quarta-feira, 2 de maio de 2018

Curta Um Curta - Recife Frio

Formato muitas vezes ignorado pelos próprios cinéfilos, o curta-metragem, além de porta de entrada para muitos cineastas em início de carreira, pode reservar ótimas surpresas - e, não por acaso, muitas obras chegam a ser superiores a alguns longas. Nesse sentido, o Curta Um Curta - sim, admitimos que o nome não é muito criativo -, visa a apresentar filmes de pequena duração que, eventualmente, foram premiados em festivais e que, de fato, valem a pena ser assistidos. Na nossa estreia, o já clássico Recife Frio. Dirigido por Kléber Mendonça Filho (de O Som ao Redor e Aquarius), o filme é um falso documentário sobre uma abrupta mudança climática, que transforma a capital de Pernambuco em uma cidade fria, permanentemente nublada e chuvosa. "É um lamento de amor por Recife", nas palavras do próprio diretor.



Além das implicações decorrentes da novidade - com comerciantes, trabalhadores e turistas tendo de se adaptar ao novo modelo climático - o diretor ainda utiliza o cenário para tecer uma metafórica crítica as metrópoles frias e individualistas. Não por acaso, os comparativos com obras como Medianeras, especialmente no que diz respeito a arquitetura das grandes cidades, são inevitáveis. Equilibrando momentos de humor - a sequência em que um artesão apresenta as suas "novas" peças é ótimo - com outros mais dramáticos, com pessoas mais pobres sofrendo e morrendo de frio nas ruas de Recife, Mendonça idealiza as capitais nordestinas como lugares naturalmente quentes, tropicais e multicoloridos, conferindo ainda especial importância ao "calor humano" como alternativa para a solução do problema. Com mais de 50 prêmios no Brasil e no exterior, Recife Frio é o curta metragem brasileiro mais premiado desde Ilha das Flores (1989). O que é um bom indicativo de sua importância.

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