segunda-feira, 8 de julho de 2024

Pitaquinho Musical - The Decemberists (As It Ever Was, So It Will Be Again)

Quem acompanha a carreira dos americanos do The Decemberists, sabe que a banda andava devendo um álbum realmente bom desde, ao menos, o ótimo The King Is Dead (2011). Claro que a peteca nunca caiu, mas o aceno para um pop mais convencional nos trabalhos recentes - como no caso do pálido I'll Be Your Girl (2018) -, parece ter decepcionado os fãs mais antigos, que estavam acostumados àquele folk barroco que mais parecia saído da trilha sonora de alguma peça de teatro épica, em que narrativas grandiosas e melancólicas em igual medida pareciam o ponto de encontro perfeito entre florestas, cavaleiros, criaturas mágicas, fantasmas e caramanchões, com os aspectos mais mundanos da existência humana. Aliás, um tipo de união meio rara que sempre fez o som do coletivo soar único, quase no limite entre as melodias ensolaradas dos Beach Boys e os temas sombrios de um REM fase Automatic for the People (1992).

 

 

Aqui, esse expediente luminoso mas soturno, carnal mas abstrato, pode ser percebido já na abertura, com Burial Ground, uma canção com o DNA do Decemberists, de construção onírica e refrão pra cantar junto. Já Long White Veil pode ser uma música sobre a morte - ainda que de forma alegórica -, mas que possui uma polidez festiva irresistível, que acompanha uma letra sobre luto e superação (Eu casei com ela, eu a carreguei / No mesmo dia eu a enterrei). Claro que, aqui e ali, os temas lúgubres se sobrepõem, ainda que sempre com aquele brilho meio literário, como no caso da sombria Don't Go to the Woods e suas cordas pungentes, que se alternam com o acordeão comovente. Ou de The Black Maria, com a sua fluidez ondulante, conduzida pelos vocais luminosos de Colin Melroy. Ok, precisava terminar com uma música de quase 20 minutos, num flerte exagerado com o progressivo? Talvez não. Mas no nono álbum em mais de vinte anos de estrada, eles se dão ao direito.

Nota: 8,0


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