De: Pedro Antônio Paes. Com Sandy, Fábio Porchat, Evelyn Castro, Larissa Luz e Fernanda Paes Leme. Comédia / Romance, Brasil, 2024, 100 minutos.
Vamos combinar que a ideia por trás de Evidências do Amor é muito boa, afinal de contas a música de José Augusto que seria eternizada na voz da dupla Chitãozinho e Xororó, talvez seja, ao lado de Amigo Punk, da Graforreia Xilarmônica, a mais conhecida do País. E basta ir para uma festa com karaokê - qualquer festa, independente do tema -, e não vai demorar para que alguém se aventure nos versos pegajosos da canção, sem vergonha alguma de desafinar. É um verdadeiro Hino, adaptado para outros gêneros musicais - do pagode ao axé, passando pelo metal e até pelo rap (como fica claro já na sequência inicial, em que uma ótima montagem percorre os mais variados espaços onde a música é executada nos mais diversos estilos). Aliás, o karaokê em si é o ponto de partida dessa carismática comédia romântica dirigida por Pedro Antônio Paes. E que tem Evidências como elemento central.
Na trama, a médica Laura (Sandy, em excelente atuação) encontra por acaso o desenvolvedor de aplicativos Marco Antônio (Fábio Porchat, em uma entrega meio Fábio Porchat das ideias), em uma noite de festa. Ainda desconhecidos e, por uma enorme coincidência, solicitam ao mesmo tempo uma ficha para cantar no karaokê o clássico sertanejo. Claro que tudo não vai passar de uma desculpa para que Evidências se torne, como não poderia deixar de ser, a música de suas vidas. Especialmente depois de o casal se apaixonar, a despeito de suas diferenças - Marco Antônio é mais palhação, naquele estilo adolescente tardio que a gente vê em filmes do Adam Sandler, sempre com uma piadinha na ponta da língua, ao passo que Laura é mais centrada, a ponto de ter deixado meio de lado uma promissora carreira de cantora para se dedicar à medicina. Eles se gostam, óbvio. O tempo passa. Mas a coisa cansa. Desanda. E Laura resolve terminar com Marco Antônio por mensagem de celular, semanas antes do casamento, que já tinha data marcada.
Um salto temporal faz a história avançar um ano no tempo. Marco Antônio está bem no trabalho. Aliás, a frustração vivida no relacionamento faz ele criar um aplicativo que visa justamente facilitar a logística de casais que estão se separando. A rotina segue mais ou menos tranquila, entre cornetas matinais envolvendo a síndica do seu condomínio, Júlia (Evelyn Castro, que consegue ser naturalmente engraçada, o que é sempre um mérito), e o ideal de seguir em frente. Só que, em certo dia, o sujeito entra em um elevador em que o sistema de som - conectado a uma rádio popular - anuncia Evidências como a próxima canção a ser executada. Marco Antônio desmaia. E entra numa espécie de looping temporal em que ele volta no tempo para reviver algum acontecimento com a ex. E sempre será uma memória triste. Desconfortável. Em que ele não consegue enxergar com clareza os problemas. E o fato de Laura precisar lidar, muitas vezes, com a sua pior versão.
Ao cabo, essa curiosa mistura nacional de Feitiço do Tempo (1993), com Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) é a famosa história de segunda chance, que costuma costurar as comédias românticas. Há espaço para tentar novamente? A gente já viu milhares de vezes a mesma narrativa, mas o fato de ser uma obra brasileira, que ainda se utiliza da popularidade de Evidências para a criação de uma mescla de ficção científica com sátira romântica torna tudo absolutamente prazeroso. Porchat pode ser meio histriônico em alguns momentos, mas tem um ótimo timing pra comédia, isso é inegável - e são muitas as sequências aparentemente improvisadas que funcionam bem (especialmente as com Evelyn, sua parceira de Porta dos Fundos). Já Sandy tem aquele estilo corpóreo meio retraído, que forma um bom contraponto à expansividade de Marco Antônio. É óbvio que não vai mudar o mundo. Mas tem seu charme. E quando sobem os créditos, a gente nem percebe que o tempo passou. Assim como já se passaram 35 anos do lançamento de Evidências. Que segue sendo amada não apenas no Brasil. Mas no mundo. E nessa loucuuuura!
Nota: 7,0
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