Passada num futuro não muito distante, a obra traz questionamentos profundos sobre ética, relacionamentos interpessoais, política, busca pela fama, entretenimento, tudo com uma pontada de desesperança para com a humanidade e um humor muitas vezes chocante e perturbador. Num paralelo com os dias atuais, a perda da humanidade pode ser representada pela substituição do convívio social pela artificialidade da comunicação: seja por WhatsApp, Facebook, Instagram, vivemos um paradoxo no qual a informação está disponível praticamente em tempo real mas os afetos muitas vezes se revelam praticamente através de telas de computadores ou telefones celulares. E ao levar este conceito às últimas consequências é que a série revela todo o brilhantismo de seus criadores, o que fez figuras como o escritor Stephen King a idolatrar e recomendar a obra.
Se no primeiro e sensacional episódio The National Anthem vemos o primeiro ministro britânico ter sua intimidade exposta, em uma teoria sobre voyeurismo perfeitamente demonstrada de forma chocante, em outros capítulos vemos a crítica aos reality shows (Fifteen Milion Merits), a perda da privacidade e a importância da memória nos relacionamentos (nas DR's, mais especificamente, no episódio The Entire History of You), o senso de justiça e vilania que pode brotar em cada um de nós como forma de entretenimento (White Bear, um dos melhores), a perda de um ente querido e maneiras de enfrentar o luto (Be Right Back), bem como a descrença no sistema político e seus candidatos (The Waldo Moment).
É óbvio que cada episódio guarda muitas camadas a serem desvendadas por quem se aventurar por estas histórias intensas e perturbadoras. Confesso que há tempos não via uma crítica tão mordaz ao sistema que insiste em transformar tudo em um produto a ser vendido e consumido. E justamente por simular seu impacto nas relações humanas em um futuro perfeitamente possível de ser realizado é o que torna a experiência ainda mais visceral e aterrorizante. Uma baita descoberta e uma verdadeira pérola a ser garimpada por quem admira entretenimento com alto teor filosófico e reflexivo.
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