segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Novidades em Streaming - Jurado Nº2 (Juror #2)

De: Clint Eastwood. Com Nicholas Hoult, Toni Collette, Chris Messina, Gabriel Basso e J.K. Simmons. Drama / Policial, EUA, 2024, 114 minutos.

[ATENÇÃO: ESSE TEXTO TEM SPOILERS]

Pode ser apenas uma impressão, mas penso que se Jurado Nº 2 (Juror #2) fosse lançado nos anos 90, ele seria figurinha fácil no Oscar. Com o DNA das obras daquela década, o filme - propagado como o último a ser dirigido por Clint Eastwood, mas, vai saber - consiste em um drama de tribunal envolvente, daquele que nos deixa absolutamente vidrados. Ainda mais por conta do dilema moral apresentado, e que funciona como fio condutor para discussões acerca da efetividade dos sistemas jurídicos e sobre como certos preconceitos podem limitar o nosso campo de visão. Um sujeito discutindo rispidamente com a sua namorada em um bar de beira de estrada, após alguns copos de cerveja, não o converte automaticamente em um assassino. Mesmo que o corpo da jovem tenha sido encontrado sem vida, em um matagal próximo ao estabelecimento, na manhã seguinte. Ou ao menos assim não deveria ser - especialmente em um julgamento em que as provas não pareçam tão sólidas.

Como manda a tradição das obras sobre advogados e promotores decidindo sobre o futuro de réus, aqui temos uma série de idas e vindas no tempo que nos auxiliarão a compreender o que, de fato, teria ocorrido na fatídica noite em que Kendall Carter (Francesca Eastwood) morreu, com o namorado James Sythe (Gabriel Basso) se tornando o principal suspeito do crime. Imagens gravadas por uma outra jovem, que jogava sinuca no local, mostram a briga. Que leva os dois para a rua. Insatisfeita com o comportamento agressivo (e pouco amoroso) de Sythe, Kendall sai caminhando pela madrugada chuvosa. Torrencialmente chuvosa. Sythe entra no carro, vai atrás dela, um vizinho parece ter visto alguém em um carro, próximo do local do ocorrido. Para a promotora distrital Faith Killebrew (Toni Collette), não parece haver dúvidas: o júri está na presença de um assassino ardiloso, cabendo ao defensor público Eric Resnick (Chris Messina), a tentativa de mostrar o outro lado.

 

 

Tensa e envolvente, a produção recebe uma pimenta a mais, ainda no primeiro terço, quando descobrimos que o jornalista Justin Kemp (Nicholas Hoult) estava presente no local do ocorrido. Consternado pela perda prematura dos filhos gêmeos em um aborto não desejado, Justin, um ex-alcoólatra em recuperação, teria parado no bar para afogar às mágoas. Só que ele desiste de beber, pega o carro e sai pela estrada, em meio a chuva torrencial. Até o momento em que, no escuro, e em um instante de desatenção, ele bate em um cervo. Ou no que parece ser um cervo, já que ele não enxerga nada, junto à ponte em que o acidente ocorre. Sua vida segue normalmente, até o dia em que ele é convocado para participar de um júri, em sua cidade, na Geórgia. Um acontecimento de rotina, não fosse o fato de a esposa de Justin, Allison (Zoey Deutch), estar em uma gravidez já avançada. E o caso também guardar algumas inusitadas "coincidências".

Em linhas gerais, não deixa de surpreender como Eastwood converte o drama policial em uma experiência ao mesmo tempo simples, mas engenhosa. Conforme os acontecimentos vão sendo descortinados, mais difícil para Kemp tomar qualquer decisão. Sythe claramente não é culpado. O casal pode brigar, mas é isso. O cervo morto, bom, não era um cervo. E se ele se entregar, corre o risco de ser condenado a três décadas de cadeia - especialmente pelo histórico envolvendo a bebida, havendo brecha para que uma acusação de homicídio seja aberta. Os pais de Kendall querem justiça. Faith quer um cargo mais alto na hierarquia jurídica e acredita que a visibilidade do caso pode ajudá-la. As pessoas podem ser boas, ruins, imperfeitas, ambiciosas. Terem sonhos, planos, famílias, desejos para o futuro. O veredito não é fácil. Há distorções por todos os lados, argumentos aqui e ali. E, bebendo na fonte de clássicos como 12 Homens e Uma Sentença (1957), Eastwood converte este em seu melhor filme das últimas décadas. Uma premissa simples e sedutora, que nos conecta imediatamente. E que joga os holofotes para estruturas e instituições que parecem infalíveis. É muito bom.

Nota: 9,0


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