Especialmente após os eventos que culminaram na queda das Torres Gêmeas, no fatídico 11 de setembro de 2001, os americanos parecem ter intensificado a paranoia no que diz respeito a guerra ao terror - e ao permanente receio em relação a ataques terroristas, investidas do Oriente ou mesmo invasões alienígenas. Não à toa, a lógica belicista, xenófoba, racista e preconceituosa dos discursos inflamados do candidato a presidência norte-americana Donald Trump tomam por base, em pleno 2016, o clamor pelo retorno dos Estados Unidos respeitados pelos outros países - algo, pode-se dizer, Barack Obama alcançou à sua maneira. No caso de Trump por "respeitados", leia-se amedrontados e receosos com as ideias estapafúrdias do milionário - que envolvem, entre outras, a construção de um muro na fronteira com o México, a deportação em massa de imigrantes ilegais e mesquitas vigiadas com vistas a combater a "radicalização de muçulmanos".
Esse comportamento não apenas de alguns integrantes da classe política, mas também de parte da população, já rendeu bons filmes, entre eles Zona Verde (2010), Guerra ao Terror (2008) e Rede de Mentiras (2008) e outros nem tanto, como o confuso Syriana (2005). Ainda que o contexto e o cenário sejam outros, no recém lançado em DVD Rua Cloverfield 10 (10 Cloverfield Lane), do diretor Dan Trachtenberg, é possível afirmar que o roteiro toma emprestado parte dessa paranoia para compor a sua trama - e um dos personagens, em especial. No início do filme acompanhamos uma jovem (Winstead), que parece estar saindo de casa após uma discussão com o marido/namorado (Bradley Cooper, atuando apenas com a voz). Em meio a "fuga", ela sofre um grave acidente de carro, despertando, presa, no porão de um desconhecido (Goodman). O homem, de nome Howard, diz ser impossível sair do bunker, pois, no meio tempo entre o acidente e seu resgate, um ataque químico tornou o mundo um local inabitável. Parece bizarro, né? E é.
Não é necessário dizer que a moça, de nome Michelle, desconfiará dessa revelação. A busca por pistas que possam conduzi-la a verdade sobre os fatos, a aproximará do jovem Emmett (Gallagher Jr.), uma espécie de empregado de Howard que, também preso ao local, garante ter implorado a ele para que pudesse entrar no abrigo, quando os ataques iniciaram. Os insistentes barulhos abafados de veículos e de helicópteros do lado de fora, somados alguns sinais no interior do abrigo e ao comportamento mentalmente instável de Howard, tornarão a temporada da jovem no local uma experiência claustrofóbica e sufocante - sentimento ampliado pela sensação de que toda a história possa não passar de uma mentira. E, mesmo que fosse verdade, quem não "pagaria" para ver?
A montanha-russa emocional do personagem de Goodman (em um de seus grandes papeis da carreira), capaz de alternar entre momentos de doçura - como quando fala da filha provavelmente morta -, com outros de autoritarismo - como quando passa a desconfiar das ações de seus prisioneiros -, torna todo o conjunto ainda mais angustiante. As dúvidas em relação àquilo que vemos são ampliadas, ainda, pela própria arquitetura do bunker que, ainda que possua quartos e ambientes com paredes frias e cinzentas, é capaz, por outro lado, de garantir o conforto de todos os moradores, com estoque de comida, jogos, filmes, músicas e água encanada. Já as únicas janelas para o exterior parecem reservar segredos - que garantem o suspense muito mais do ponto de vista psicológico do que por meio de sustos no modelo "bigorna caindo". Se a absolutamente dispensável ligação com o Cloverfield - Monstro (2008) quase estraga parte da "surpresa", pode-se dizer que a reviravolta do terço final garante momentos de tensão e diversão na mesma medida.
Nota: 8,0
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