terça-feira, 9 de abril de 2024

Pitaquinho Musical - Vampire Weekend (Only God Was Above Us)

Preciso ser honesto com vocês: toda vez que o Vampire Weekend anuncia um novo disco, eu penso que a coisa vai desandar. E não é que eu não confie no potencial e na capacidade de Ezra Koenig e companhia - talvez eles "só" sejam a melhor banda alternativa do mundo -, mas é que não deve ser fácil manter a qualidade do trabalho por tanto tempo. Especialmente quando se lançam obras-primas como Modern Vampires of the City (2013). Só que a banda parece não ter pressa. São poucos os álbuns no catálogo - tanto que o recém chegado Only God Was Above Us é apenas o quinto da carreira e chega depois de um hiato de cinco anos desde o harmonioso Father of the Bride (2019). E dando tempo ao tempo, o coletivo parece sempre entregar o seu melhor. Seja na sonoridade - estridente, amplificada, complexa mas agradável e sofisticada do ponto de vista instrumental -, ou nas letras alegóricas e profundas, que emergem de cenários domésticos e de dilemas mundanos para uma análise do todo.


 

Tomemos como exemplo o single Capricorn - seguramente uma das melhores canções do catálogo dos nova iorquinos. Os versos chegam a ser quase prosaicos a respeito do suposto absurdo que é simplesmente nascer no final do ano - no dia 30 ou 31 de dezembro -, já no limiar de um ano que está para iniciar (Capricórnio / O ano que você nasceu / Terminou rápido / E o próximo não foi o seu / Velho demais para morrer jovem / Jovem demais para viver sozinho), o que impossibilitaria uma experiência mais plena na conjunção com o ano nascido. E como se já não bastasse essa ruminação curiosa sobre passado e futuro, passagem do tempo e identidade ou a respeito da dicotomia entre juventude e maturidade, há ainda como base uma melodia esganiçada, sibilante, quase industrial, mas também delicada e que jamais se torna cansativa. Pianos que se espalham com graça (Hope), guitarrinhas adocicadas (Pravda), rockões modernos e pegajosos (Classical) que se alternam com instantes mais comedidos (Mary Boone), enfim, uma construção moderna, riquíssima e com uma fluidez própria. É álbum pra dar play repetidamente. E descobrir algo novo a cada nova audição.

Nota: 9,5


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