terça-feira, 8 de maio de 2018

Cinema - Os Fantasmas de Ismael (Les Fantômes d'Ismael)

De: Arnaud Deslechin. Com Charlotte Gainsbourg, Mathieu Amalric, Marion Cotillard e Louis Garrel. Suspense / Drama / Romance, França, 2017, 114 minutos.

Finalizada a sessão de Os Fantasmas de Ismael (Les Fantômes d'Ismael) a pergunta que paira no ar é: o que teria levado estrelas do cinema francês, como, Charlotte Gainsbourg, Mathieu Amalric, Marion Cotillard e Louis Garrel a aceitarem participar de um projeto tão insosso, confuso e sem fôlego? Apresentada como filme de abertura do último Festival de Cannes, a obra do diretor Arnaud Desplechin (Terapia Intensiva) é uma colagem esquisita de situações, que parte de uma premissa até interessante e que envolve o cineasta Ismael (Amalric). Traumatizado pelo desaparecimento de sua esposa, Carlotta (Cotillard), ocorrido há 21 anos, ele já está em um outro relacionamento com a astrofísica Sylvia (Gainsbourg). Só que Carlotta reaparece. Do nada. Em uma praia. E com uma explicação pouco convincente para os seus atos.

Nesse sentido, o começo da película até é interessante ao mostrar os dilemas e inseguranças do trio. Seria Ismael ainda apaixonado por Carlotta? Como lidar com uma figura que, dada como morta, reaparece sem mais nem menos? É possível conviver juntos, em clima de amizade e de celebração da vida? Talvez se a obra investisse mais nesse ponto, e costurasse com mais inteligência as situações, talvez pudéssemos estar diante de um dos grandes exemplares do cinema francês no ano. Mas o filme se perde em subtramas paralelas que pouco nos envolvem e que enfraquecem a experiência como um todo - uma delas envolve o novo filme que Ismael está produzindo e que conta a abnegada história de seu irmão Ivan Dedalus (Garrel) em uma trama rocambolesca que também não é lá muito fácil de compreender. No fim das contas a metalinguagem, que poderia ser um bem-vindo recurso para a história, também acaba mal aproveitado.



Isto porque, lá pelas tantas, não conseguimos ter a certeza de que as interpretações caricaturais e estereotipadas são propositais ou não - já que a trama salta do filme dentro de um filme para o filme propriamente dito sem muito aviso. E o que dizer da escandalosa trilha sonora sem pé nem cabeça? E os personagens que aparecem e desaparecem sem muita explicação - e se alguém conseguir me explicar quem era o tal do "russo" no terço final da película, já agradeço de antemão. O causo é que, com tantos pequenos defeitos, fica quase impossível de segurar o bocejo durante a projeção. E se a história era pra ser sobre pessoas problemáticas e complexas, com seus defeitos, imperfeições e motivações pessoais - as vezes essa impressão nos é passada, como nas cenas em que Ismael se tranca em casa, se entope de medicamentos, e resolve não terminar mais o seu filme - bom, confesso, que não entendi. E talvez o problema seja eu mesmo, vai saber.

Sem se definir entre comédia, drama, suspense ou mesmo delírio onírico a moda de um Fellini, o filme ao menos tem, entre seus pontos fortes, a fotografia (de Irina Lubtchanksy) as interpretações - já que os atores se esforçam, ao máximo, para entregar o seu melhor. Se Marion Cotillard e seu olhar anguloso consegue transmitir muito com menos diálogo, é sempre prazeroso assistir à Charlotte Gainsbourg em cena (e as suas inseguranças e medos diante da "novidade" que se apresenta, consiste naquilo que de melhor o filme oferece. Já Amalric, sempre tão talentoso, está extremamente forçado parecendo um lunático à moda de um Thom Yorke misturado com Steve Buscemi doidão. Mas é muito pouco. Especialmente para um dos filmes mais aguardados da temporada européia.

Nota: 4,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário