terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Cinema - Como Ganhar Milhões Antes Que a Avó Morra (Lahn Mah)

De: Pat Boonnitipat. Com Billkin Putthipong Assaratanakul, Usha Seamkhum e Tontawan Tantivejakul. Comédia / Drama, Tailândia, 2024, 125 minutos.

"Quero um milhão. O que você vai fazer com um milhão? Te dar uma casa nova." Em geral é possível compreender os motivos de o público estar simpatizando tanto com Como Ganhar Milhões Antes Que a Avó Morra (Lahn Mah) - o enviado da Tailândia ao Oscar 2025, e que está na short list da categoria Filme em Língua Estrangeira. Afinal, trata-se de uma experiência bonita e afetuosa sobre laços familiares, memória, legado e senso de finitude. Tudo feito com uma boa dose de humor, que é reforçado pelo carisma dos personagens, especialmente a vozinha octogenária Amah, vivida por Usha Seamkhum. Diagnosticada com um câncer terminal no intestino, ela percebe, não sem certa irritação, uma certa aproximação da parentada nos seus meses finais - muitos deles provavelmente interessados na herança, o que inclui uma modesta casa e algum valor na poupança. Entre esses familiares ambiciosos, está o neto M (Billkin Putthipong Assaratanakul), que sonha, sem muito sucesso, em ser um streamer de jogos online.

A grande verdade é que a ficha para o grande potencial desse negócio de se aproximar, como quem não quer nada, de parentes já próximos do ocaso da existência - o que poderia render no "mercado dos testamentos" -, não cai imediatamente para M. Ao menos não até uma visita à prima Mui (Tontawan Tantivejakul), que está cuidando do avô - um idoso que mal consegue se comunicar. Com dedicação praticamente integral, a jovem auxilia em tarefas prosaicas, como trocar um canal de TV (ou mesmo chamar o conserto do equipamento), e outras de maior complexidade, como a substituição das fraldas geriátricas. Quando o senhorzinho vai de arrasta, quem herda a sua bela casa? Mui. Quando perguntada pelo primo sobre os motivos de ela não buscar um emprego "fácil e bem remunerado", ela responde, com um olhar maroto: "é exatamente o que estou fazendo".

 

 

E, assim, quando pipoca entre familiares a notícia da doença da avó do protagonista - após uma bateria de exames feita após uma queda -, ele praticamente se muda para a casa da Amah. O que resultará em uma relação complexa, turbulenta e repleta de sequências engraçadinhas, que evidenciam o abismo geracional de ambos. Em uma dessas partes, M oferece ajuda a idosa para aquecer a água para a elaboração de um chá destinado aos deuses - que ficam em uma espécie de altar da casa da senhora. Só que o rito é interrompido depois que o rapaz admite que a água foi aquecida, de forma prática, no microondas. Entre idas e vindas eles se conectarão de forma meio aleatória, seja na hora de comercializar o congee - uma espécie de sopa de arroz oriental -, ou na aquisição de um novo sapato, que melhorará o conforto dos pés de Amah.

Claro que serão os pequenos atritos que darão vida à experiência, como em uma ida ao banco, em que a avó pede pro jovem ficar do lado de fora - "fique aqui que você vai usar meus dados pelas costas". E mesmo os supostos momentos de desconfiança servem mais como um gracejo, já que a idosa parece bastante consciente das intenções de M, jamais o repreendendo ou recriminando por sua ambição (já que, ao menos, o seu comportamento é mais honesto do que o dos filhos dela, que aparecem, aqui e ali, só pra fazer média e, quem sabe, garantir uma boquinha). Evidentemente que não precisa ser um Sherlock Holmes para saber onde essa história vai desembocar. Não há uma grande surpresa, ou uma reviravolta inesquecível. Mas ao construir sua fábula como um retrato moderno do impacto das relações humanas em tempos tão frios e de tanto individualismo, Boonnitipat converte esta em uma experiência comovente, agridoce, poética e gentil.

Nota: 8,0

 

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