segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Novidades em DVD - 99 Casas (99 Homes)

De: Ramin Bahrani. Com Andrew Garfield, Michael Shannon e Laura Dern. Drama, EUA, 2014, 112 minutos.

O colapso do mercado imobiliário americano e a crise econômica sem precedentes que afetou os Estados Unidos no ano de 2008 segue sendo terreno fértil para produções hollywoodianas - caso, por exemplo, deste 99 Casas (99 Homes) que chega agora em DVD, após exibição em circuito nacional discretíssimo. Se o roteiro não chega a ser tão instigante, inovador e até mesmo divertido quanto o recente - e oscarizado - A Grande Aposta (aquele com Ryan Gosling e Christian Bale) -, ao menos o filme do (ainda desconhecido) diretor Ramin Bahrani apresenta um bom e tocante drama, que consegue falar ao mesmo tempo do impacto dos problemas financeiros para famílias menos abastadas - e de como as eventuais dificuldades afetam a vida de todos os seus integrantes -, mas sem esquecer da importância de se erguer a cabeça para tentar fazer o melhor nos casos adversos.

A trama segue a história de Dennis Nash (Andrew Garfield), um jovem que atua como uma espécie de "marido de aluguel" - como atualmente são conhecidos os profissionais autônomos que realizam trabalhos de encanador, eletricista, marceneiro e pedreiro, entre outros -, por meio de contratos temporários com empreiteiras. As dificuldades típicas do período de crise fazem com que, em meio a atividades pré-agendadas, contratos sejam cancelados, e investidores, empresários e corretores não consigam honrar os seus compromissos. Como não poderia deixar de ser, a bola de neve "explode" justamente na ponta mais frágil dessa cadeia (literalmente) alimentar: sem poder pagar a hipoteca da casa que divide com a mãe (Laura Dern) e com o filho, o rapaz é despejado pelo inescrupuloso agente imobiliário Rick Carver (Michael Shannon, nominado ao Globo de Ouro pelo papel).



Enquanto Dennis e a sua família tentam se acostumar a ideia de morar em uma espécie de pousada cedida pela prefeitura, o jovem passa a fazer investidas que possibilitem a recuperação de sua casa. Em um desses encontros fortuitos com Carver, o homem resolve contratá-lo para a realização de pequenos reparos em suas residências. Não demora para que o rapaz passe a ajudar o imoral agente a realizar as ações de despejo. Se por um lado a entrada de uma mascada nunca antes vista na vida será motivo de alegria, por outro o ingresso por vias tortas no tão conhecido sonho americano - representado justamente pela falência total do sistema capitalista em que poucos ganham MUITO e muitos perdem TUDO - resultará em uma profunda crise de consciência no jovem (quase uma espécie de Crime e Castigo do ponto de vista financeiro).

Ao mostrar Dennis escondendo da família o fato de estar trabalhando justamente com o seu algoz, Bahrani constrói um dos arcos dramáticos mais interessantes da trama. E, por mais revoltante que a situação naturalmente seja, o diretor jamais demoniza seus personagens, tornando-os simplesmente o reflexo de uma sociedade doente em que, na maioria dos casos, a ambição fala mais alto, fazendo esmorecer instantaneamente qualquer senso de fraternidade, de empatia ou de espírito filantrópico - especialmente quando está em jogo a conquista da independência financeira. (e conforme assistimos a ascensão de Dennis, é possível lembrar do que ocorre com outros personagens da ficção, como por exemplo, o onipresente Walter White, de Breaking Bad que, com a sua ganância desmedida, simplesmente arruína o mundo a sua volta)


Não, não estou comparando esse filme - que se consiste apenas em uma boa sessão dramática, até mesmo um tanto convencional - com Breaking Bad. Mas não deixa de ser um bom trabalho, com boas atuações - e devo admitir que foi justamente a presença do trio central de protagonistas, algo que mais me atraiu para este projeto, já que gosto de filmes distintos com cada um dos atores (e Shannon, com sua cara de poucos amigos, nem preciso dizer: é o destaque). Apostando ainda em boas sacadas metafóricas que servem para esquadrinhar a situação de caos vivida pelas personagens - como no caso dos meninos que, diante de um globo terrestre encontram o mapa dos Estados Unidos apenas para concluir que ele está de "cabeça para baixo" - essa pequena obra ainda termina com um gosto amargo na boca, já que não é difícil imaginar quem sai (realmente) perdendo em meio a esse conjunto de acontecimentos.

Nota: 7,3

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