O mais recente trabalho do trio - completado por Nicky Wire e Sean Moore - se chama Resistance Is Futile. A despeito do niilismo do título (e até da capa), o álbum serve como veículo para novas divagações político-filosóficas-sociais sobre o mundo que vivemos. Não é por acaso que a primeira música do registro, People Give In, já inicia com uma série de versos pessimistas - People get tired / People get old / People get forgotten / People Get Sold - e que, de alguma forma, funcionarão como um guia para as reflexões que serão espalhadas pelo álbum. A sonoridade surge tensa, urgente, melancólica, até explodir no refrão roqueiro com direito e ooo ôs e um indelével otimismo - People stay strong, apesar de tudo. O expediente se repete em outras músicas. Sequels of forgotten wars tem título quase autoexplicativo. Já Hold Me Like a Heaven é quase um manifesto por busca de conforto em meio a uma rotina de desgaste em que o grito já não é suficiente. Candidata a hit, é uma das mais comerciais e já escolhida como uma das favoritas dos ardorosos fãs.
A propósito disso, as temáticas duras, eventualmente ásperas e quase nunca otimistas não significam dificuldade na hora de ouvir o grupo. Desde A Design For Life que o trio se especializou em entregar canções acessíveis, radiofônicas e até, como numa espécie de paradoxo, eventualmente coloridas e ricas em texturas. O que torna a audição de cada registro de Bradfield e companhia em uma experiência não menos do que prazerosa. International Blue, por exemplo, com seu refrão grudento, parece já nascida para ser cantada (ou berrada) em coro nos estádios - a despeito da pinta de rock brega e farofa dos anos 80. O expediente se repete em outras músicas, como Distant Colours, Vivian e na "eltonjohniana" Dylan & Caitlin, que parecem trafegar sempre no limite entre o hard rock de gritado de outrora e o power pop que flerta com o alternativo.
Em entrevista ao site The Guardian, ainda no começo do ano, a banda não pôde deixar de demonstrar um certo pessimismo que dialoga com esse mal-estar que parece existir na já conhecida pós-modernidade. A imagem da capa, um samurai que sabe que com a chagada das armas de fogo sua espada deverá ser aposentada, representa bem essa espécie de ruptura. Para Wire usar a música para como um meio para versar sobre livros filmes e política ou mesmo citar Mao, Maiakovski, Heidegger, Flaubert, Marylin Monroe ou George Best parece algo distante da cultural jovem. "Especialmente nas mídias sociais", afirma. Ainda assim, Wire afirma haver "mágica" quando o trio entra no estúdio, o que seria, quase 30 anos de carreira depois, o combustível necessário. Para nós aqui do Picanha, a mágica dos Manics continua intacta.
Nota: 8,5
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