Quanto tempo faz que eu esperei? / Vou aceitar / As flores entreguei lá no seu prédio /No primeiro andar).

Ainda que a cada audição seja absolutamente impossível não pensar em bandas como The Cure e The Smiths ou mesmo artistas recentes como o Real Estate, o caso é que Violeta é um trabalho que foge da simplificação. É o rock nacional reivindicando espaço em um registro que é pequeno apenas em seu formato - são 11 músicas e pouco mais de 30 minutos -, mas que é grande como experiência criativa de um coletivo em franco amadurecimento. A estrada é generosa e você não quer ver / Que eu já não tenho medo de voar canta Sater na libertadora e viciante Medo. Os relacionamentos que não funcionaram ficam pra trás em meio a sintetizadores bem encaixados. Mas a metáfora para uma banda que já olha pra frente, é inevitável.

Nota: 9,0

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