segunda-feira, 6 de junho de 2016

Picanha em Série - Sense8

Não é fácil falar de uma série tão maravilhosa como Sense8 - disponível na plataforma de streaming Netflix -, porque se tem a impressão de que, com palavras, não será possível descrevê-la. É uma obra ao mesmo tempo intensa e tocante, dramática e divertida na medida certa, além de ser (aparentemente) diferente de tudo o que já foi feito. Devo confessar a vocês que, no começo, fiquei meio reticente - especialmente pelo fato de não ser lá um grande fã do trabalho dos Wachowskis (responsáveis pela trilogia Matrix e pelo recente A Viagem). Uma história em que oito pessoas completamente diferentes ao redor do mundo estão conectadas mentalmente por algo que pode ser chamado de "ressonância límbica", me parecia mirabolante demais! Ainda mais com estes mesmos sujeitos sendo perseguidos por representarem uma ameaça para a ordem mundial. Era meio viagem demais! E isso que gosto de ficção científica, especialmente pelo fato de as distopias representarem, em algum grau, nada mais do que o nosso mundinho de dominantes e dominados.

Mas aí muita gente começou a me falar do programa. Alguns leitores me perguntavam nas ruas: "e o Sense8 no quadro Picanha em Série?". Tá, essa parte não é verdade porque pra isso é preciso TER leitores. Mas o caso é que resolvi começar a assistir. Um episódio, dois... resolvi passar para o terceiro, até chegar no quarto. Quem já assistiu a primeira temporada na íntegra - são 12 episódios - saberá do que estou falando, ao mencionar A CENA da season one. Ela ocorre ao som de What's Up - clássico dos anos 90, cantado pelas meninas do 4 Non Blondes. É esse, o exato momento que nos maravilhamos pelo fato de um "simples" produto cultural mexer tanto conosco. Seja por força da empatia ou pelo sentimento de nostalgia mesmo. Em um instante estamos DENTRO da série. Somos sensates - é como são conhecidos os protagonistas, trocadilho com Sense8 - iguais a eles. E queremos todos vivos e acontecendo.



Nesse sentido, é preciso que se diga que a série, em muitos momentos, mais parece uma grande instalação artística apresentada em sequência, como se fossem aqueles vídeos exibidos em mostras de arte, em museus mundo afora. São tantas imagens bonitas - efeitos de grandiosos movimentos de câmera -, tanta cultura aflorada em cada curva de cada episódio, com o uso de música, pintura, teatro e outras manifestações, que a riqueza daquilo que encontramos em uma série como esta, não é possível de ser medida. Sim, há a sequência ao som de What's Up, mas há também aquela em Riley (Tuppence Midleton) é recebida, ao retornar a sua terra natal, a Islândia, por seu pai, compositor de música clássica, com uma calorosa canção regionalista, que ele faz enquanto entoa o banjo. Essa é mais UMA cena! Mas term várias, que poderiam ser descritas aqui pra descrever a maravilha daquilo que vemos.

É claro que nada disso seria possível se não fosse o elenco absolutamente carismático, sexy - tô apaixonado pelo elenco do segmento que se passa no México (aiai, Daniela) -, multicultural e pautado pela diversidade de gêneros e estilos, e que representa, cada um da sua maneira, os povos dos quatro cantos do planeta. Há, por exemplo, um arrombador de cofres de Berlim (Max Riemelt) que foi criado no crime organizado. Um ator ao estilo don juan que mantém em segredo o fato de ser homossexual (Miguel Angel Silvestre). Tem também um motorista de ônibus em Nairóbi (Aml Ameen) e uma empresária em Seul, que, nas horas vagas, participa de lutas noturnas em octógonos coreanos (Donna Bae). Há ainda uma farmacêutica indiana (Tina Desai) e uma DJ islandesa (a já citada Midleton). E dois americanos, um policial de Chicago (Brian Smith) e uma hacker  transexual (e lésbica) que luta pelos direitos LGBT (Jamie Clayton).


Sobre o grupo de personagens, se você tem dificuldades em assistir cenas que envolvem o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, de empoderamento da mulher, de apoio a causa das minorias (como negros e gays), de respeito a diversidade religiosa, cultural e sexual, de combate a grandes corporações ou mesmo de entender que um jovem alemão de olhos azuis também pode ser "bandido", essa série não foi feita pra você. E, nesse sentido, talvez seja melhor você conferir algum outro produto, como a noventista Dawson's Creek, com seus personagens branquelos e politicamente corretos. Porque Sense8 fala, no fim das contas, do todos nós. Ainda que não estejamos conectados telepaticamente, estamos unidos por outras formas, seja por ideologia ou por tecnologia. E aí está o pulo do gato!. Com seu roteiro intrincado, com imagens algumas vezes etéreas ou idílicas - até mesmo surrealistas -, personagens multifacetados e intrigantes, sequências divertidas, dramáticas, tensas, trilha sonora magnética, Sense8 consegue ser a série completa por excelência. E é por isso que se torna impossível descrevê-la apenas com palavras. Juro que tentei. Os fãs que me ajudem nessa. E que venha a segunda temporada!

3 comentários:

  1. Excelente crítica. No aguardo da segunda temporada. Grande abraço e parabéns pelo trabalho.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Muito obrigado pela gentileza, Renan! Grande abraço pra você também. (E, como complemento, publico aqui o link de uma outra análise, bem completa, da mesma série!) https://slate.adobe.com/a/8KD5n/

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